quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"Não existe nenhuma razão concreta para a escolha deste autor"

Procurando na internet uma imagem para ilustrar o post anterior - Ruy Belo: "Um homem de palavra(s) -, encontrei um denominado site de estudantes onde o poeta surgia.

Devo dizer que me alegrei por pensar que numa escola a poesia pode estar de tal modo presente que se chegue a Ruy Belo.

Tratou-se de uma alegria breve, que não durou mais do que uns décimos de segundo: fixava eu os olhos numa tira onde constavam Camões, Alexandre Herculano, Pessoa, Bocage e Eça, quando surgiu, do nada mas em grande pujança, publicidade a um grande supermercado e, a seguir, a uma transportadora aérea...

Não obstante a estranheza de ver tapados os nossos autores clássicos, só se lhe vendo um bocado da testa e cabelo, avancei para chegar ao tratamento que alunos de escolas portuguesas fazem da obra de Ruy Belo.

Li Justificação do tema escolhid, que, em conjunto com outros tópicos, parecia ser parte de uma grelha feita, certamente, por um professor diligente para orientação de trabalhos académicos.

E, li a justificação que alunos que estão no nosso sistema educativo deram para escolher estudar (?) Ruy Belo, e que é a seguinte: O tema escolhido, neste preciso caso, o autor Ruy Belo, foi escolhido aleatóriamente, uma vez que dentro da turma existia mais do que um grupo interessado no mesmo autor. Assim não existe nenhuma razão concreta para a escolha deste autor.

O que se seguia era compatível com esta declaração. Não me parece ser necessário acrescentar mais nada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Através do plano anual de atividades, do projeto de escola, do não sei das quantas da turma... a escola obriga o professor a participar num show off de projetos e atividades que pressupõem o envolvimento dos alunos. Como os alunos já deitam estas cenas todas maradas pelos olhos, a que é que se assiste?: a senhores professores a fazer trabalhos manuais, com 1 ou 2 alunos para inglês ver. E assim se enchem as paredes da escola com trabalhos feitos pelos professores a fingir que são feitos pelos alunos.

Como nos mostrou Aristóteles, o homem aprende por imitação. E assim, os alunos aprendem a mecânica do show off e depois fazem as trampas de que aqui se fala.

Não vale a pena culpar os professores (não nos esquçamos que em tempos de ditadura, quem não alinha está f..., - e eu sei-o por experiência própria), nem os alunos, os alunos aprendem por imitação...

Culpemos sim, com toda a veemência e indignação, os de cima que, de certezinha absoluta, não só andam a fumar droga,como cairam num caldeirão dela quando eram pequeninos.
HR

Gabriel Oliveira disse...

Nada mais certo, cara Helena Damião: não existe nenhuma razão concreta para se escolher este autor [Ruy Belo]. O bom era que se escolhesse por amor, e esse não precisa de "razões concretas" - nem pode, tão difuso que é! Está certo, aqui não terá sido o amor, mas sim a aleatoriedade. Ficamos com meia verdade, e deixo-lhe a si o outro "meio caminho", o de esculpir pontes entre o aleatório e o amor. E, quem sabe, descobrir que tudo isso é Belo! ;)

Anónimo disse...

Apenas pelo que li aqui: Penso que os alunos fizeram um sorteio para ver que grupo ficava com o autor, visto que havia mais grupos interessados (o que é positivo). Quanto ao que escreveram na justificação, os miúdos devem ter achado engraçado brincarem com o facto de haver sorteio.

TODA A GLÓRIA É EFÉMERA

Quando os generais romanos ganhavam uma guerra dura e bem combatida, davam-lhes um cortejo e rumavam ao centro de uma Roma agradecida. ...