sábado, 19 de novembro de 2011

Chegámos ou não a este limite?

Diversos trabalhos jornalísticos, realizados em países ocidentais, têm destacado a ignorância dos estudantes do ensino básico, secundário e superior, bem como de populações que receberam educação escolar.

Sem enquadramento histórico, social ou outro e com pouco ou nenhum rigor científico, assinalam falhas de cultura geral e específica que deveria ter sido adquirida por via da frequência do ensino formal.

Recorrendo, em geral, a uma abordagem despretensiosa e humorística, com alguma regularidade, esses trabalhos oferecem dados que questionam, ou deviam questionar, os sistemas educativos e quem neles tem responsabilidades.

Essa é a sua grande mais-valia e, por isso, são bem-vindos, ainda que, com base neles, não seja possível perceber o que é que, de facto, os alunos aprendem na escola, nem fazer um retrato do estado do ensino, e muito menos comparações com aprendizagens em gerações anteriores.

Centrando-nos no recente inquérito feito pela revista Sábado e admitindo que os alunos que foram abordados levaram a situação de entrevista a sério (não sabemos se foi assim) e que, por terem chegado ao ensino superior, deveriam saber responder às perguntas que a jornalista lhe pôs, mas não respondem ou não responderam certo, devemos perguntar: porque é que isso aconteceu?

A resposta parece-me bastante óbvia: porque não foram ensinados.

Não são as gerações mais jovens que falham na aquisição do saber, são as que chegaram há mais tempo ao mundo e que não assumiram devidamente o dever de educar, de ensinar, de instruir, como se queira chamar, que falharam.

São as gerações mais velhas que têm de assumir essa responsabilidade e se houver dedo a apontar, esse dedo deve voltar-se para nós: pais, professores e outros educadores, políticos, sociedade (não sei se por esta ordem), que não paramos de reivindicar mais e mais tempo de escola, mais e mais anos de escolaridade, mais e mais diplomas distribuídos para não ficarmos abaixo de uma qualquer estatística internacional, que permitimos que se progrida levemente, sem critérios nem dramas pelos sistemas educativos, que compreensivamente tornamos possível que o "não saber escolar" se iguale ao "saber escolar".

E quando as gerações mais novas, que já quebraram a relação com o saber escolar, se tornarem as gerações mais velhas, com responsabilidades por outras que virão e que precisam de ser ensinadas?

Já chegámos ou não a este limite? Outra abordagem jornalista que a seguir se reproduz, realizada nos Estados Unidos da América, pode ser o mote para a discussão que deveríamos empreender.



16 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Ora aqui está um texto que coloca as questões certas. As diretas e até algumas que com elas se podem relacionar.
Frontalmente.
Como deve ser.
E também dá algumas respostas.
Sem rodeios.
Como se exige.

Quanto ao limite, admito que estaremos prestes a atingi-lo. Para nosso mal.
Oxalá me engane.

Parabéns.
E obrigado.

joão boaventura disse...

Está tudo explicado nos "Herdeiros" de Passeron e Bourdieu.

Os alunos das classes altas têm à sua disposição pais de elite, e uma boa biblioteca, que redundam num ambiente motivador para o estudo. Capital económico (+) capital social (+)= Volume de capital (+).

Os alunos da classe média e baixa só têm problemas em casa, e carências de toda a ordem.
Capital económico (-) capital social (-)= Volume de capital (-.

As respostas ao inquérito reflectem o ambiente familiar.

Anónimo disse...

Sim, chegámos. Tome lá um D pela redacção: fraquinha.

Limite-se às perguntas de trivia, é mais a sua "área".

A quem é atribuída a lei de indução electromagnética? (Sem ir ver à Wikipedia)

Cá está, isto é cultura geral mais relevante. A lei da indução electromagnética tem uma importância central nas sociedades modernas ;)

Também não acho muito relevante saber o nome do cientista. Mas sempre é mais relevante do que saber quem é que pintou a Mona Lisa.

Anónimo disse...

Um limite com causa única: excesso de ego superficial.

Resume toda uma existência feita de olhos postos no exterior, no outro, como ser observado, comparativo, inferior... Os espelhos e a noção de reflexo apenas marcam quando chega a nós.
E aí, disparamos, munições de "desculpas"... E fugimos, desejando não cruzar caminhos nunca mais.

Não saber é válido.
Mas o saber tem âmago na humildade.



Ps- http://youtu.be/jx95Hj7VYj8

maria disse...

muito bem. evidente que os culpados são quem não os ensinou . tabua rasa disse alguém. mas é altamente conveniente para o poder que não se comprreenda o presente a partir da análise do passado. consentem tudo , esses coitadinhos mal ensinados.
maravilhioso século XXI , ignorância para todos !!!

