A investigação pedagógica indica muito claramente que, quando confrontados com comportamentos perturbadores dos alunos – indisciplinados ou violentos –, a tendência dos professores, mesmo que sejam competentes e responsáveis (e, sobretudo, se o forem), é omitirem isso mesmo junto dos seus pares e da escola.
.
As razões são diversas (sentimento de incapacidade para controlar sujeitos que seria de esperar que controlassem e sem esforço; receio, fundamentado ou não, dos juízos de colegas; preocupações com a imagem junto da direcção; apreensão com a avaliação do seu desempenho; etc.) e, em geral, conjugam-se para darem forma a circunstânciasa dversas para os professores e para os alunos: nem uns conseguem ensinar, nem outros conseguem aprender.
.
Ora, é isto que, sob o ponto de vista do “dever profissional” não pode acontecer: o professor deve ensinar para que os alunos aprendam. Se não estiver a cumprir este dever, que constitui um referencial de actuação explícito e consensual nas mais diversas e actuais abordagens deontológicas, cometerá, um erro.
Assim, não pode guardar problemas de tal ordem para si e só para si: tem de comunicá-los a quem tem igual e/ou mais responsabilidade, bem como envolver-se e solicitar o envolvimento de outros na sua resolução.
.
Tais problemas mesmo quando protagonizados por um professor, não são só desse professor: são da escola onde ele pertence e assim devem ser perspectivados.
.
E for alguma coisa que um professor não estiver a fazer bem? Ainda assim é um problema da escola, pois ele é um elemento da escola, tendo esta a responsabilidade máxima de o atender e, se for o caso, ajudar e/ou orientar.
.
É preciso ter coragem para seguir esta lógica? Sim, é. Em certos casos, é preciso ter muita coragem. Mas há que a ter. Porque ela está certa.
2 comentários:
O problema maior (para além das "razões
diversas" apontadas) é a sensação justificada
de que, havendo um problema, colocá-lo honesta
e frontalmente é arranjar uma carga de
trabalhos burocráticos, ficar mal visto e
ficar tudo na mesma. Suponhamos um aluno (do
ensino secundário...) que falta, falta,
falta... injustificadamente. Qual é a
consequência? A consequência é que o professor
da disciplina, em coordenação com o diretor de
turma, têm que elaborar um "PIT" (plano
individual de trabalho) para o aluno. E ambos
têm que tentar assustar o aluno com o "pit"
não vá o aluno "borrifar-se" e faltar ao
próprio "pit", situação em que os professores
ficam com cara de "tacho" e tudo fica sem
enquadramento legal, a não ser o que determina
que aquele aluno só no final do ano pode,
eventualmente, vir a ser excluído por faltas!
Portanto, o "stress" maior pode ficar do lado
dos professores que têm que aguentar,
aguentar, aguentar... E que outras
consequências pode haver? Bom, alguns
professores passam a esquecer-se
sistematicamente de marcar faltas, ou então o
diretor de turma aceita qualquer justificação,
e por aí fora. Não resolvem a situação, mas
livram-se pelo menos de uma carga de trabalho
absurda, ridícula e frustrante.
Neste quadro saúdo a nova legislação que
retira encarregados de educação dos conselhos
pedagógicos. Se os professores são
responsáveis pela pedagogia, e devem ser,
então que os deixem definir essa pedagogia...
Digo isto e conheci em conselhos pedagógicos
encarregados de educação que desempenharam um
bom papel. Mas isso não foi a regra, e ter
para além de pais, contínuos (agora tem que se
dizer "auxiliares de acção educativa", sempre
são quatro palavras...), funcionários de
secretaria e alunos é ridículo e "apalhaçante"
e humilhante, mas foi o que tivemos...
E também deviam retirar os pais dos conselhos
de turma para avaliação. Em 2008, nos tempos
da loucura violenta contra os professores,
passou a haver não um mas dois representantes
dos encarregados de educação! O que é curioso,
porque se sabe que estes encarregados de
educação não representam os outros (nem se
encontram com eles antes nem depois dessas
reuniões, e quem fala de meios de comunicação
como o "mail" não sabe qual é a realidade dos
encarregados de educação nessa matéria...).
Ora, a presença destes encarregados de
educação nas reuniões de avaliação pode
resultar num privilégio para os seus
educandos, pelo facto de... estarem ali. Quem
não quiser ver isto que não veja. As exceções
só confirmam a regra. E depois há ainda a
situação obscena de, por vezes, ser o aluno o
representante dos alunos e o seu encarregado
de educação o representante(!?) dos pais.
Não é a loucura?
Está bem que era preciso quebrar a espinha aos
professores. Foi mais ou menos o que foi
assumido e largamente estimulado. Lembrem-se
aqueles valorosos pais que saíam de casa para
irem à escola dar uma tareia num professor!
Quantos deles foram presos?
Agradeça-se portanto ao famoso "eduquês" e aos
políticos e governantes que tão diligentemente
o impuseram.
O resultado final?
Bom, esse é o que temos.
Pequeno acrescento:
Em relação aos pais que estão nos conselhos de
turma dos finais dos períodos, a prática é
eles participarem apenas na parte inicial da
reunião, por exemplo nos primeiros trinta
minutos, em que se abordam aspetos gerais.
Depois saem, quando os professores lançam as
classificações nas pautas e nos registos
biográficos. Mas, para todos os efeitos,
aqueles pais estiveram ali minutos antes... O
que é uma situação de desigualdade em relação
aos outros...
Enviar um comentário