Minha crónica no PÚBLICO de hoje:
Quando a 13 de Junho escrevi, nesta coluna do PÚBLICO, um artigo intitulado “O Discurso de Relvas”, referindo que Miguel Relvas tinha uma licenciatura tardia numa universidade privada, estava longe de pensar que se tratava de uma licenciatura largamente fictícia, por ter sido obtida à custa de aprovação imediata, sem justificação pormenorizada, em 32 das 36 cadeiras do curso. Fiquei verdadeiramente surpreendido. E, como eu, ficou mais gente. Uma universidade que se preze exige estudo sério e comprova os conhecimentos adquiridos pelos seus alunos através de exames. Ora tudo indica que o actual ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares pouco estudou e pouco mostrou para merecer o diploma que possui de licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais. Esteve longe de prestar provas que lhe tivessem abonado os necessários créditos, antes beneficiando de inexplicadas equivalências à esmagadora maioria das cadeiras. A Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias deu-lhe uma mão cheia de notas que, apesar de baixas (10 ou 11), têm toda a aparência de ser arbitrárias. Pelo menos não se vislumbra qual foi o critério na respectiva atribuição.
Impunham-se esclarecimentos. A Universidade Lusófona começou por dizer que havia quase uma centena de casos semelhantes, para depois um Administrador acabar por reconhecer que casos como o de Relvas só havia um, com a explicação de que “o doutor Relvas não tem um currículo qualquer”. Talvez esse responsável não tenha reparado que, com esta singela declaração, estava a admitir a existência de um tratamento excepcional, sendo lícita a interrogação sobre se esse tratamento não se terá ficado a dever a factores extra-académicos. Ficou na opinião pública a impressão de que é possível fazer-se um mini-curso à medida de uma determinada pessoa. Se Miguel Relvas resolver organizar uma reunião de curso, arrisca-se, como já circula no anedotário nacional, a ficar sozinho.
Esperar-se-ia que aquela universidade, logo após a notícia ter vindo a lume, tivesse tido uma atitude transparente, afastando as suspeitas que pairavam sobre um tratamento de favor. Mas teve uma atitude de encobrimento, como se tivesse algo a temer, só estando a recuar devido à pressão da opinião pública. Já mostra o que antes não mostrava. Mas os documentos revelados aos jornalistas durante meia-hora, se alguma coisa mostram, é a facilidade com que hoje é possível obter, nalguns sítios, um diploma universitário. As Novas Oportunidades, que o PSD tanto criticou no governo de José Sócrates, estão instaladas nalgumas escolas do ensino superior.
A comparação como caso da licenciatura de José Sócrates é inevitável, mas acaba por ser favorável a Sócrates. O ex-primeiro-ministro fez um bacharelato, estudando e fazendo exames, no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, antes de ter procurado e obtido, após cinco exames, uma licenciatura numa universidade privada com um famoso diploma emitido a um domingo. Em contraste, o ainda ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares não tinha praticamente estudos de nível superior antes de realizar os quatro exames finais. Apenas tinha feito com 10 uma cadeira de Direito do 1.º ano numa outra universidade privada: um percurso académico praticamente nulo.
O currículo político,de alguma extensão e relevância, dada a sua longa militância partidária, e o currículo, bem mais curto, de consultor de empresas terão deslumbrado o membros da Comissão Científica da Lusófona (seria interessante saber a votação que houve). Entre os documentos que a Universidade recebeu de Miguel Relvas e agora mostrou à opinião pública está, porém, um cuja apresentação o fragiliza: a certidão de tomada de posse como presidente da Assembleia Geral da Associação de Folclore da Região de Turismo dos Templários. Esta é, convenhamos, uma actividade meritória mas à qual dificilmente se poderão conceder créditos académicos.Devia ter ficado claro o que contou e como contou para as equivalências em cada uma das 32 cadeiras, em parecer assinado por professores credenciados. Mas não ficou. Ficou a impressão de que tudo foi feito sem rigor.
Miguel Relvas pode alegar, como fez no caso das pressões a jornalistas do PÚBLICO, que não houve nada de ilegal. Que telefonar zangado a uma jornalista não constitui nenhum crime. Assim como não é nenhum crime requerer, pagando, equivalências de cadeiras universitárias ao abrigo da Declaração de Bolonha. O problema não é, porém, de legalidade, mas sim de moralidade. Com que cara pode o governo pedir exigência no ensino se, dentro dele, se encontram casos de falta de exigência?Como pode ele pedir aos estudantes que se empenhem nos seus estudos se, pelos vistos, bastará pedir equivalências, apresentando certificados folclóricos?
ERRATA: Emendei no 2.º parágrafo de "quase duas centenas" para "quase uma centena". De facto, foram reconhecidos 89 casos.
ERRATA: Emendei no 2.º parágrafo de "quase duas centenas" para "quase uma centena". De facto, foram reconhecidos 89 casos.