Anónimo disse...

E quando as gerações mais novas não querem aprender, se estão nas tintas para a escola, os professores e tudo o que lhes cheira a trabalho, a culpa também é da geração mais velha que não os soube ensinar?

É tão giro falar do ensino e da cultura e tirar conclusões quando não se faz a mínima ideia do que se passa numa escola básica ou secundária...

henriquedoria disse...

Vemos que as entrevistas nos EU são também a pessoas não propriamente jovens. A ignorâcia naquele país é colossal. Culpa: as televisões que são a única fonte de comunicação usada pelo americano médio. As televisões não pagas são UM PAVOR. Comparadas com elas as nossas são um poço de cultura.
A América é um país perdido pelo capitalismo. E não o sabe.
A China está a ensinar-lhe e ainda não começou a aprender. O Americano médio, cujo símbolo maior é o Tee Party, é demasiado estúpido para perceber isso.

Anónimo disse...

E partido do comentário de João Boaventura que já resumiu parte do que eu iria escrever, acrescento:

Em Portugal a escola pública foi construída pelos socialistas de direita e pela direita para manter exactamente essa desigualdade, antes ainda disfarçavam, mas agora com o eduques instalado no ministério da educação é mais que óbvio e só não vê quem não quer!

Anónimo disse...

Já que fazem tanta questão de apenas acentuar o mau, com o devido respeito pelo autor, aqui fica novamente...

Gil H. disse...
«Fui eu quem respondeu Miguel Arcanjo à questão "Quem pintou o tecto da Capela Sistina?" Agora que vos consegui cativar a atenção, tenho a dizer que o papel da Sábado foi puramente ignóbil, tendo dado instruções completamente opostas àquilo que se pode constatar tanto no vídeo, como também na revista publicada hoje. A verdade é que me fizeram 10 perguntas e só mostraram a que eu errei que, como pod...em comprovar os que se encontravam presentes, acabei por corrigir e responder, então, Miguel Ângelo. Em todo o caso, a minha resposta deveu-se ao simples facto de ter frequentado o Externato São Miguel Arcanjo e, ao mesmo tempo, com a pressão da própria entrevista, dei essa mesma gafe - corrigindo-a assim que apercebi -. De acrescentar que quando concluída a entrevista, fiquei à conversa com a jornalista Inês Pereirinha, perguntando-lhe se esta mesma entrevista ia ter semelhanças a uma que o programa 5 para a meia noite já teria feito, tendo obtido uma resposta negativa a este meu comentário. Todavia, para além de ter sido humilhado como nunca tinha sido até à data, ficou em causa o bom nome da instituição que eu frequento - ISPA - IU -, sendo considerada a melhor instituição de ensino na área da Psicologia. Acabei por ser vilipendiado em praça pública, sentindo-me completamente desolado. Acho-me uma pessoa culta que, durante o trajecto Casa-Escola, Escola-Casa, que tem uma duração aproximada de 2h30/3h diárias, lê os jornais gratuitos que consegue adquirir e, ao mesmo tempo, é assinante da revista Visão. Há tanto assunto que poderia ser discutido, como a abolição do desconto de 50% nos passes sociais que, assim, me vão obrigar a pagar cerca de 85€ mensais, ficando-me mais barato dirigir-me à faculdade de carro. Já tentei contactar a jornalista Inês Pereirinha por 2 vezes, acabando por nunca obter qualquer tipo de resposta. Deixo-vos com uma das mensagens que enviei para a jornalista e, aproveito para anunciar, que estou a reunir todos os elementos necessários para processar a jornalista em causa e, igualmente, a revista Sábado.
""A ignorância dos nossos universitários", se se sentir bem com o trabalho que realizou, digo-lhe, com tristeza, que você e os restantes colegas são ignóbeis. Vou ainda dirigir-me às autoridades competentes para apresentar uma queixa formal sobre o uso indevido da minha entrevista, sabendo você qual a razão dessa mesma denúncia/queixa. O que mais me impressiona é a generalização que vocês fazem e, mais gravoso, apresentarem ao público uma imagem dos universitários somente com as gafes dos mesmos, não tendo em conta qualquer tipo de pressão momentânea, nem referindo que foi elaborada e apresentada uma panóplia de perguntas a cada universitário."

João Ladeiras»

António Piedade disse...

