quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Como será a escolaridade no futuro? Quatro cenários da OCDE (2021)

Na sua cruzada em prol de um sistema educativo global, cuja base são as competências funcionais, capazes de assegurar o sucesso académico, laboral e pessoal, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tem vindo a conceber e formalizar, nas últimas décadas, um "modelo de aprendizagem" ("aprendizagem" porque centrado no aluno). Trata-se, explica a OCDE, de uma co-construção por parceiros sociais distribuídos pelo mundo: líderes políticos, académicos e investigadores, alunos e famílias, professores e gestores/directores escolares, empresários, etc. 

Em tempos mais recentes, o modelo que tem a designação de Learning Compass 2030 (Bússola de Aprendizagem 2030) foi complementado com uma estrutura de apoio ao ensino: Teaching Framework  2030/ Estrutura de Ensino 2030. Apresentado em 2015, no documento Future of Education and Skills 2030, previa duas fases:
Na primeira fase, situada entre 2015 e 2019, a organização sistematizou as competências (entendidas como a articulação entre conhecimentos, aptidões, atitudes, valores) que dão corpo a um currículo supranacional comum; 
Na segunda fase, iniciada em 2019, a organização fixou o modo de estruturar "ambientes de aprendizagem" que permitam aos alunos atingir, ainda que de modo diferenciado, ao longo da escolaridade obrigatória, as competências previstas nesse currículo.
Agora, em Janeiro de 2021, a OCDE, aproveitando a pandemia - que conseguiu, em pouco tempo, uma dispersão no mundo ainda maior do que a sua -, vem dar mais um passo em direcção ao desígnio há muito traçado para a escola pública: a sua dissolução, com o afastamento dos professores. Separa-se, na escola do futuro, com o currículo do futuro, o que não pode ser separado: o ensino da aprendizagem.

Tirem os leitores as suas próprias conclusões depois de ver o brevíssimo filme  Como será a escolaridade no futuro? Quatro cenários da OCDE / What will schooling look like in the future? Four OECD scenarios. A tradução é de Ana Catarina Ventura, estudante de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra


"A pandemia Covid-19 lembrou-nos que o futuro gosta de nos surpreender. Para preparar o nosso sistema educativo para o futuro temos de considerar, não apenas as mudanças que parecem mais prováveis, mas também aquelas que não esperamos. Isto significa explorar múltiplos futuros. A OCDE imaginou quatro cenários diferentes para o futuro das nossas escolas: 
Cenário 1. E se os jovens continuarem, em maior número, em busca de uma educação formal? Num sistema com escolas robustas e salas de aulas modernizadas com tecnologia digital, onde se podem usar conjuntos de dados refinados capazes de melhorar o planeamento da educação e um ensino mais eficaz. 
Cenário 2. E se os pais e a comunidade local assumissem o papel central na educação de cidadãos? E se os alunos e as famílias pudessem escolher entre uma ampla gama de alternativas de provedores e plataformas, públicas e privadas, online e offline, nas escolas e em casa, em centros comunitários e no local de trabalho? 
Cenário 3. E se a escola pudesse tornar-se totalmente diferente? Os alunos tomavam as suas próprias iniciativas e definiam os seus objetivos em conjunto com os seus colegas e professores. Com mais experimentação e colaboração, além das salas de aula, a educação ocorreria numa vasta rede de espaços, envolvendo a comunidade. 
Cenário 4. E se não existissem mais escolas? A tecnologia dissolve os limites entre a educação, o trabalho e o lazer, possibilitando a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar, com base na curiosidade e na necessidade de conectar os alunos. 
Quatro futuros para a nossa educação. Qual é o futuro da escolaridade?”

7 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

É fundamental que, em qualquer cenário, sejam providenciadas condições de aprendizagem baseada em modelos realistas, que é o contrário daquilo em que tem sido baseado o sistema de ensino, em Portugal e não só. Um modelo realista não ignora as condições do aprendiz, nem as suas perspectivas (na perspectiva da sociedade), sejam económicas, culturais, psicológicas, físicas..., não ignora as condições da escola, nem ignora as condições da sociedade, de preferência, considerando que existe uma inclemente e imponderável pressão do (pseudo)mercado que pode deitar tudo a perder no último minuto dos descontos.
Parece que sempre existem uns mágicos que adoram provar aos outros a vantagem que tem para eles(mágicos) vê-los na montanha russa.