13 comentários:
Esta fronteira entre a legalidade e a moralidade é fruto de um pensamento legislativo feito com bolsas e alçapões que permitem a muitos dar a volta à lei, sem se tornar fora-da-lei.
Não consegui ficar surpreendido. Nem mesmo depois da esforçada (ou
forçada?) cobertura televisiva do Professor Doutor Marcelo Rebelo
de Sousa. Que foi muito imprudente, particularmente se comparada
com a denúncia repetida de que terá havido batota(s) no exame de
português do ensino secundário cujas "notas" saíram anteontem;
ignorando o esclarecimento que havia sido dado pelo senhor ministro
da educação a um telejornal, de que a inspeção foi oportunamente
mandada averiguar...
No nosso ensino, incluindo o ensino superior, há muitos aspetos em
que o rei não vai apenas nu, está miseravelmente descomposto. E o
povo olha e vê, e sabe, mesmo sem conhecer (e entender) os
pormenores mais intrincados...
O senhor (não dr) Relvas perceberá a situação?, mesmo com os
"desenhos" que os portugueses lhe estão a fazer?, ou precisará de
mais explicações?...
E para quando o fim de todas as "universidades independentófonas" e
equivalentes?
Para além de toda esta saga há que ter em atenção que nas habilitações de Miguel Relvas preenchidas na ficha da Assembleia da República consta frequência do 2.º ano da licenciatura em Direito, lapso de que se penitenciou duas vezes: como tal tratou-se de um (re)lapso. De mal o menos,por este rebate de consciência tardio (mais vale tarde do que nunca) não lhe foi atribuído o mestrado em Ciência Políticas e Relações Internacionais... apenas a licenciatura1
Toda esta saga é caricata e envergonha um povo que tem leis que permitem criação de universidades cuja responsabilidade não é averiguada ou monitorizada, passando licenciaturas-fantoche a indivíduos oportunistas. Esta Lusófona, só pelo facto Relvas, deveria pura e simplesmente ser extinta. O castigo serviria de exemplo. Mas quem do Poder tem coragem neste país para dar um murro na mesa?
Brinquemos: seguindo o exemplo de Relvas, espero ver todos os "patos bravos" deste país - mestres em construção de edifícios - correrem à Lusófona para obterem o título de engenheiro, com equivalência a todas as cadeiras!!!
caso típico de
MERitocracia - à bon entendeur...
Estas são as chamadas as MESMO GRANDES OPORTUNIDADES ....... mas a culpa não é dele , culpa é destas brincadeiras que se passam nas universidades e ele não é caso unico , agora é a logica do aluno paga lógo é servido. Acho que já é altura que algumas universidades deveriam ser investigadas porque estão abertas para venderem habilitações e dar emprego a alguns professores.
Não há dúvida que o percurso académico de Relvas é ainda mais pobre do que o de Sócrates. É, no mínimo, ridícula.
Mas, no caso de Relvas, parece não ter havido "ilegalidades", nem Relvas terá beneficiado da licenciatura para além da vaidade.
Já no acso de Sócrates parece ter havido actos ilegais. Falsificação de documentos (2 cópias do certificado de habilitações na AR, uma delas rasurada; tendo desaparecido o original - inaceitável). Diploma também aparentemente falsificado (a data não está de acordo com o número de telefone, que é posterior à alteração da numeração regional). E foi com este dimploma que, aparentemente, passou a técnico superior na Câmara Municipal da Covilhã.
O mais garve é o MP não se ter preocupado em investigar devidamente estes casos de Sócrates, esclarecendo se os "aparentemente" poderiam mesmo ser confirmados.
Tem razão o Anónimo das 18:35.
O problema com estes delitos morais, mesmo que não ilegais, é que lançam suspeitas sobre o carácter do praticante, abrindo caminho a que nos interroguemos sobre até onde ele será capaz de ir na aldrabice ou na desonestidade. Com Sócrates, viu-se: a questão do diploma é apenas um entre vários episódios mal esclarecidos que envolvem o seu nome em procedimentos dúbios. Neste momento o que sabemos de Relvas aparentemente só fere a moral, mas é suficiente para minar a sua respeitabilidade como homem de estado. E neste aspecto o caso de Sócrates não é diferente. É verdade que "fez" mais cadeiras, mas não sejamos avaros: as peripécias (chamemos-lhes assim) da conclusão da licenciatura dão equivalência ao chico-espertismo de Relvas.
sócrates apresentou como "exame" de inglês técnico aquela folhinha ridícula enviada por fax, os 4 exames feitos pelo tal prof-amigo estão onde? o trabalho final de curso que ele nem sabia ter feito está onde? e as trapalhadas idênticas no bacharelato no isec?
Usar o relvas para legitimar sócrates (o pinóquio do freeport!) é de uma falta de vergonha na cara fantástica, são servicinhos desses a gentalha como as essas duas figurinhas que fazem deste país a choldra em que ele está tornado.
