sábado, 17 de março de 2012

"Um Governo que desiste dos portugueses" e os Centros de Novas Oportunidades


“Não há meias verdades” (George Bernanos, 1888-1948).

Por via da urgente e necessária avaliação posta, em boa hora, em marcha pelo Ministro da Educação, Nuno Crato, voltam os Centros de Novas Oportunidades (CNO) a estar nas bocas do mundo e nas páginas da imprensa. Três exemplos, colhidos um num jornal nacional e dois outros num mesmo jornal regional, disso dão conta. Assim:

Segundo o Público (12/02/2012), aquando da cerimónia de encerramento do Fórum Nacional Novas Oportunidades, em Torres Vedras, António José Seguro, líder do Partido Socialista, numa espécie de requiem pelo encerramento de CNO, tecia críticas em tom panfletário: “Isto não é sério, é uma opção ideológica, este Governo desistiu dos portugueses" (o bold é da minha responsabilidade por servir de título a este post, tornando-o apelativo ou mesmo provocatório, a exemplo da respectiva fonte). E logo sublinhava este político: “Um país como o nosso, com fraco crescimentoeconómico, necessita de um plano de qualificação de trabalhadores e empresários que aumente a produtividade das empresas”. Valha-nos Santa Engrácia: anda a nação portuguesa em palpos de aranha sem solução para o seu “fraco crescimento económico” quando a solução está mesmo à mão de semear com as Novas Oportunidades!

O secretário-geral do PS evocou, ainda, que cerca de 1,2 milhões de portugueses, dos quais 400 mil com certificados, foram protagonistas das Novas Oportunidades, criticando que “perante este êxito, o Governo do PSD/CDS esteja a combater este programa e a retirar oportunidade aos portugueses para se qualificarem, quando a qualificação é uma forma importante de valorização da cidadania”. Ameaçou, ainda, ele que “o PS lutará para que o Governo arrepie caminho” com o argumento de que “a nossa aposta [do Partido Socialista, pois claro!] na educação tem a ver com os valores da liberdade e da igualdade”. Mas que liberdade e igualdade? Aquela que Ramalho considerava ser a liberdade e a igualdade do medíocre?

De todo este discurso eleitoralista fora de tempo e à margem do contexto (será que António José Seguro acredita que “candeia que vai à frente alumia duas vezes?”), só me espanta, pelo facilitismo de que se reveste, o escasso número de certificações das Novas Oportunidades numa obra tão meritória, parafraseando-o, "de valorização de cidadania". Sendo assim, não seria mais rápido e menos oneroso para o erário público entregar a distribuição destes certificados às Lojas do Cidadão, espalhadas pelo país, a troco de uma determinada quantia e preenchimento de um pequeno formulário?

Passado escassíssimo tempo, agora no Diário de Coimbra (14/03/2012), dei conta de um testemunho, bem mais cordato na argumentação, apresentada por quem viveu de perto a experiência dos CNO. Refiro-me a Cristina Borges, coordenadora do CNO da Escola Secundária de Oliveira do Hospital. Para o seu encerramento, como ela própria diz, "a sentença está ditada”, apesar de, ainda segundo ela, “acreditar nas virtudes deste projecto que assentava no reconhecimento e revalidação de competências”. Todavia, Cristina Borges não deixa, por outro lado, em atitude louvável, de reconhecer que, “a determinada altura, a tutela viu aqui uma bandeira para aumentar os números de escolarização”. Desse testemunho, com o subtítulo “Primar pela qualidade”, transcrevo:

“Contrariamente a muitos Centros, Cristina Borges garante, ainda, que o CNO de Oliveira de Hospital sempre ‘primou pela qualidade’ , mesmo que essa opção, muitas vezes, tivesse custado caro, pois ‘perdemos formandos por causa da cultura de exigência que tentámos imprimir'. ‘Tentámos sempre credibilizar ao máximo o projecto e não trabalhar apenas para as estatísticas e para as taxas de sucesso’, garante acoordenadora, crítica em relação ao número ‘exagerado’ de centros e à imagem de ‘facilitismo’ com que foram rotulados”. E mais adiante: "Foi um processo que nasceu com boas intenções [mas não é verdade que de boas intenções está o inferno cheio?], mas houve alguma publicidade negativa de que era tudo fácil, tudo simples, constata a professora responsável pelo CNO de Oliveira, não deixando de lamentar que todo o trabalho feito até aqui corra o risco de ir ‘por água abaixo’, sobretudo numa altura ‘em que já tínhamos limado as arestas’ e em que ‘os métodos e os procedimentos estavam apurados’”. De igual modo comungo das deficiências aqui apontadas por ela aos CNO, aliás, várias vezes, por mim denunciadas neste blogue, embora continue a pôr em causa, tantas vezes quanto as necessárias, as suas hipotéticas e excelsas virtudes…

