quinta-feira, 10 de novembro de 2011
A MORTE ANUNCIADA DO METRO MONDEGO
Meu artigo de opinião na revista C saída hoje:
Nos anos 60 do século XIX, fizeram-se obras para alargar a rua Ferreira Borges, na Baixa de Coimbra, e cortou-se uma parte da Igreja de S. Tiago. Nos anos 40 do século passado a destruição da Alta em nome do progresso foi um prejuízo lamentado por muitos. Há pouco, a Baixa voltou a ser destruída, com a abertura de um canal para a instalação da linha urbana do Metro Mondego (linha do Hospital). O progresso é, por vezes, cego e bruto.
A recente destruição da Baixa de Coimbra poderá ser pior do que as outras. Da primeira vez, ficou uma rua maior, antes à disposição dos carros e agora à disposição dos peões. Da segunda vez, ficaram edifícios de estilo mussolínico que albergam uma boa parte da Universidade. Desta vez, poderá não ficar nada, pois o governo da nação acaba de anunciar a morte do Metro Mondego. Fica o buraco, o buraco na cidade e o buraco no orçamento.
De facto, já se gastaram, desde o início do projecto, 140 milhões de euros. O governo quer simplesmente repor os carris, que mandou tirar, na linha suburbana (a linha da Lousã), o que vai custar mais 70 milhões de euros, mas não há nenhuma garantia de que esse investimento seja rentável, pois a linha, desligada ou mal ligada à rede ferroviária nacional (que, neste dias de crise, está a ser muito reduzida), não será provavelmente sustentável, podendo os carris vir a ser novamente retirados, ou a linha aproveitada, como outras, para percursos pedonais. Quer dizer, o governo, principal accionista da empresa Metro Mondego, se prosseguir na sua intenção, vai querer mandar 210 milhões de euros para o lixo. Não é uma derrapagem: é um estampanço! Bem sei que não é nada comparado com a nacionalização do BPN, mas mostra a leviandade de políticos de todos os quadrantes, não apenas os de ontem como os de hoje.
Houve um mau planeamento deste projecto. Há duas necessidades diferentes, às quais se pretendeu suprir com uma só solução. Uma é a necessidade de melhorar a circulação de pessoas em Coimbra, urbe que tem sido esquecida pelo poder central, enquanto se investia nos Metros de Lisboa e do Porto. Por essa Europa fora, em cidades como Coimbra, existem linhas de eléctrico rápido (um metro de superfície), que asseguram a circulação diária a quem vive e trabalha na cidade e também a quem vive fora e lá vem trabalhar. Ainda há pouco estive em Heidelberg, sítio da universidade alemã mais antiga, e vi como os transportes são modernos. Outra necessidade é a melhoria do ramal da Lousã. Por essa Europa fora, há comboios suburbanos, que servem as populações que dormem fora e acorrem às cidades. As duas necessidades poderiam ter sido e podem ser tratadas em separado. Seria um grande erro desistir das duas ideias do Metro Mondego. Mas temos, nesta hora de aflição financeira, de estabelecer prioridades e avançar apenas com aquilo que for mais útil a mais gente. Na Baixa de Coimbra, um canal de circulação, mal ou bem, já foi aberto. E os carris no ramal da Lousã já foram arrancados. Temos de estudar bem o assunto e avançar com a construção do que for irreversível. Na minha opinião, a cidade de Coimbra não poderá ter futuro sem uma rede de transporte rápido. Quando mais tarde a fizerem, mais tarde surgirá o futuro.
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1 comentário:
Comecei nos blogs e achei este muito interessante.
Estou em http://anticolonial21.blogspot.com/
O meu blog é de livre-pensamento nestes tempos de crises.
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