Lê o livro abaixo
http://www.lulu.com/shop/ant%C3%B3nio-balbino-caldeira/o-dossi%C3%AA-s%C3%B3crates-2%C2%AA-edi%C3%A7%C3%A3o/paperback/product-5540633.html;jsessionid=859261D15D6B90E082782E420947208E
ficas entretido enquanto esperas o retorno pelo "jeitinho".
Mas, há muito que a Universidade PÚBLICA portuguesa se envolveu nos Doutoramentos do ensino politécnico PÚBLICO.
Como é exemplo, o Doutoramento em Ciências do Desporto, da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, em parceria com a Universidade da Madeira, constante da oferta educativa anunciada na página 5 do Caderno de Ensino, da edição de 3.7.2008, do jornal “O Mirante”. Desta feita, nesta fonte, este Instituto Politécnico anuncia, em parceria com a Universidade de Leida, Doutoramento em Educação na Escola Superior de Educação de Santarém.
Enfim, é a FOLGOZA.
O entusiasmo, orgulho e apoio que a Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, suscita ao Sr. Ministro da Educação, Prof. Nuno Crato, é partilhado por sucessivos titulares do Ministério com a Tutela do Ensino Superior, nomeadamente, pela Sr.ª Prof.ª Maria da Graça Carvalho, titular da pasta do Ensino Superior nos XV e XVI Governos Constitucionais, como resulta da vibrante intervenção da mesma Senhora, no dia 24 de Maio de 2013, na inauguração das instalações da Escola Superior de Desporto de Rio Maior:
http://www.gracacarvalho.eu/xms/files/ACTIVIDADE_EM_PORTUGAL/OUTRAS_ACTIVIDADES/2013/5_24-05-2013_IP_Santarem/Speech_final_site.pdf
Enfim, é a FOLGOZA.
Num ensino superior politécnico público que já anunciava doutoramentos, em parcerias com universidades, o panorama da habilitação dos seus docentes é elucidativo, pelo menos, segundo dados divulgados pela Direcção-Geral do Ensino Superior, “Análise de todos os Docentes em 2008 por Categoria”, INDEZ2008, reportados a 31 de Dezembro de 2008, num universo de 8.181 docentes, no ensino superior politécnico, 35 tinham habilitação ignorada e os demais a seguinte habilitação: - 49 décimo segundo ano ou menos; - 30 Curso de Especialização Tecnológica; - 111 Bacharelato; - 2.796 Licenciatura; - 73 Pós-Graduação; - 3.602 Mestrado; - 1.485 Doutoramento.
Segundo dados da mesma Direcção-Geral, o REBIDES, no ano lectivo 2011/12, no ensino superior politécnico público num universo de 10.284 docentes, 104 têm habilitação não especificada, e os demais a seguinte habilitação: - 66 Bacharelato; - 3. 390 Licenciatura; - 4.255 Mestrado; - 2. 496 Doutoramento.
Ou seja, mais de 75% dos docentes do ensino superior politécnico público nem sequer são doutorados.
Acresce que, de 31.12.2008 até ao ano lectivo 2011/12, o nº de docentes do ensino superior politécnico público aumentou cerca de 26%.
Não obstante, ser sabido que o n.º de alunos no ensino superior politécnico há muito que tem vindo a decrescer…
A menor qualificação académica dos docentes do ensino politécnico público - em que mais de 75% dos docentes não são doutorados – mas que auferem remunerações equivalentes às dos docentes universitários, independentemente do grau académico de que sejam titulares, ou mesmo de serem titulares de um grau académico – radica no facto de no ensino superior politécnico público não ser necessário que sejam mais qualificados academicamente para ministrarem a sua oferta educativa de Licenciaturas, Mestrados e Doutoramentos.
Ainda que alguns Mestrados – e os Doutoramentos – sejam omissos da oferta educativa divulgada no site da Direcção-Geral de Ensino Superior.
Enfim, é a FOLGOZA.
E o que dizer das despesas do ensino superior politécnico público tais como, a celebração do aniversário de uma Escola, integrada no Instituto Politécnico de Santarém, com um cruzeiro na barragem do Castelo do Bode, com almoço a bordo e transferes em autocarro ao cais de embarque, para docentes, funcionários e convidados, noticiada pelo jornal “O Mirante”, na sua edição de 18.12.2008, pág. 33, em artigo intitulado “Aniversário da Escola de Gestão celebrado em tom de discórdia”, e pelo Diário de Notícias, na sua edição de 19.12.2008, pág.13, em artigo intitulado “Um passeio à conta dos contribuintes”.
Despesas estas, que não suscitaram um reparo por banda dos órgãos do Estado.
Para os que, como eu, atribuem valor ao simbólico, a subsequente nomeação da Sr.ª Presidente do Instituto Politécnico, pelo Sr. Presidente da República, para a Comissão de Honra das Comemorações do 10 de Junho de 2009, na Cidade de Santarém, teve um significado político. Ademais, conforme noticiado, a Sr.ª Presidente do Instituto Politécnico também desfrutou deste cruzeiro idílico…
Enfim, é a FOLGOZA.
Enviar um comentário