Ainda no já acima referido Diário de Coimbra, como era de esperar, da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital (do Partido Socialista) surge a guarda pretoriana em defesa pressurosa do referido CNO da terra com a aprovação de uma moção de repúdio que se transcreve parcialmente:

“A situação do CNO de Oliveira do Hospital levou a AssembleiaMunicipal a votar uma moção de repúdio contra a extinção deste serviço, considerando tratar-se de uma decisão ‘política e economicista’ que não teve em conta os anseios e as necessidades dos adultos que ‘não tiveram outra oportunidades de voltar à escola’. Na moção, os eleitos locais davam ainda conta da ‘injustiça’ que estava a ser cometida em Oliveira do Hospital, na medida em que o seu CNO é um dos ‘mais reputados da região’”. Quiçá no desconhecimento da máxima latina, “laus in oreproprio vilescit”, em avaliação por conta própria, anunciava esta assembleia municipal, “ao mundo e à cidade”, a sua consideração pelo CNO da terra por o ter como “um serviço público de excelência” (sic).

Embora não fosse minha intenção tecer muitos comentários (e Deus sabe como me esforcei nesse sentido) a estas declarações públicas que falam por si próprias, deixo-os aqui em referência a estes três depoimentos, de “meias verdades que são mentiras inteiras”, segundo um sábio provérbio chinês. Sem dúvida que teria sido mais cómodo remeter-me ao silêncio neste polémico assunto. Mas, não o fiz por comungar da opinião de Sena de Freitas que, em polémica com Camilo, sentenciou: “O silêncio acirra a audácia dos petulantes e deixa à mostra a claque impertinente dos ineptos!” Ou seja, neste caso, como em alguns outros, nem sempre “a palavra é de prata e o silêncio de ouro”!

22 comentários:

António Bettencourt disse...

Sem querer pôr em causa as afirmações da colega de Oliveira do Hospital, deixe-me que lhe diga que "Contrariamente a muitos Centros o CNO de Oliveira de Hospital sempre ‘primou pela qualidade" é aquilo que todos os directores de CNO's afirmam, sobretudo aqueles que têm a morte anunciada, é só mudar o nome do Centro.

Volto a repisar o mesmo que já aqui disse várias vezes: sem duvidar da honestidade ou a seriedade do trabalho de todos os colegas que se viram envolvidos nesta vigarice das Novas Oportunidades, nunca nenhum de nós avaliou uma única competência que fosse. Quando muito, avaliámos a competência dos formandos para escreverem sobre uma competência que eventualmente possuem e a maior ou menor habilidade de retirarem informações da internet.

Se um formando me diz na sua história de vida que lê vários livros por mês, que se preocupa com o meio ambiente, que se informa sobre problemas de saúde, etc., etc., como posso eu confirmar se é verdade ou não? Ah já sei, através de imagens, gráficos e textos retirados da internet a que ele faz copiar/colar. Mas pode o formador aceitar tal logro? Vem de lá o senhor director de dedinho em riste: olha as metas, temos que cumprir as metas...

E para não me alongar muito mais, quero apenas manifestar o meu nojo e o meu asco pelos partidos que ainda vêm defender esta coisa.

Na minha escola, cujo o CNO já tem a morte anunciada, veio a senhora deputada Ana Drago, toda expedita, tentar tirar proveitos.

É triste ver como a a vida das pessoas serve de arma de arremesso desta gentinha.

Tenham vergonha na cara, senhores políticos!

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

“Um país como o nosso, com fraco crescimento económico, necessita de um plano de qualificação de trabalhadores e empresários que aumente a produtividade das empresas”


Professor Rui Baptista;

Eu não sou capaz de não citar Bento de Jesus Caraça (Escola Única) para que as pessoas se apercebam do significado e do verdadeiro espirito das NO.



"Esta concepção - a de que cada povo seja governado pelos melhores - implica, para a sua completa realização, o aproveitamento de todas as energias e exige, portanto, que todos passem pela fieira da selecção. Isto é, a proposição referente à selecção tem como corolário esta outra - todos devem ser obrigados a frequentar a escola e a ir nela até onde as suas capacidades o permitam e exijam.

