Por Marco Mendes
Imaginai-vos...
... numa grandiosa nação, na vanguarda do conhecimento e da inovação, com influência em inúmeros países em torno dela. Tendes, aparentemente, a melhor Educação, Saúde e Justiça. Sois conhecidos e venerados no mundo, por gentes que utilizam a vossa tecnologia, que lêem os vossos autores e filósofos. Viveis numa sociedade que aspira às estrelas e que na sua ambição faz por alcançá-las, ainda que chegue apenas a uma ínfima parte do Espaço. Uma nação com um passado recente atribulado, mas com um líder novo, que vos enche de esperança, ainda que o fedor a pólvora já se sinta…
A história não é propriamente um mistério, alguns pensaram na Alemanha nas décadas de 30 e 40 do século passado, outros na Rússia atual, etc. A realidade é que nem importa assim tanto o nome da terra, até porque, mudando-se pormenores (um partido ao invés de líder, comércio pelo Espaço, etc.), aplica-se a uma grande parte das civilizações.
O mistério reside em saber porque é que isto acontece?
Talvez a responsabilidade seja da escola, o excesso das disciplinas “úteis” e a falta das Artes, da História, da Filosofia, ou os docentes que se coíbem de ensinar. Talvez a responsabilidade seja desses aparelhos que se designam por telemóveis e do acesso que dão a coisas como o “Tik-Tok”... Não sei se devemos ir por este caminho, de identificar e responsabilizar...
Penso ser preferível procurar um antídoto, algo que contrarie a tendência tão humana, de empenhar as vidas de avós, filhos e netos em belicismos incompreensíveis. Acuse-se aquele que me indicar um antídoto melhor do que a leitura.
Será esta afirmação petulância de um leitor ainda iniciante mas insaciável? Talvez, mas pensai: se sombras e trevas, enviesamentos e mentiras, corrupções e disputas fazem parte dessa tendência, que nos é tão próxima, em que mais podemos confiar, senão no nosso pensar que a leitura ajuda a formar, no nosso espírito crítico que dela deriva, na nossa intuição que ela subtilmente organiza?
Estudo Educação...
... mas não me iludo com as potencialidades que ela, só por si, possa ter a estes níveis, até porque a vemos depauperada do “inútil”, daquilo que nos transporta para mundos diferentes do nosso, que nos interrogam, que nos desafiam a compreender.
Focados que estamos em "preparar os jovens para o mercado de trabalho" para que consigam, dizemos muito otimistas, "bem-estar" na vida, deixamo-los andar pelo ensino básico e secundário longe dos livros. Saem muitos da escolaridade obrigatória sem alguma vez terem lido sequer uma obra, das obrigatórias, recomendadas ou nomeadas por acaso. Como fazem, então, testes e exames? Leem "excertos" que os manuais reproduzem, e "resumos", que os há de todos os modelos e para todos os gostos. É isto que lhes damos, mesmo sendo educadores encartados.
Enquanto acontece mais uma chacina por terras da velha União Soviética, leio Dostóiesvki, Cholokhov, Tólstoi… E não posso deixar de conjeturar que alguma diferença faria se os grandes atores da política mundial tivessem lido e... compreendido!
No trigésimo primeiro dia de julho 2023,
Marco Mendes
Marco Mendes
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