quarta-feira, 26 de julho de 2023

Beleza e harmonia — a essência da Vida

Precisamos do Belo para viver, para respirar, para nos sentirmos VIVOS. O ideal de vida foi, desde sempre, a busca do BOM e do BELO. Era o ideal da Paideia grega (a beleza, a bondade, a ética) , o ideal da Humanitas, o sentimento que faz do Homem um ser mais Humano, na sua relação, com o outro, com o mundo, com a natureza, consigo mesmo.

 

O artista reinventa a realidade, na busca desses ideais.

 

No passado dia 23 de Junho de 2023, o Papa Francisco recebeu na capela Sistina um grupo de artistas das mais variadas artes, comemorando os 50 anos da inauguração da colecção de Arte Moderna e Contemporânea dos Museus do Vaticano, um evento da responsabilidade do Dicastério e da Secção para a Cultura e a Educação, onde se destaca a importância do artista e da arte:

“A Secção para a Cultura promove e implementa as relações entre a Santa Sé e o mundo da cultura, enfrentando as múltiplas exigências daí emergentes e favorecendo especialmente o diálogo como instrumento imprescindível de sincero encontro, ... a fim de que os cultores das artes, das letras e das ciências, da tecnologia e do desporto saibam e sintam que são reconhecidos pela Igreja como pessoas ao serviço da busca sincera da verdade, do bem e da beleza.”

 

Nas palavras do Prefeito da referida secção, o Cardeal José Tolentino de Mendonça, "é preciso relançar a experiência da Igreja como amiga dos artistas, interessados nas questões que a vida contemporânea nos coloca (tanto as atuais, prementes de dramaticidade, quanto aquelas tão visionárias que apontam para novos futuros possíveis) e dispostos a desenvolver um diálogo mais rico e um crescimento da compreensão mútua".

 

Foram cerca de 200 os artistas, entre pintores, escultores, arquitectos, escritores, cantores, poetas, músicos, directores e actores de teatro, que  estiveram reunidos com o Sumo Pontífice.

Do discurso que o Papa então lhes dirigiu destacam-se alguns passos significativos:

 

— É verdade que, quando se trabalha na arte, as fronteiras diluem-se e os limites da experiência e da compreensão ampliam-se. Tudo parece mais aberto e disponível. Assim, adquire-se a espontaneidade da criança que imagina e a acuidade do vidente que apreende a realidade.

— Uma grande pensadora como Hannah Arendt afirma que é próprio do ser humano viver para

trazer novidade ao mundo. Esta é a dimensão de fecundidade do homem. Trazer novidade. Até na fecundidade natural, cada filho é uma novidade. Abrir e trazer novidade. Vós, artistas, realizais isto fazendo predominar a vossa originalidade.

— A criatividade do artista: não é suficiente olhar, é preciso sonhar! Nós, seres humanos, ansiamos por um mundo novo que não veremos completamente com os nossos olhos, mas que desejamos, procuramos e sonhamos.

— Portanto, vós, artistas tendes a capacidade de sonhar com novas versões do mundo. E isso é importante: novas versões do mundo. A capacidade de introduzir a novidade na história. Por isso,

Guardini dizia que vos assemelhais também aos videntes. Sois um pouco como os profetas. Sabeis ver as coisas em profundidade e à distância, como sentinelas que estreitam os olhos para perscrutar o horizonte e sondar a realidade para além das aparências.

— Porque o artista tem “ a capacidade de ir além, de ir além, na tensão entre a realidade e o sonho.”

— E muitas vezes fazeis isto com ironia, que é uma virtude maravilhosa. Duas virtudes que não cultivamos muito: o sentido de humor e a ironia, devemos cultivá-las em maior medida.

— Neste ser videntes, sentinelas, consciências críticas, sinto que sois aliados de muitos aspetos que me são queridos, como a defesa da vida humana, a justiça social, os últimos, o cuidado da casa comum, o sentir-nos todos irmãos. E...  a dimensão humana da humanidade.

— Muitas vezes vós, artistas, também procurais sondar o submundo da condição humana, os abismos, as partes obscuras. Não somos unicamente luz, e sois vós que no-lo recordais; mas temos necessidade de lançar a luz da esperança nas trevas do humano, do individualismo e da indiferença.

 

Ajudai-nos a vislumbrar a luz, a beleza que salva!

— A beleza faz-nos sentir que a vida se orienta para a plenitude.

 

— Mas creio que existe um critério importante a discernir, o da harmonia. Com efeito, a verdadeira beleza é reflexo da harmonia.

 

É necessário que o princípio da harmonia habite mais o nosso mundo, afastando a uniformidade.

 

Vós, artistas, podeis ajudar-nos a abrir espaço para o Espírito.

(tradução aqui)


 

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