Ora dá-se a circunstância estranha, e aqui começamos a entrar no coração do problema, de que o principio da obrigatoriedade, universalmente, por assim dizer, aceite no que diz respeito à instrução dita primária, encontra adversários encarniçados desde que se pretenda estendê-la à secundária e superior, tal como acontece com a gratuidade.
(...)
É claro que eu nãp deixarei de ser acusado, por alguns espíritos superiores de pessoas-bem, como agora se diz em calão fino, não deixarei de ser acusado de exagero (na melhor das hipóteses) nesta apreciação a respeito da obrigatoriedade escolar. E a pessoa-bem dirá - Não, não se é contra a cultura, e a prova está, precisamente, no aplauso sem reservas que se dá à obrigatoriedade da instrução primária; é-se contra a extensão desse princípio, porque considerações de ordem superior ... Que a pessoa-bem me desculpe, mas antes de ouvir o resto dos seus argumentos deixe-me dizer-lhe só que o interesse pela extensão da cultura é a última das suas preocupações ao defender a obrigatoriedade da instrução primária; a primeira, aquela que ofusca todas as outras, é que essa obrigatoriedade, dessa migalha de cultura, valoriza a mão-de-obra e cria melhores instrumentos a trabalhar nos seus bens; seus da pessoa-bem, entenda-se."


Professor Rui Baptista, as pessoas-bem, nos dias de hoje, chegaram à conclusão, facil diga-se, a que não é alheio o desenvolvimento tecnologico, que a escolaridade primaria não servia os seus interesses, era preciso estender ao ensino secúndário, e encaminhar sobretudo para as vias profissionalizantes, e complementar no futuro com NO e outras coisas similares, caso venham a necessitar (mas esqueceram-se que até para fazer NO é preciso saber, algo que valha ao menos o nome...). Eu considero por isso que o interesse pela extensão da cultura de que fala BJC é, a última das preocupações dos governantes ou da classe dirigente. Isso tenho eu como um dado que é objectivo, e vejo isso nas palavras que citei acima, infelizmente.

Cordialmente,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista,

As pessoas-bem apresentam-se hoje como defensoras da concepção - que cada povo seja governado pelos melhores - só exigem uma condição, - que entre os melhores se encontrem os seus filhos.

Ignoram, intencionalmente, a lei da biologia que faz com que o talento surja em qualquer lugar, incluindo nas classes mais desfavorecidas; «os presentes dos deuses» são entregues aleatóriamente para lembrar C.G.Jung.

Fazem tudo, defendem coisas absurdas a por os seus filhos debaixo da asa.

E depois, resulta, que sistema de ensino temos? Para uma correcta descrição vou citar o Professor Sebastião e Silva;

" O que importa focar, sobretudo, é que estamos em presença de um sistema educacional que não ensina a observar, nem a experimentar, nem a reflectir, nem a raciocinar, nem a escrever, nem a falar: ensina apenas a repetir mecanicamente, a imitar e, por conseguinte, a não ter personalidade. É um sistema . É um sistema que reprime o espírito de autonomia e todas as possíveis qualidades criadoras do aluno, nas idades decisivas em que essas qualidades deveriam ser estimuladas ao máximo: um sistema feito à medida da mediocridade obediente, que acerta o passo enquadrada em legiões de explicadores. É, portanto, um ensino em regime de desdobramento: professor-explicador (e o mais grave é que o professor já conta com o explicador). É, portanto, um ensino que favorece os passivos, os superficiais e os privilegiados economicamente, em prejuízo dos autónomos, dos inteligentes e dos economicamente débeis. Em conclusão: é um ensino capaz de atribuir 20 valores ao Conselheiro Acácio e orelhas de burro a Einstein!

Depois, na Universidade, o drama atinge o ápice, em primeiro lugar os alunos, na sua grande maioria, vêm mal preparados (o que é naturalíssimo, depois do que fica exposto). Em certas cadeiras, a percentagem de reprovações atinge 90%: levantam-se clamores de protesto (o que também é naturalíssimo) as famílias atiram as culpas aos professores universitários, que por sua vez as lançam aos professores liceais, que por sua vez as lançam às famílias – neste círculo vicioso, os degolados são os que menos culpa têm, apesar de algumas terem também. (Acontece geralmente assim em todas as guerras, grandes ou pequenas)."


