segunda-feira, 27 de abril de 2020

"Grândola Vila Morena" e "Bella Ciao"

“Liberdade se significa   alguma coisa, 
será sobretudo o direito de dizer às pessoas 
aquilo que elas não querem ouvir”
(George Orwell) 

Terminaram ontem as "Comemorações de 25 de Abril", mas está longe de terminada as polémicas extremistas que gerou. É natural, como nos diz o povo, com a sua sabedoria ancestral, "até ao lavar do cesto tudo é vindimas”. Vindimemos, portanto!

A nossa proverbial costela latina mais do que discutir quem ideias contrárias é insultar quem de nós discorda. E entre os que concordam e os que discordam criou- se uma cisão, uma espécie de “mare magnum” que separa as pessoas, ou mesmo as inimiza.

Em crítica desapaixonada, a unanimidade neste particular esteve longe de ser consensual. Haja em vista a lista de convidados para a cerimónia e que se de desconvidaram entretanto de “motu proprio”. Pior do que isso é considerar fascista aos que discordam destas festividades e comunista aos que concordam, criando uma espécie de nova cisão ente os blocos orientais e ocidentais do tempo da “Guerra Fria”, em que os próceres de Berlim Oriental quiseram fazer passar a imagem de que o muro de Berlim tinha sido construído para evitar que os habitantes do lado ocidental se passassem para o lado oriental.

Facto desmentido porque quando da sua destruição a camartelo os habitantes de Berlim oriental, em verdadeiro tsunami, impossível de suster, saltaram doidos de alegria para abraçarem os seus familiares ocidentais que a política tinha separado durante anos que tinham parecido séculos de vivência no deserto encontrando, finalmente, um oásis em Berlim Ocidental.

Embora, o número de mortos e infectados não pare de aumentar, ainda que lentamente, no passado dia 25 de Abril, festejou-se na Assembleia da República, não vá o povo ingrato esquecer a data dos cravos para uns e dos cravas que para outros. 

Nesse dia cantou-se às janelas e varandas “Grândola Vila Morena", uma canção que se quer impor ao povo como canção revolucionária do Minho, ao Algarve e ilhas da Madeira e Açores e não como uma simples senha dos capitães de Abril. 

Ao invés, tempos houve em que a nossa Epopeia Camoniana foi tida como fascista pelos suas estrofes iniciais: “Heróis do mar, nobre povo / Nação valente e imortal / Levantai hoje de novo / O esplendor de Portugal”. 

Nesse mesmo dia os italianos prescindiram de cerimónias oficiais, cantando o povo às janelas a belíssima e vibrante canção “Bella Ciaio” contra a opressão fascista de Mussolini. Itália uma península mediterrânica com um historiai milenar na estatuária, na pintura , nas Belas Letras, no Belo Canto, na indústria automóvel, etc. que se levantou dos escombros da II Guerra Mundial e da opressão fascista de Mussolini. 

Já é tempo dos portugueses, despidos de clivagens ideológicas ou simples tricas de comadres desavindas, darem as mãos para juntos e rapidamente reconstruirem um Portugal profundamente ferido nas suas estruturas económicas e sociais pela actual pandemia sem políticos da estripe do Marquês de Pombal, que não se divisam no horizonte nacional actual, que em esforço ingente reconstruiu a cidade ulissiponense em escombros pelo demolidor terremoto de 1755. 

E no meio disto tudo, que belíssima lição de patriotismo e civismo foi dada por aquele cidadão anónimo que desceu em 25 de Abril a Avenida da Liberdade lisboeta com uma gigantesca bandeira verde rubra nos braços sem a turba multa de manifestações partidárias, sob os holofotes da comunicação social, em que centenas de manifestantes, para fins estatísticos são anunciados,“urbi et orbi”, como sendo muito milhares. 

Já dizia Leite Pinto ministro da Educação de Salazar: “Há duas maneiras de mentir, uma é não dizer a verdade, outra fazer estatística!”

2 comentários:

Pancinha disse...

Outra é impor uma Censura (obviamente, devidamente orientada conforme o sentido pretendido) geral ao Pensamento, o que, independentemente da sua qualidade, torna difícil aferi-lo.

Ou seja, manipular a Estatística ...

Concordo que um dos graves problemas da Democracia é termos de trabalhar com o que temos no momento (o que nem sempre é bom ..., mas são as escolhas Votadas), e não com iluminados passados, como D. João I, D. João II, D. João IV, Marquês de Pombal, para não serem só Joões, mas é o que temos Vivo no momento.

Rui Baptista disse...

O facto de eu me ter referido ao Marquês de Pombal não se trata de saudosismo serôdio.

Sou velho mas não tão idoso que tenha vivido nessa época, mas porque, até à data, pelo andar da carruagem, não vejo no actual panorama nacional um homem ou mulher capazes de enfrentar esta epidemia, por dizerem hoje uma coisa e amanhã outra.

Os verdadeiros heróis, desacompanhados das indecisões de medidas a tomar, têm sido os médicos, os enfermeiros e pessoal auxiliar da saúde em doação total aos seus semelhantes com sacrifício das suas famílias. Bem hajam!

Outro facto que tem pesado negativamente neste tempo tem sido a confusão entre liberdade e libertinagem que se verifica, à sombra do anonimato, insultando vergonhosamente quem tem política diferente da sua com o jargão de populismo.

Ora populismo tanto exista da extrema esquerda à extrema direita para ganhar votos.

Sem sombra de lisonja tenho visto em sim uma pessoa que discorda sem insultar. Obrigado por isso!

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