quinta-feira, 12 de julho de 2012

Uma caixa de Pandora

Não fiquei por-aí-além surpreendida com o facto de um ministro português ter obtido o grau de licenciatura pelo processo de reconhecimento, validação e certificação de competências. Era de esperar que, mais cedo ou mais tarde, fosse notícia alguém famoso ser assim credenciado.
Surpreendida fiquei eu quando, aqui há uns anos, descobri que a “história de vida” e as “competências profissionais” poderiam dar equivalência a diploma de final de Ensino Básico. E, passados mais uns tempos, que podiam dar equivalência a diploma de Ensino Secundário. E, passados mais uns tempos, que podiam dar equivalência a diploma de Ensino Superior. E, neste evoluir, ver gente bem pensante a achar tudo muito bem, que, sim senhor, que não é só a instituição escolar que detém o saber, que a vida e o trabalho também são escolas… Pois!

Ao confundirem-se estes três percursos – pessoal, profissional e académico – e ao fazer equivaler os dois primeiros ao terceiro abriu-se uma caixa de Pandora que dificilmente se poderá fechar, até porque não há quem queira ou tenha coragem de fechá-la.

De maneira que muitos mais casos virão a público: serão casos de licenciaturas, mestrados e (quem sabe?) doutoramentos. Mas, por cada um que virá a público haverá dezenas ou centenas que se manterão tão discretos que nem se dará por eles.

9 comentários:

Graça Sampaio disse...

Valha-nos Deus, minha senhora!!!

José Batista da Ascenção disse...

Parece-me muito bem visto, sim, Senhora Professora Helena Damião.

Eu cá, humildemente, sempre pensei: como é que

a escola certifica as competências que não são

da sua competência ou em que é... incompetente?

E se isso é possível e legítimo, por que não

tornar também possível e legítima a inversa:

qualquer entidade ou instituição profissional,

cultural ou social reconhecer competências

escolares, mesmo sem capacidade para o fazer?

E quando todos tiverem arcas cheias de

diplomas, para que (lhes) servem esses

diplomas?

Ressalvo, porém, as situações em que

honorificamente se gradua alguém, como

acontece nas universidades, ou em que qualquer

personalidade extraordinária é convidada por

uma escola ou instituição a expôr ou ensinar

aquilo em que é tão boa ou melhor que qualquer

diplomado oficial.

Como sempre se fez. E bem.

Armando Inocentes disse...

Fantástico! Só uma Pedagoga diria em tão pouco algo com tanto significado.
Os meus parabéns!
Atrevo-me a dizer que só faltou acabar afirmando que "estamos em Portugal"!

Os meus cumprimentos.

Maria Nazaré de Souza Oliveira disse...

Boa noite, Senhora Professora Helena Damião!

Sim, tudo isto é de uma enorme tristeza, deceção, falta de rigor, de justiça e até de Ética.

Se me permite, um artigo de opinião que publiquei sobre este caso:
http://suricatina.blogspot.pt/2012/07/professores-de-miguel-relvas.html

Um abraço para essa equipa fantástica do DE RERUM NATURA que me acompanha diariamente e que, há muito, faz parte dos "meus dias".

Eduardo S. disse...

Eu cá acho que nem sequer os doutoramentos "honoris causa" deviam ser "dados", que se desse uma medalha ou coisa do género, isso ainda se aceitava.
Concordo plenamente com o grande Richard Feynman, uma das maiores figuras da ciência do séc. XX (e de qualquer outro século) e um dos maiores físicos de sempre, que NUNCA aceitou nenhum dos doutoramentos "honoris causa" que lhe quiseram oferecer, porque trabalhou muito para ter o seu e não suportava que lhe dessem um a ele (ou a outro qualquer) sem que nenhum esforço tivesse sido feito para o merecer.

Marta disse...

Há equivalências e equivalências!
Sou licenciada em Biologia e professora do ensino secundário há 25 anos do grupo disciplinar de Biologia e Geologia.
Concorri ao mestrado em ensino da Biologia e Geologia da Universidade da Madeira convencida que os meus 5 anos de licenciatura iriam ter equivalência aos 3 anos das atuais licenciaturas e que como tal, teria acesso ao mestrado.
Qual não foi o meu espanto quando soube que não tinha equivalência, e que teria de fazer mais cadeira de geologia para ter acesso ao mestrado. Relembro que na atualidade é necessário este mestrado para lecionar a disciplina de Biologia e Geologia, coisa que, como atrás referi, já faço há muito tempo. Concorri porque achei que ao fazer as cadeiras de mestrado poderia me atualizar (pois em ciências rapidamente estamos desatualizados) e porque na altura, atendendo ao tipo de avaliação em vigor na Região Autónoma da Madeira, teria melhor avaliação profissional com o mestrado.
Há equivalências e equivalências!

José Batista da Ascenção disse...

Caríssima Colega Marta (Cunha?)

Há realmente equivalências e coisas que algumas (pseudo-)universidades fazem equivaler a equivalências.

Claro que as universidades públicas não devem impedir processos de equivalências que se justificam, por pertinentes e lógicos...

Mas vale a pena serem prudentes e exigentes. Se querem manter ou conquistar a desejável respeitabilidade.

Os meus cumprimentos.

Marta disse...

Relativamente à situação que acima narrei, gostaria de acrescentar que ela não acontece para todos os docentes de todos os grupos disciplinares; por exemplo para o grupo disciplinar de Matemática, os colegas que tal como eu concorreram ao mestrado em ensino da Matemática, foi-lhe dada a equivalência à licenciatura e a várias cadeiras do mestrado ficando apenas por fazer a tese e duas cadeiras. A carreira docente é a mesma, mas a discrepância das equivalências deve-se, ao facto de se considerar que os docentes de Matemática lecionam uma só “área”, a Matemática, enquanto os docentes de Biologia e Geologia lecionam duas “áreas”, a Biologia e a Geologia. Esta diferença de tratamento é muito discutível.

Ao colega José Batista, o meu agradecimento pela atenção dedicada ao meu comentário.

José Batista da Ascenção disse...

Concordo inteiramente consigo, Marta.

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