Cordialmente,

Dis aliter visum disse...

Nunca será demais proceder à desmistificação do programa Novas Oportunidades (NO) que, essencialmente, se traduziu numa massiva distribuição de diplomas.
Portanto a pergunta formulada pelo Sr. Dr. Rui Baptista — “Sendo assim, não seria mais rápido e menos oneroso para o erário público entregar a distribuição destes certificados às Lojas do Cidadão, espalhadas pelo país, a troco de uma determinada quantia e preenchimento de um pequeno formulário?” — só pode ter uma resposta afirmativa.
Faltava, porém, um ingrediente que desse respeitabilidade ao processo e levasse as pessoas que receberam um certificado, e nada mais, a acreditar que eram especiais. Esse ingrediente foi o computador.

Aqui é preciso fazer um parêntesis para lembrar que alguns socialistas estavam convencidos que se despejassem umas centenas de milhar de computadores sobre a sociedade e promovessem a ligação à internet — o tal choque tecnológico da campanha eleitoral de 2005 — a qualificação dos trabalhadores e o crescimento económico seriam corolários.
Não foram. A fraca qualidade de grande parte dos conteúdos da Web exige uma base cultural para distinguir o trigo do joio que os menos qualificados não têm, acabando por se perderem no imenso lixo dos videojogos, das redes sociais, ...

No entanto, o computador tornou-se moda. As pessoas aprenderam, com familiares ou em acções de formação, a ligar/desligar o aparelho, clicar no ícone do navegador, garatujar umas palavras no Google e o copiar/colar passou a ser considerado como a quinta-essência do conhecimento.
Engrolaram umas histórias de vida muito imaginativas, alguém criou-lhes uma caixa de correio electrónico e voilà... o diploma NO recebido com pompa e circunstância das mãos do primeiro-ministro. Que até serviu para alguns arranjarem emprego em autarquias e escolas, ultrapassando outros que seguiram o ensino regular.

As pessoas deliraram. Vi pensionistas com 50 e 60 anos rejubilarem por possuírem o diploma do 9º ou 12º ano. E mesmo para as pessoas desempregadas, ou que têm empregos modestos, ser capaz de rabiscar mensagens no Facebook criou-lhes a ilusão de que o diploma foi merecido e deve permitir-lhes aceder a empregos bem remunerados.
Não adianta chamar-lhes a atenção para as disciplinas do ensino regular cujo nome nem sabem o que significa, porque desvalorizam o conhecimento e reivindicam um percurso escolar muito fácil para quem tem “experiência da vida”.
Nota-se uma esperança latente num D. Sebastião que um dia há-de vir de Paris ou da universidade do Minho, tanto faz, e permitir-lhes altos voos. Que os técnicos de RVCC dos centros NO acalentam para defenderem os seus empregos precários. O partido socialista deixou de ser a bandeira dos pobres e dos progressistas para se tornar na crença dos ignorantes e dos medíocres.

Dos 450 centros NO que existiam, 20 foram encerrados em Dezembro passado por não cumprimento de metas ou a pedido dos promotores. Em Janeiro a Agência Nacional para a Qualificação anunciou que, dos restantes, 70% seriam mantidos até Setembro.
Apesar de ser sensata a reavaliação que o ministro Nuno Crato mandou fazer em todos os domínios o que, sem dúvida, retirou pretextos à FENPROF para arregimentar os professores, tenho dificuldade em aceitar que permaneçam em funções 300 centros NO até ao fim deste ano escolar.

Dis aliter visum disse...

Quanto aos cursos NO, depois de uma tentativa de manter apenas as antigas turmas para os alunos concluírem as horas pré-fixadas, houve uma clara cedência do ministério aos directores que exigiam a criação de novas turmas para ocupar os docentes do quadro... e os amigos para quem arranjam contratos todos os anos. Neste momento já não existe a mínima diferença entre o número de turmas no passado ano lectivo e no actual.
A criação de novas turmas também em regime de horas pré-fixadas, que são esticadas de modo que as turmas fiquem com uma dúzia de horas para fazer no ano lectivo seguinte, significa que este curso vai continuar ad aeternum.

