domingo, 5 de abril de 2020

Modo como a universidade reagiu à pandemia

Aisha Ahmad, professora de “Ciência política” da Universidade de Toronto escreveu, na passada semana, um texto sobre o ensino superior e a investigação neste tempo de pandemia provocada pelo Covid-19 (ver aqui). Faço, abaixo, um breve resumo dele.

Na sua universidade, diz, o corpo docente reagiu à crise com um estranho sentido de normalidade: mudou, de imediato, a leccionação para o regime online e continuou a produzir o seus artigos. Percebe-se que espera, dentro em breve, o regresso à normalidade. Mas estão enganados: a pandemia vai demorar a passar. 

Mesmo que seja contida nos meses mais próximos, o seu legado acompanhar-nos-á durante anos, talvez décadas. E será impossível recomeçarmos as nossas vidas como se ela nunca tivesse acontecido: mudará a maneira como nos movimentamos, aprendemos e comunicamos. 

Assim, de momento, não faz qualquer sentido o frenesim com a leccionação ou a obsessão com a produtividade académica, ambas derivadas da negação e da ilusão. 

Recorrendo à sua experiência diz:
“trabalhei e vivi em situações de guerra, de conflitos violentos, de pobreza e desastres em vários lugares do mundo. Experimentei escassez de alimentos, surtos de doenças, isolamento social, movimento restrito e confinamento. Em condições físicas e psicológicas muito difíceis realizei investigação que acabou por ser premiada. Por isso partilho os seguintes pensamentos na esperança de que eles ajudem outros académicos"

Vejamos quais são eles:
1. Segurança. Os primeiros dias e semanas são marcados pela desorientação, precisamos de nos ajustar mentalmente. Na verdade, uma pessoa equilibrada não se sente bem numa crise global; estranho é que se mantenha a produção anterior, como se nada estivesse a acontecer. É preciso ignorar as pessoas que fazem questão de mostrar que estão a escrever muitos artigos e também as que reclamam não poder fazer isso. O melhor é redireccionar a atenção, mantendo conversas razoáveis com as pessoas próximas.  
2. Mudança. As pessoas conseguem estudar e trabalhar mesmo em condições extremas. Conseguiremos alcançar estabilidade e acabaremos por encontrar desafios exigentes.  Mas importa abandonar o que é performativo e imediato em favor do que é autêntico e relevante. 
3: Adoptar uma nova rotina. O nosso cérebro mantém-se criativo e resiliente, por isso, haverá um momento em que tudo parecerá mais normal, passando o trabalho a fazer sentido. Mas deve ser mantido em condições sustentáveis, a produtividade não pode ser desligada da serenidade. 
E finaliza dizendo: esta crise há-de terminar e voltaremos às salas de aula, mas, por agora, estamos no começo de uma pandemia que, com todas as contrariedades, pode ser uma óptima professora.

A análise de Aisha Ahmad vai muito além das fronteiras da sua universidade: implantado que está um modelo universal uniformizado de "prestação de contas" e de "obrigação de publicar", diria que a reacção inicial não podia deixar de ser a que foi (ou talvez pudesse...), mas não tem de ser a reacção final.

Sem comentários:

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...