Surpreendo-me pelo facto de a Revista Sábado, não a indicar nenhuma ficha técnica sobre a entrevista! Uma simples leitura do gráfico na página 102 da revista, indica que as resposta alvo de chacota são minoritárias! Parece-me que a robustez científica do próprio inquérito é muito questionável e muito tendencioso.
O que acabei de escrever não reflecte a própria realidade da maioria dos estudantes deste nosso país. A ignorância é denominador comum em todas as disciplinas. Não há lugar para o contexto que dá significado ao que é substantivo. Não há consciência da importância de bases solidamente adquiridas no contexto de desenvolvimento individual apropriado. Não há entrevistas nacionais sérias que envolvam não só os alunos mas também a comunidade escolar, social e familiar.
Realço o que Helena Damião aponta: rimo-nos das respostas erradas? É um riso não isento de ausência de responsabilidade cívica. Quantas vezes olhamos, ou de modo mais sonoro, assobiamos para o lado?

....

António Piedade

Celina disse...

Eu já conhecia o vídeo dos EUA e por isso disse que a realidade que a Sábado mostrou não é muito diferente noutros países. Aliás as perguntas deste vídeo são ainda mais gritantes tendo em conta que a maioria da "cultura geral" pedida está todos os dias chapada nas notícias. De qualquer forma não podemos ignorar as respostas dizendo ser "normal", "comum" ou "igual aos restantes países". Um futuro licenciado dizer que a Inglaterra é a capital dos EUA é grave. E não é uma questão comparável à de qual o autor da lei de indução electromagnética, é algo falado constantemente nos meios de comunicação social básicos. Eu estudo em Coimbra e a verdade é que aqui raramente vejo televisão, no entanto uso a internet para saber o que se passa no mundo. Provavelmente, se não me tivesse habituado a ver o telejornal todos os dias quando ainda morava com os meus pais agora não o faria e por aí sim: a cultura dos meus pais influencia a minha, mas ao contrário do que alguém sugeria de que as questões da Sábado são para ser colocadas a quem passa as tardes de Domingo no CCB, eu que cresci no Minho saberia responder a todas as questões (excepto à do protagonista de "O Padrinho", sou péssima a relacionar actores com papéis). Eu não peço que saibam as respostas a todas aquelas questões, mas por favor não respondam coisas ridículas como dizer que o elefante (de África) e o mamute (da Antárctida) são os maiores mamíferos do mundo. O problema não é não saberem! O problema é acharem que ainda há mamutes a passear na Antárctida! E se isto é dado na escola? Pois se calhar não... mas também ninguém ia adivinhar que alguém levaria a sério os filmes da pixar! A responsabilidade da escola, dos professores, do ME, etc é muito relativa. Efectivamente - e apesar de me considerar sortuda por ter feito o meu percurso básico e secundário na escola que frequentei - a verdade é que os próprios manuais escolares não dão azo a grandes divagações culturais e se isso se nota nos manuais do Ensino Básico onde a abrangência das diversas disciplinas acaba por colmatar um pouco esta falha, o mesmo "remendo" não acontece no Ensino Secundário. E isso é ainda mais evidente na Área Científica, que eu frequentei. Claro que podem dizer que os conhecimentos adquiridos numa área são diferentes dos adquiridos noutra e que ambos são cultura geral. No entanto eu pergunto: para o entendimento da sociedade - necessário - será ou não relevante conhecer a história da II Guerra Mundial? E será igualmente necessário conhecer (mais uma vez) o autor da Lei de Indução Electromagnética? Eu sou da opinião de que a cultura geral deve englobar as mais diversas áreas e por isso é tão importante conhecer Da Vinci como Einstein não tanto pelo que de físico deixaram mas muito pelo pensamento destes génios. Agora uma coisa é certa: para conhecer é preciso ler, ter fome de saber e eu não sinto, de todo, que isso seja estimulado no Ensino em geral e muito menos na Área Científica. Agora se o resultado do vídeo é da exclusiva responsabilidade da escola? Não. Mas acaba por ser um pouco fruto de um conjunto de situações que aqueles desgraçados acabaram por experimentar no total. Agora, ainda que a culpa não seja totalmente da Escola/Estado, a solução tem que passar, em grande parte, por aí. Não se mudam mentalidades do dia para a noite, mas talvez o consigamos fazer de geração em geração.


Aqui fica também o link do vídeo original do João Ladeiras: http://www.tabonito.pt/joao-ladeiras-e-a-entrevista-polemica-da-sabado/. Quando li o texto solidarizei-me com ele e pensei ser injusto passarem uma imagem assim de alguém que supostamente corrigiu a única resposta que errou. O vídeo não diz o mesmo.

Ana disse...