Recordemos que as turmas B1, B2 e B3 do curso NO (equivalentes ao 1º, 2º e 3º ciclos do ensino regular) têm as seguintes disciplinas: Linguagem e Comunicação (língua portuguesa), Inglês, Cidadania e Empregabilidade (estudos sociais), Matemática para a Vida (muito básica), Tecnologia da Informação e Comunicação (Microsoft Office muito básico).
Não há testes, são raros os professores que exigem a elaboração de trabalhos e ainda mais raros os formandos que os fazem.
Não recebem a mínima formação em Física, Química, Biologia, Mecânica, Electricidade, Electrónica, …
Apesar de ficarem com uma formação reduzidíssima, sem terem obtido conhecimentos ou adquirido competências para fazer seja o que for, é conferido aos formandos um certificado equivalente ao 9º ano.
No curso equivalente aos 10º, 11º e 12º anos é necessário que seja entregue um trabalho, mas já foi divulgado na imprensa que se copiam trabalhos na Internet.

Reconheço que é preciso fazer primeiro a Revisão da Estrutura Curricular do ensino regular. E convencer os professores a libertarem-se da treta das competências a que continuam agarrados, apesar da carta de alforria que o ministro Nuno Crato ofereceu como prenda de Natal. Muito pesam os directores, e os coordenadores por eles nomeados, sobre os professores, graças ao DL 75/2008, e não será a futura possibilidade dos professores passarem a escolher o coordenador de departamento numa lista de três nomes que vai alterar a situação: é sempre possível arranjar três professores socialistas para quem docente que avalie os alunos recorrendo aos conteúdos programáticos e deitando para o lixo as tabelas de competências é um sacrílego que será punido com péssimos horários e as piores turmas da escola.

Reconheço que também há o problema dos cursos de Educação e Formação (CEF), criados para oferecer um percurso alternativo ao ensino regular mas que não preparam os adolescentes para qualquer carreira profissional. E o ministro já anunciou que vai criar cursos para formar os técnicos intermédios que tanta falta fazem no mercado de trabalho.

Reconheço que o ministro Nuno Crato não pode abrir uma terceira frente de batalha na Educação de Adultos. Mesmo assim, espero que algo mude no próximo ano lectivo nos cursos NO.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Ainda a frase “Um país como o nosso, com fraco crescimento económico, necessita de um plano de qualificação de trabalhadores e empresários que aumente a produtividade das empresas”


Para citar António Aniceto Monteiro (Matemático) "A maior riqueza de um país, são as imensas reservas de
inteligência existentes nas amplas camadas populares, que só podem revelar-se numa atmosfera de progresso."

É essa riqueza, e o seu aproveitamento, que deveria estar na primeira linha das preocupações dos nossos governantes - e não está. Lamentavélmente não está.

A frase acima mostra-nos quase tudo; mostra sobretudo qual a prioridade dos politicos, e o seu objectivo imediato, bem próprio dos homens com as caracteristicas das gerações anteriores; que são: - como descreve BJC no seu apelo ao social e ao aproveitamento de todas as possibilidades cientificas e técnicas - "(...) os homens das gerações
anteriores, na sua maioria, fechados à grandeza trágica do debate e virados para a «defesa dos seus haveres», não vêem na imensidade da sua perspectiva."

Estamos por isso ainda a ser "governados" por homens portadores de mentalidade, - ou a ela obedientes - com as caracteristicas da maioria, que existia nas gerações anteriores (com as subtilezas que os tempos agora exigem); em pleno seculo XXI. É esse fundamentalmente o nosso grande problema; aquele que nos impede de avançar.

Agora o texto do Professor Rui Baptista;

“Sinais dos tempos e de uma sociedade que corre o risco de ser vítima da decadência romana sem ter conhecido sequer
o apogeu de uma cultura grega. Depois a utopia, como li algures, é um sonho por realizar. Enfrentemos, pois, a
realidade nua e crua sem perder o dever de nos manifestarmos porque, como escreveu Miguel Torga, “o homem quando perde a capacidade de se indignar perde a própria razão de ser”!"

José Batista da Ascenção disse...

António José Seguro não acerta uma.

Algum amigo lhe devia dizer que seguir Sócrates,

especialmente em matéria de educação, é o maior

dos erros. No PS parece haver muitos disponíveis

para lhe fazer a cama. Não sendo (nada) fácil

o seu papel, impressiona que ele

pareça fazer questão de se deitar nela. O que só

a lhe diz respeito a ele, claro. Mas, assim "deitado",

não vai longe. Nem sequer para morrer na praia...

E o país bem precisava de mais qualquer coisa.

É o que (subjetivamente) se me afigura.

José Batista da Ascenção disse...

