Comecemos por dizer que a palavra granito (termo que alude à textura granular da rocha) surgiu em Itália, em 1596, introduzida por Andrea Caesalpino (1519-1603), radica no latim granum, que significa grão.
Praticamente, não há quem, entre nós, não conheça o granito. Grande número de portugueses ainda dizem que é uma rocha formada por quartzo, feldspato e mica e a maioria dos nossos rapazes e raparigas saem da escola a saberem que é uma rocha magmática plutónica e um pouco mais, equipados com uma informação estereotipada e acrítica, simplesmente memorizada para vencerem a fasquia do exame final, fruto de um conjunto de deficiências que, desde sempre, venho denunciando.
Estou aqui a falar de granito “lato sensu”, isto é, no seu sentido mais amplo, ou seja, o conjunto das rochas afins do verdadeiro granito tal como os petrógrafos o definem (aquele em que o feldspato é essencialmente sódico (albite) ou potássico (ortóclase ou microclina)).
Com efeito, são várias as rochas a que o vulgo chama granito (pois que em amostra de mão e sem recurso a equipamentos adequados, como é, por exemplo o microscópio petrográfico) e que diferem do dito verdadeiro, em especial, na natureza mais cálcica dos feldspatos, aqui designados por plagióclases. Os petrógrafos chamam-lhe granitóides (semelhantes a granito) e entre eles deixo aqui para quem quiser saber, uma breve referência a dois deles.
O granodiorito diferente do granito apenas por ser mais pobre em silício, potássio e sódio, e mais rico em cálcio, ferro de magnésio. Assim, pode ter ou não feldspato potássico (microclina e/ou ortoclase), mas tem sempre uma plagióclase ligeiramente cálcica (oligóclase). Como minerais escuros (ferromagnesianos) contêm geralmente biotite e/ou horneblenda.
O quartzodiorito difere do granito porque contém menos quartzo (menos de 10%, contra os 20 a 40% do granito) e uma plagioclase um pouco mais cálcica (andesina). Como mineral escuro e horneblenda é mais frequente que a biotite.
Posto este esclarecimento, podemos dizer que o granito “lato sensu” é a rocha predominante na crosta continental, ou dito de outra maneira, na ossatura do substrato rochoso dos condimente (em oposição ao basalto “lato sensu” que assume essa predominância no substrato rochoso dos fundos oceânicos). Portugal continental não é excepção. Com efeito o granito abunda no nosso país, em especial, no Minho. Trás-os-Montes e nas Beiras tendo ainda larga reperentação no Alto Alentejo.
Citãnia de Briteiros |
São desta rocha as velhas muralhas, os muros e as paredes de pedra solta (em choças) de muitos castros e povoados surgidos por volta de 1200 anos a.C., com a penetração do território nacional pela civilização Celta, num período, grosso modo, coincidente com a Idade do Ferro. São desta época as frustes representações escultóricas em granito, conhecidas entre nós por “porcas”, como a Porca de Murça, abundantes no Norte do país. Da mesma rocha foi talhada a estátua do Basto, de Celorico de Basto, datada do século I a.C.
Durante os cerca de cinco séculos de ocupação romana, os hábeis arquitectos e construtores, aperfeiçoados nessa importante e vasta civilização, usaram o granito no levantamento de muralhas, empedramento de estradas, construção de pontes, talhe de cantarias urbanas que resistiram ao tempo, e que hoje, volvidos mais de dois mil anos se converteram em conhecidos pólos de atracção turística.
Igreja dos Clérigos - Porto |
Na Idade Média, muitos dos castelos árabes e das igrejas e catedrais românicas e góticas do Centro e Norte de Portugal tiveram no granito aparelhado, a pedra por excelência. Do mesmo modo, este foi a pedra de cantaria da construção civil urbana e rural, abundante e característica desta grande região do país.
Durante o Renascimento, o ponteiro e o cinzel de escultores continuaram a dar forma ao granito, sendo de destacar, como exemplo destas artes e deste tempo, a notável Igreja da Graça, em Évora, fundada em 1511, com projecto do arquitecto da Casa Real Miguel de Arruda. No Porto, a arquitectura religiosa, desde a Sé, da primeira metade do século XII, às igrejas barrocas, com destaque para a Igreja e Torre dos Clérigos, do arquitecto italiano Nicolau Nasoni (1691-1773), fez uso do granito, a rocha que constitui o subsolo local e que caracteriza a monumentalidade da capital do Norte.
A. Galopim de Carvalho
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