Minha crónica de hoje no "Sol":
A impropriamente
chamada “partícula de Deus”, cuja descoberta foi anunciada pelo CERN – Centro
Europeu para a Pesquisa Nuclear –, na Suíça, não é a última peça da física de
partículas, mas é uma peça importante. Era procurada, de uma maneira ou de
outra, há cerca de meio século. Falta agora provar que o sinal encontrado
corresponde, de facto, à partícula que o físico britânico Peter Higgs previu e
que é responsável pela massa das partículas materiais. E falta agora determinar
as suas propriedades. É como se tivéssemos uma suspeita para interrogar: "Quem é a senhora? De onde vem? O que faz? É
ou não a responsável pela massa das partículas?” Se for mesmo a partícula particular
que se procurava, o chamado “modelo padrão” da física de partículas ganhará
alento. Mas pode também ser que ela esteja “inocente”. Ou que seja “culpada”,
mas não sozinha, isto é, que haja outras partículas de Higgs.
Depois do cerrado
interrogatório, estará à vista o fim da física? Não, de modo nenhum. A física
tem muitas peças por encaixar. Aliás, em ciência quando se responde a uma
pergunta surgem logo várias outras. Persistindo alguns problemas conceptuais no
modelo padrão, que se baseia no conceito de simetria, muitos físicos estão
desejosos que ele falhe para se lançarem em alternativas mais elegantes.
O nosso
conhecimento recente sobre as partículas elementares e as forças fundamentais
exercidas entre elas esclarece como era o Cosmos no início, após o Big Bang. A partir da energia surgiram
as partículas com diferentes massas: electrões, quarks e neutrinos. Mais tarde
estas começaram a agrupar-se devido às forças: os quarks em protões e neutrões,
os protões e neutrões em núcleos e os núcleos com os electrões para formar
átomos. Sabemos de ciência certa que houve um início do mundo e sabemos que
houve uma expansão do espaço com organização progressiva da matéria. Mas
persistem grandes interrogações. Como foi mesmo o início? Por outro lado, os
astrofísicos encontraram matéria escura e energia escura por todo o lado, que,
como os próprios nomes indicam, são, por enquanto, desconhecidas. O mais
perturbador é o facto de essa matéria e energia escuras formarem aparentemente
96 por cento do Cosmos. Talvez o Higgs nos forneça uma pista...
3 comentários:
"A impropriamente chamada “partícula de Deus”, cuja descoberta foi anunciada pelo CERN "
O que foi anunciado foi a descoberta de UMA partícula que nem sequer se sabe com sufuciente exactidão se é um bosão muito menos "o" bosão de higgs (existem muitas variantes).
Esta afirmação é tremendamente enganadora.
O cosmos a milhões de anos luz.
Uma peculiaridade que achei bastante interessante com a divulgação desta notícia foi a quantidade de "partilhas" da mesma pelos utilizadores do Facebook, pelo menos, no meu círculo de amigos e conhecidos. A maioria ou todos este webnautas nem sabe o que é o bosão de Higgs! Eu, um completo leigo comparado com o físico e professor Carlos Fiolhais, que muito admiro, admito que não sabia o papel desta partícula até à publicação da descoberta feita pelo CERN. No entanto, procurei saber, ao contrário de alguns, desculpem-me o termo, intelectuais de meia-tigela. Isto demonstra a presunção de alguns portugueses que, ao publicar em redes sociais artigos de carisma científico, pensam que se tornam mais "eruditos". A carapuça sai a quem lhe serve.
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