Corrigenda: no comentário que fiz anteriormente, onde

escrevi "O que só a lhe diz respeito a ele"... devia

ter escrito "O que só lhe diz respeito a ele"...

joão boaventura disse...

Caro José Batista da Ascenção

O que Seguro faz é colar a si a facção socrática que impera no PS.

O que ele ignora é que é tão ostensivo, que acaba por perder credibilidade numa zona tão sensível como é a sensibilidade partidária, passe o pleonasmo.

O efeito acaba por ser contraproducente, até porque, durante a regência socrática se descolou sempre do chefe.

Um abraço

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Pela análise dos Sr.s Professores fica-se com algumas certezas:

Que existem partidos que se comportam tal qual uma organização mafiosa.

Que a aprendizagem interna é aquela que aplicam depois sobre o povo.

E por fim, que não podemos confiar nesta democracia, apenas e só o suficiente para lhe manter o nome, e dai talvez não.

Cordialmente,

Rui Baptista disse...

Caro Joaquim Ildefonso Dias: Este seu comentário suscita-me a dúvida sobre o verdadeiro conceito de democracia. Socorro-me, portanto, da definição de um autor, cujo nome não ocorre, que escreveu: "Democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim"!...

Cordiais cumprimentos,

Rui Baptista disse...

Caríssimo Colega António Bettencourt: Aplaudo com as mãos ambas a sua referência ao aproveitamento da Ana Drago e, já agora, referenciá-la como senhora política.
Tudo o resto, tem a chancela de quem bem conhece os meandros das Novas Oportunidades.

Cumprimentos cordiais,

Rui Baptista disse...

Caro Joaquim Ildefonso Dias: As suas referências a Jesus Bento Caraças são sempre oportunas pelos ensinamentos que delas se colhem. Obrigado.Cumprimentos cordiais,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista;

"Democracia implica um elevado conceito acerca do ser humano, do seu valor presente e do seu valor potencial." AC

Retirado da Cultura Integral do Individuo, BJC;

"Ouçamos, em primeiro lugar, o que a este respeito diz o Dr. Harold Laski, professor da Universidade de Londres, no seu livro Gramática da Política:


«Podem resumir-se brevemente os resultados deste sistema. A produção efectua-se com desperdícios e sem plano conveniente. As «comodidades», os serviços necessários à vida da comunidade, não são repartidos de modo a satisfazer as necessidades ou a produzir o máximo de utilidade social. Construímos cinemas sumptuosos e temos falta de casas de
habitação.
Gastamos em navios de guerra o dinheiro necessário para as escolas. Os ricos podem gastar num só jantar o salário semanal de um operário, enquanto o operário não pode enviar
à escola os filhos insuficientemente alimentados. Uma rapariga rica gastará no seu primeiro vestido de baile mais que o salário anual dos trabalhadores que o fizeram. Em suma, produzimos «comodidades» inúteis e distribuímo-las sem atender às necessidades sociais.
Mantemos num parasitismo ocioso uma vasta classe cujos gostos exigem que capital e trabalho concordem em satisfazer necessidades sem nenhuma relação com os interesses humanos. E esta classe não se põe à margem da comunidade. Como tem o poder de tornar as suas exigências eficazes, estimula a imitação servil daqueles que procuram misturar-se a ela.
A riqueza transforma-se em padrão de medida do mérito; e a recompensa da riqueza é a capacidade de fixar os níveis daqueles que procuram adquiri-la. Esses níveis são fixados, não para satisfação de um fim moral, mas do desejo de ser rico. Os homens podem começar a adquirir bens para assegurar a sua existência, mas continuam a adquirir para alcançar a distinção que lhes confere a propriedade. Ela satisfaz a sua vaidade e o seu amor do poder; permite-lhes harmonizar a vontade da sociedade com a sua. Resulta daqui o que pode logicamente esperar-se de uma tal ambiência. Produzem-se bens e serviços, não para os utilizar, mas para tirar da sua produção elementos de posse. Produz-se para satisfazer, não exigências legítimas, mas aquelas que são susceptíveis de render. Aniquilam-se as fontes naturais de riqueza. Falsificam-se as «comodidades». Lançam-se negócios fraudulentos.
Corrompem-se os legisladores. Falsificam-se as fontes do saber. Realizam-se alianças artificiais para aumentar o preço das «comodidades». Exploram-se, com uma crueza por
vezes terrível, as raças atrasadas da humanidade...»