Só um àparte: o video americano é um video que foi manipulado. As respostas e as perguntas foram trocadas.

O video da sábado tb foi manipulado, em menor escala. E acho hilariante que a jornalista pergunte pelo "simbolo quimico da água"... a água não tem simbolo quimico, tem fórmula química, como qq estudante de quimica deverá saber. Portanto, não só o video em debate é de qualidade muito, mas muito duvidosa, como a ética da própria jornalista o é, como tb o é a sua própria cultura - dado que ela e a sábado se propuseram a definir cultura em meia duzia de perguntas q contêm conhecimentos geracionais. Desde qd é que saber quem foi o padrinho é cultura?... quem decide o que é cultura? quem decide o que é conhecimento e ignorância?... a sábado e esta jornalista não podem ser, de certeza.

Qto a alguns comentadores que por aqui lançam bitaites em argumentação ad hominem contra a Helena Damião, sugeria que tirassem o filtro do despeito e dor de cotovelo e lessem o que realmente foi escrito, porque se virem bem, a Helena Damião disse o mesmo que vocês.

Ana disse...

"o vídeo dos EUA e por isso disse que a realidade que a Sábado mostrou"~

Há um video do estilo sobre os EUA que foi manipulado, as respostas e perguntas foram trocadas de forma a dar a entender que ninguém sabia nada. Assim sendo, que realidade é que está a mostrar?... (estou na dúvida se este é esse video ou é a brincar com esse mesmo video, agora).

A sábado? o video da sábado? cultura é saber responder as umas qtas poucas perguntas sem olhar a gerações, especialidades, etc ou à propria noção de que a cultura tb evolui? ter cultura geral é saber quem foi o padrinho? perguntado por uma jornalista que não sabe o que é um simbolo quimico? ela tem desculpa de não saber porque quiçá será de letras?...e os outros, de que área de especialidade eram?... pois.

Não estou a dizer que não há falta de cultura geral. Há e é gritante. E é um problema muito mais complexo do que parece à primeira vista. Mas usar um video da sábado, que não é propriamente um primor de jornalismo, manipulado, sensacionalista, para formar a opinião pública?... as pessoas acertam umas 8 perguntas e falham duas. Só são mostradas as duas em que falharam. O que nos diz isso? que se soubermos quem pintou o tecto da capela sistina mas andarmos em festas anti-vacinação e tomarmos "vacinas" homeopéticas, somos cultos? que bom para a saúde pública, então...

o que quero dizer é que este video da sábado é péssimo jornalismo, manipular e sensacionalista, e baseou-se num pseudo-estudo em que se reduziu cultura geral a uma dúzia ou pouco mais pouco menos de questões. O conhecimento é mto vasto, mto mesmo.

Ana disse...

Ah, sim: o video americano aqui é brincadeira - reparem no logotipo CNNN: http://en.wikipedia.org/wiki/CNNNN~

A CNNN é do estilo Inimigo Público. Por isso, não creio que possa representar alguma realidade...

Mas conhecemos todos um video que correu a net em que se mostrava a suposta ignorancia dos americanos (até podia ser este, já não me lembro) e que fez a opinião pública achar que eram todos burrinhos (são tanto qto nós, estatisticamente...). E era um video MANIPULADO. Vamos deixar que sejam brincadeiras e mau jornalismo e pseudo-estudos que formem a nossa opinião?... ^

Por acaso é o cúmulo dos cúmulos que um mau trabalho jornalistico e um pseudo-estudo sobre ignorância contenha tanta ignorância da parte de quem o concebeu...

Joana Sa disse...

para um blog que defende o espirito critico, este post revela alguma falta de critica. Essa reportagem foi manipulada e diz mais sobre o jornalismo do que sobre os universitarios. Uma boa critica, na minha opiniao, encontra-se aqui: http://arrastao.org/2402533.html

Anónimo disse...

Hoje a minha aula quedou-se num único ponto: o laicismo da 1ª República. Com apenas 90m de aula convenhamos que foi um desperdício, não? Bom, a verdade é que não havia meio de aqueles meninos perceberem do que se tratava. Só a meio da aula é que percebi que nem distinguiam um islamita de um judeu ou de um cristão e nem achavam nada de estranho o facto da religião poder comandar a vida de cada um.
Meio a rir a certa altura comecei a dar com a (minha) cabeça na parede. Não é possível tanta falta de espírito crítico, nem mesmo num 9º ano!

Sucesso o quanto estragas!

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Sem mais, reproduzo as fotografias e as palavras que compõem o último postal de Natal do Biólogo Jorge Paiva, Professor e Investigador na Un...