A belissíma revista Colóquio/Letras, editada pela Fundação Calouste Gulbenkian, dedicou o número 178 a Ruy Belo. Hoje e amanhã relembra-se o seu nome a sua obra em colóquio internacional nessa mesma Fundação.
Homem de Palavra(s) é o título do colóquio que sublinha o 50.º aniversário de publicação do seu primeiro livro de poesia, que tem por título Aquele Grande Rio Eufrates.
Livro onde consta o poema As velas da memória:
Há nos silvos que as manhãs me trazem
chaminés que se desmoronam:
são a infância e a praia os sonhos de partida
Abrir esse portão junto ao vento que a vida
aquém ou além desta me abre?
Em que outro mundo ouvi o rouxinol
tão leve que o voo lhe aumentava as asas?
Onde adiava ele a morte contra os dias
essa primeira morte?
Vinham núpcias sem conto na inconcebível voz
Que plenitude aquela: cantar
como quem não tivesse nenhum pensamento.
Quem me deixou de novo aqui sentado à sombra
deste mês de junho? Como te chamas tu
que me enfunas as velas da memória ventilando: «aquela vez...»?
Quando aonde foi em que país?
Que vento faz quebrar nas costas destes dias
as ondas de uma antiga música que ouvida
obriga a recuar a noite prometida
em círculos quebrados para além das dunas
fazendo regressar rebanhos de alegrias
abrindo em plena tarde um espaço ao amor?
Que morte vem matar a lábil curva da dor?
Que dor me faz doer de não ter mais que morrer?
E ouve-se o silêncio descer pelas vertentes da tarde
chegar à boca da noite e responder
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3 comentários:
A poesia é, para mim, mais importante que quase tudo. Como muitos outros, não encontro nunca as palavras para falar sobre poesia, porque as palavras certas, no lugar certo, são, precisamente, o poema. O poema é o único local possível de recuperação, porque ao recolher-se na intimidade e no silêcio, chama o alquimista a montar o seu laboratório...
Por vezes a matéria do poema confunde-se com o poema, assim é a vida. Acontecem então apropriações fecundas para os apropriadores,
"Fazendo regressar rebanhos de alegreia": http://youtu.be/4L_DQKCDgeM
Em honra de Ruy Belo
HR
A poesia é uma comparação minimal com o cosmos...
A poesia é uma comparação minimal com o cosmos...
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