Isto diz o professor Laski. Demos agora a palavra ao Dr. Oliveira Salazar, o qual, num discurso recentemente pronunciado em Lisboa, não menos violento nos termos, não formulou, no entanto, uma crítica menos condenatória. São suas estas palavras, que transcrevo do Século de 17 de Março de 1933:


«Nós adulterámos o conceito de riqueza, desprendemo-la do seu fim próprio de sustentar com dignidade a vida humana, fizemos dela uma categoria independente que nada tem que ver com o interesse colectivo nem com a moral e supusemos que podia ser finalidade dos indivíduos, dos Estados ou das Nações, amontoar bens sem utilidade social, sem regras de justiça na sua aquisição e no seu uso. Nós adulterámos a noção de trabalho e a pessoa do trabalhador...»


Pois muito bem. É para sustentar isto que se cria e desenvolve, por toda a parte, um aparelho repressivo de cuja actuação brutal todos os dias temos novas afirmações."

Cumprimentos cordiais.

Rui Baptista disse...

Prezado "Dis aliter visum": Isto da distribuição de computadores e máquinas de calcular tem muito que se lhe diga. Não teria saído mais barato implantar um "chip" em cada uma dessas brilhantes cabeças ( e nelas englobo os autores de um ensino dirigido a autómatos ou verdadeiros papagaios).

Como eu costumo dizer, com ironia amarga, qualquer dia ao ser perguntado, aos portadores de certificados do 12.º ano dos CNO, quem foi o 1.º rei de Portugal obter-se-á como resposta: "um momento vou ao google"!

O seu comentário, a exemplo de outros aqui deixados, chamam a atenção para o verdadeiro circo romano em que se transformou esta espécie de ensino. Com a agravante: Na Roma Antiga dizia-se "panem et circenses". Nesta pobre país, porque pobre têm sido muitos dos seus timoneiros, receio que tenhamos circo sem pão!

Cordiais cumprimentos,

Rui Baptista disse...

Caríssimo Colega: No caso do apelido de António José Seguro, é caso para dizer que "não bate a bota com a perdigota!"

Razão assiste ao leitor João Boaventura ao referenciar a sua indefinição (ou definição?) política. Razão teve, outrossim, Maurice Tayllerand-Perigord quando escreveu: "A oposição é a arte de estar contra, mas com uma habilidade tal que logo se possa estar a favor". E assim, para certas franjas do Partido Socialista, Sócrates (o outro, não o filósofo!) tão depressa foi um deus como hoje é um diabo! Decidam-se, senhores políticos: deus ou diabo?

Cumprimentos cordiais,

José Batista da Ascenção disse...

Meu caro João Boaventura

Pensando no primeiro ponto do seu comentário,

parece-me indistinto se é Seguro que cola a si a

facção socrática do PS ou se é ele que (inseguro?,

receoso?) procura colar-se a ela.

Sobre as consequências não tenho dúvidas: são as

que certeiramente aponta logo de seguida.

O meu abraço.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista;

Bento de Jesus Caraça foi um cidadão excepcional, do melhor que este país alguma vez teve, e que só aparece de séculos a séculos, seguramente; dotado de uma inteligência superior que lhe permitiu dominar a rainha das ciências, a Matemática, da forma que quis; ensinou brilhantemente, e teve ainda, o que o distinguia dos outros brilhantes professores, a qualidade de intervir na sociedade; e ainda teve tempo de enviar alimentos para os campos de concentração em França.

Existe um documentário da autoria de Adriana Andringa sobre BJC, infelizmente e das poucas vezes que passou na RTP2 foi sempre após a meia-noite (serviço público...). é o exemplo maior de cidadania, que faz corar qualquer democrata do nosso país.

Cordialmente,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista;

Exerci funções como Eng. Civil num município, durante seis anos em regime de contrato;

Neste momento estou desempregado, pelo que não me falta tempo para falar com o Senhor, o que para mim é um prazer;

A frase que citou, ouvia, pela primeira vez, e várias vezes ao chefe de Divisão, onde eu exercia funções;
Esta frase incomoda-me e muito, pela forma sarcástica com que ele a usava, acredito que o autor da frase que o senhor desconhece não deve ser uma pessoa de boa formação; tal como o chefe que me calhou (e o senhor não têm culpa);

O que me valeu sempre no relacionamento profissional (com uma pessoa com má formação) era a minha atitude, em tudo superior à dele.
Era a minha atitude humana, inspirada em Bento de Jesus Caraça, que ele [o chefe] odiava (adorava Sócrates, o não filósofo);
Uma vez mostrei-lhe através de um texto de BJC que Belmiro de Azevedo não era «povo», ao contrário do que ele defendia;

Desculpe-me Professor Rui Baptista este desabafo, mas quando falamos em democracia, quero que o senhor saiba que sinto hoje na pele a falta dela.