Anónimo disse...

Por muito que Sua Excelência, o senhor ministro da Educação, possa pensar o contrário, aquela escola de modelo napoleónico feita para formar cidadãos, baseada nas funções essenciais do professor, que ensina, e do pupilo, que aprende, já não existe!
Há poucas décadas atrás, um professor de Física estava integrado numa carreira profissional substancialmente diferente da carreira de educador de infância, mas hoje é tudo igual!. Com o meu saber de experiência feito no terreno, é com profunda tristeza que reconheço o cenário 4 da OCDE, qual seja a dissolução da escola real, onde se procurava ensinar e aprender, no vasto espaço virtual onde a par do conhecimento científico também se difundem, praticamente à velocidade da luz, as teorias da Terra plana ou as ideias dos movimentos anti-vacinação.
Na escola atual, cujos fins são planificar as aprendizagens, elaborar os critérios de avaliação e avaliar os alunos, expurgada que está de matérias que obriguem a pensar, a verdade confunde-se com a mentira!

Helena Damião disse...

Prezado Leitor Anónimo
A função do professor no Modelo Bússola de Aprendizagem é essa mesmo que refere: "planificar as aprendizagens, avaliar os alunos, expurgada que está de matérias que obriguem a pensar, a verdade confunde-se com a mentira!"
Se reparar, retirei da sua frase "elaborar os critérios de avaliação" porque esses critérios são dados aos professores, ele apenas os aplica.
Esta é a nova função do professor: ser um stakeholder de segunda ou terceira linha.
Cordialmente,
MHDamião

Anónimo disse...

Exatamente!
Os professores são obrigados a aplicar os tais "critérios de avaliação" porque "o sistema" desconfia que os professores, principalmente os formados na "velha escola" (universidades públicas), têm tendência a classificar com notas baixas os alunos que sabem pouco. Ora, a OCDE impõe notas altas para todos, no pressuposto de que são as classificações escolares, e não a sabedoria, que fazem o sucesso educativo e as sociedades ricas!
Os meus cumprimentos.

Carlos Ricardo Soares disse...

Quando me refiro a modelos realistas tenho em vista modelos sobre a realidade como ela é e não necessariamente como eu a vejo. Esta distinção é fundamental. Um dos pontos críticos de qualquer controlo de modelos e de metas de desempenho de uma organização, não é apenas a medição, que pode ser efectuada por qualquer sistema mecânico ou estatístico, é a avaliação do desempenho, ou dos resultados, que envolve muitas variáveis, entre as quais a razoabilidade e a sensatez das metas. Esta avaliação só pode ser feita por gente devidamente credenciada, que tenha, pelo menos, uma noção mínima das realidades. E isto, parece-me, ainda não foi construído. Em tempos, de má memória, aliás, andou-se a falar muito nas escolas de metas de desempenho e de avaliação de desempenho, mas era tudo por causa das progressões na carreira, que foi um dos modos mais perversos de falsear tudo, ainda antes de se chegar a perceber a relevância e o interesse dos modelos de avaliação dos sistemas e das organizações.

Rui Baptista disse...

As progressões na carreira docente foi um autêntico crime a cargo de um sindicalismo de esquerda que igualou desiguais em que, segundo Edmund Burke, "as leis mal feitas constituem a pior forma de tirania"!
Ou, como escreveu, Raymond Polin,"Iniciação, o Homem e o Estado": "Reivindicar direitos sem proclamar obrigações é querer o impossível é jogar às topias ou às catástrofes". A Fenprof e outros sindicatos tornaram o impossível possível!

Socorro, a minha mulher tem um blog disse...

Caro Rui,
o controle e a vontade de tudo controlar são apanágio tanto da esquerda como da direita. Não me parece que os sindicatos sejam responsáveis pelo atual sistema de avaliação docente e respetivas progressão na carreira.
Teresa

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