sexta-feira, 27 de julho de 2012

Um plano nacional para ensino da Informática


Texto recebido de Armando Vieira, físico e empresário:

O sector das tecnologias da informação está a fervilhar e a revolucionar o mundo. Numa economia deprimida, milhares de vagas no sector da informática estão por preencher, por falta de candidatos, em Portugal e por quase todo o mundo. O sector da tecnologia deve crescer muito acima de todos os outros até 2020 e com salários muito competitivos.

Se a tecnologia é o futuro, a escola está a fazer um trabalho lamentável na preparação dos jovens. Apesar da alta empregabilidade, o número de licenciados em informática não tem acompanhado a procura, e este, está longe de ser o curso mais desejado pelos alunos.

Pior, a nível do ensino secundário, praticamente não existe formação nesta área, e quando existe, basta um olhar de relance para perceber que os conteúdos rotulados de “ciência da computação” ou TIC, não mudaram nos últimos 10 anos. A maioria limita-se a aprender a usar o Microsoft Word e o PowerPoint.

Resultado? A maior parte dos alunos acaba o ensino secundário sem nunca ter aprendido conceitos básicos de programação ou de redes de computadores. Pior, adquirem ideias preconceituosas, quase todas falsas, sobre o mundo da informática: que é só para geeks, que é muito complicado, que é aborrecido… Na verdade, a informática é talvez das áreas mais criativas, abertas e ricas (em todos os sentidos da palavra) de se explorar.

A Informática oferece várias vantagens em relação, por exemplo, à matemática. Os alunos recebem um feedback imediato do seu esforço e normalmente ficam empolgados com o que conseguem fazer. Basta aprender uns comandos de HTML e já podem apresentar uma página web ao mundo.

A Informática não é considerada uma competência nuclear como a matemática ou as ciências, mas sim opcional e muitas vezes marginalizada. Porque não é a Informática uma competência nuclear nos curricula do ensino secundário? Porque não ensinamos os nossos jovens a programar e expressar a sua criatividade através da infinita gama de linguagens e plataformas disponíveis? Em Silicon Valley milhares de startups estão a reinventar o mundo e a tecnologia graças às possibilidades da informática e a investimentos agressivos de investidores privados. Porque não podemos fazer o mesmo em Portugal e apostar fortemente nas competências informáticas?

Talvez o maior problema seja o de encontrar professores qualificados e certificados. Mas não é uma tarefa impossível se for lançado um plano ambicioso e competitivo para formar e cativar esses talentos. Israel conhecida como a nação Start-Up tem a maior densidade de startups tecnológicas do mundo. Na década de 90 o governo lançou um ambicioso plano para por a informática em pé de igualdade com outras áreas nucleares. Resultado, o número de estudantes do ensino secundário que aprenderam a programar é praticamente o mesmo dos que estudaram física.

Mas lançar um plano ambicioso de ensino da informática não é sinónimo de povoar a sala de aulas com “Magalhães” ligados à Internet. Se este hardware não for complementado com programas curriculares rigorosos e bem estruturados a seu efeito pode ser mais noviço que benéfico.

Está na hora de lançar um audacioso plano de aprendizagem de informática nas escolas secundárias de forma a motivar e preparar os alunos para o futuro e não para o passado. Paralelamente, reforçar o número de vagas no ensino superior e profissional para satisfazer a procura do mercado de trabalho. Finalmente, será necessário incentivar que muitos licenciados, sem competências especializadas em informática, possam realizar algum tipo de reconversão rápida e possam aprender algo que possa fazer a diferença na altura de procurar emprego. Estamos a perder oportunidades únicas e não nos podemos dar ao luxo de o fazer.

Armando Vieira

4 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Tenho um filho que terminou este ano o décimo

segundo ano e está muito indeciso sobre o

curso que há-de seguir. Há vários de que supõe

gostar mais e outros para que não se inclina.

Uma das possibilidades que admite é

"engenharia informática" como também admite

"economia" ou "medicina", esta com menos

entusiasmo, suponho. Esperando pela sua

decisão sugeri-lhe há dias a leitura do livro

"sinto muito" de Nuno Lobo Antunes. Vou agora

recomendar-lhe a leitura deste "post".

Atrevo-me a pedir uma opinião ao autor, que

antecipadamente lhe agradeço, embora admita

que não possa ou não entenda conveniente

dá-la: Na condição de empresário que

procurasse "engenheiros informáticos", qual a

instituição universitária portuguesa em que

preferiria recrutar jovens solidamente

formados?

Muito obrigado.

PS: este pedido de opinião não é (nem autoriza

que alguém o interprete como) uma provocação.

Joaquim Duarte disse...

O dedo foi colocado na ferida, mas em Portugal esta situação não mudará tão cedo. Somos um país de poetas e continuamos a discutir a melhor forma de preservar tão relevante facto em plena revolução tecnológica...

João disse...

Subscrevo Armando Vieira!

Filipe Mendes disse...

Um post para o MEC!
Se não for mais, uma das formas de ajudar os alunos a evoluir na matemática é através da programação. Só este argumento seria mais do que suficiente para se investir nesta área, o outro, sem dúvida, o mais forte de todos: se o mercado pede, porque andamos nós em contra-ciclo?????

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...