quinta-feira, 20 de julho de 2023

COMO SER MILIONÁRIO

Por Eugénio Lisboa

As pessoas, de uma maneira geral, ficam deslumbradas com os grandes milionários, com os “empresários de sucesso”, que têm muitos carros, muitas casas, fazem viagens submarinas e estratosféricas, que custam milhões, e gostam de aparecer nos locais onde se gosta de aparecer. 

Mesmo os políticos provincianos não escondem o seu deslumbramento e subserviência, perante o prestígio do dinheiro. Presume-se que, para se chegar ao topo dessa pirâmide, é preciso ter uma inteligência fenomenal e uma genial capacidade de empreendimento.

Quando nos aproximamos, um bocadinho de mais perto, destas estátuas a haver, verificamos, com surpresa e quase desilusão, que não é desta massa que se fazem nem as grandes ideias nem as grandes descobertas. O principal ingrediente das grandes fortunas não é nem a inteligência nem uma intuição genial. 

Isso anda quotidianamente documentado, nas trafulhices destapadas pelo Ministério Público, fora as ainda não destapadas. Quem dispõe de bons advogados, de economistas espertos e de uma razoável falta de escrúpulos, faz bom caminho, mesmo com uma inteligência nada invulgar.

Dizia o grande dramaturgo irlandês, George Bernard Shaw, que não há fortunas honestas. E, de certo modo, isto é verdade. O rigor da honestidade raramente convida ao enriquecimento milionário. E, quanto a deslumbramento perante a inteligência de alguém, nunca se há de ver um espertalhão rico a congeminar uma teoria da relatividade ou uma lei da gravitação universal. 

E, se o ricaço fácil e muito aquém da verdadeira inteligência e todas as “glórias do momento” vão ser esquecidos pelo fluir inexorável do tempo, será talvez “o parvo dum poeta” ou “um geómetra maduro”, com augurava Pessoa, quem vai deixar rasto mais duradouro. 

Mas tenho más notícias para os grandes ricaços: nenhum deles passará pelo orifício de uma agulha, quanto mais entrar no reino dos céus. Disse-o o parvo de um profeta há mais de dois mil anos. 

Eugénio Lisboa

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