segunda-feira, 31 de julho de 2023

Guerra e Leitura (Paz quiçá)

Por Marco Mendes 
Imaginai-vos...
... numa grandiosa nação, na vanguarda do conhecimento e da inovação, com influência em inúmeros países em torno dela. Tendes, aparentemente, a melhor Educação, Saúde e Justiça. Sois conhecidos e venerados no mundo, por gentes que utilizam a vossa tecnologia, que lêem os vossos autores e filósofos. Viveis numa sociedade que aspira às estrelas e que na sua ambição faz por alcançá-las, ainda que chegue apenas a uma ínfima parte do Espaço. Uma nação com um passado recente atribulado, mas com um líder novo, que vos enche de esperança, ainda que o fedor a pólvora já se sinta… 
A história não é propriamente um mistério, alguns pensaram na Alemanha nas décadas de 30 e 40 do século passado, outros na Rússia atual, etc. A realidade é que nem importa assim tanto o nome da terra, até porque, mudando-se pormenores (um partido ao invés de líder, comércio pelo Espaço, etc.), aplica-se a uma grande parte das civilizações. O mistério reside em saber porque é que isto acontece? 

Talvez a responsabilidade seja da escola, o excesso das disciplinas “úteis” e a falta das Artes, da História, da Filosofia, ou os docentes que se coíbem de ensinar. Talvez a responsabilidade seja desses aparelhos que se designam por telemóveis e do acesso que dão a coisas como o “Tik-Tok”... Não sei se devemos ir por este caminho, de identificar e responsabilizar...

Penso ser preferível procurar um antídoto, algo que contrarie a tendência tão humana, de empenhar as vidas de avós, filhos e netos em belicismos incompreensíveis. Acuse-se aquele que me indicar um antídoto melhor do que a leitura. 

Será esta afirmação petulância de um leitor ainda iniciante mas insaciável? Talvez, mas pensai: se sombras e trevas, enviesamentos e mentiras, corrupções e disputas fazem parte dessa tendência, que nos é tão próxima, em que mais podemos confiar, senão no nosso pensar que a leitura ajuda a formar, no nosso espírito crítico que dela deriva, na nossa intuição que ela subtilmente organiza? 

Estudo Educação...
... mas não me iludo com as potencialidades que ela, só por si, possa ter a estes níveis, até porque a vemos depauperada do “inútil”, daquilo que nos transporta para mundos diferentes do nosso, que nos interrogam, que nos desafiam a compreender.
Focados que estamos em "preparar os jovens para o mercado de trabalho" para que consigam, dizemos muito otimistas, "bem-estar" na vida, deixamo-los andar pelo ensino básico e secundário longe dos livros. Saem muitos da escolaridade obrigatória sem alguma vez terem lido sequer uma obra, das obrigatórias, recomendadas ou nomeadas por acaso. Como fazem, então, testes e exames? Leem "excertos" que os manuais reproduzem, e "resumos", que os há de todos os modelos e para todos os gostos. É isto que lhes damos, mesmo sendo educadores encartados.

Enquanto acontece mais uma chacina por terras da velha União Soviética, leio Dostóiesvki, Cholokhov, Tólstoi… E não posso deixar de conjeturar que alguma diferença faria se os grandes atores da política mundial tivessem lido e... compreendido!

No trigésimo primeiro dia de julho 2023,
Marco Mendes

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