Quero dizer-lhe ainda o seguinte, em 2010, quando faltava cerca de um ano para terminar o meu contrato com o município, eu, Eng. Civil (único com esse estatuto) associei-me aos operários do município, numa jornada de luta com 2 dias de greve pela «opção gestionária»;

Claro está, que isso associado às características do chefe que tinha (perdão, hoje já não é chefe de divisão, é Sr Director de Departamento, em «acrobacias de palhaço» é certo) foram ingredientes para não me abrirem concurso;

Sei por isso o valor da democracia. Contudo quero que saiba, que o meu filho de 5 anos, já conhece o nome do Professor Bento de Jesus Caraça.
Eu quero que ele seja para ele um exemplo de conduta.

Cordialmente,

Rui Baptista disse...

Engenheiro Joaquim Ildefonso Dias: Nunca me passou pela cabeça fazer espírito com o conceito de Democracia (com maíúscula). Somente, porque "ridendo castigat mores", criticar o mau uso que infelizmente dela se faz. Cumprimentos amigos,

Rui Baptista disse...

Caro Engenheiro Joaquim Ildefonso Dias: Dei-me ao trabalho de procurar o autor da frase sobre democracia, citada por mim anteriormente: "Millôr Fernandes.Para George Bernard Shaw, "a democracis muitas vezes significa o poder nas mãos dos mais incompetentes".

Ou seja, a mesma palavra pode ter muitos significados mesmo sem ir ao tempo da Antiga Grécia. Florbela Espanca dá-nos uma preciosa ajuda: "Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade"!

Cumprimentos amigos, com os votos de que encontre emprego rapidamente.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista;

É bem verdade que "a democracia muitas vezes significa o poder nas mãos dos mais incompetentes"

Mas esses incompetentes sobrevivem à custa da elite cultural e cientifica, ainda que o conceito de elite esteja neste caso deformado, e vou dar o significado destas minhas palavras, com uma citação, a última, pois não sou capaz de expressar melhor o significado daquilo que pretendo dizer, lamento. Peço-lhe por isso desculpa.

Na verdade não é nada que uma pessoa como o Professor Rui Baptista desconheça, e contra a qual, o senhor se manifesta, e a prova disso é a forma como escreve no blog, evidentemente; mas como se trata de um blog escrevo para sí, com um objectivo mais amplo, claro, que é levar ideias e sugestões aos leitores;



"Mas, se a identificação de classe dirigente e elite cultural nunca se deu nem se dá, para quê o pretender estabelecê-la?

Razão evidente e única - porque a classe dirigente, não tendo que fazer de momento, nem necessitando, dessas antecipações geniais no domínio da ciência e da cultura (aos seus autores é dada a liberdade de morrer na miséria), precisa no entanto daquilo a que podemos chamar valores científicos e culturais de segundo plano, carece de tomar posse do que da ciência vai derivando constantemente para as aplicações, a fim de adquirir uma base mais sólida de existência e domínio. E como, por outro lado, ela sabe bem que mal vai ao seu poderio quando ele é exclusivamente de natureza material, fabrica, para seu uso próprio, um conceito novo de elite, deformador do verdadeiro, e, armada com esse conceito novo e servida por aqueles que se prestam a dar~lhe corpo, pretende aparecer como suporte único do movimento cultural, relegando para o domínio do subversivo, a que é preciso dar caça, tudo aquilo que contrariar os seus cânones.

E devemos concordar em que tem realizado a primor essa tarefa.
O trabalho de submissão, de lamber de botas, da parte das chamadas camadas intelectuais, tem sido duma perfeição dificilmente excedível. Digamos, para irmos até ao fim, que os mais excelsos nesse mister são frequentemente aqueles que, partindo das camadas ditas inferiores, se guindaram, umas vezes a pulso, outras em acrobacia de palhaço, a posições que deveriam utilizar para defesa dos bens espirituais e que só usam para trair os seus antigos irmãos no sofrimento."

Nota: Exerci funções no município de Barcelos, apesar de ser Alentejano.

Cumprimentos cordiais,

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...