segunda-feira, 14 de novembro de 2011
O GENOMA PORTUGUÊS EM MEGABYTES DE UTILIDADE PÚBLICA
Crónica publicada no Diário de Coimbra.
Haverá um genoma português? Qual a diferença genética entre dois indivíduos de uma mesma população, ou um pouco mais longe, de uma mesma nação?
Neste momento a melhor resposta às perguntas anteriores é um honesto não sabemos. A este respeito, recordo o trabalho efectuado por vários geneticistas e compaginado em livro por Luísa Pereira e Filipa M. Ribeiro, intitulado “O Património Genético Português”, editado pela Gardiva em 2009. Neste livro, estas investigadoras portuguesas apresentam e sumariam a memória genética que a diáspora portuguesa pelo planeta humano, acentuada principalmente a partir dos Descobrimentos, deixou inscrita nos genomas de indivíduos que hoje habitam as várias partes do Mundo.
Qual a diversidade genética que se torna denominadora comum de uma proveniência portuguesa e que se podem identificar sobre o pano geral que é genoma da espécie humana? As autoras identificam não uma, mas várias. Aliás não é de espantar se atentarmos na origem diversificada dos povos que ocuparam o que veio ser o território nacional, as migrações de vários povos devidas a questões religiosas como a da ocupação moura e a reconquista cristã, a coabitação com populações judaicas e outras provenientes de África e da América do Sul, etc.
Este caldeirão de miscigenação há-de ter cunhado um genoma português de difícil caracterização, a não ser por ser ele próprio muito diversificado. Não pense que há um gene português. O que poderá haver são variações singulares em determinadas bases de porções do genoma humano bem localizadas, impressões portuguesas nos cerca de 25 mil genes entretanto identificados, que mostram ao investigador uma probabilidade maior de um dado indivíduo ter antepassados lusos. Da mesma forma, permite ao investigador identificar, em indivíduos nascidos em Portugal, variações genéticas que apontam para uma ascendência provinda de outros continentes.
Repare que esta informação genómica não é só útil ao próprio sequenciado (permitindo-lhe o acesso a um álbum de família insuspeito) e às disciplinas científicas de óbvia associação (bioquímica, biologia molecular, genómica, farmacogenómica, medicina, ente outras), mas também ao antropólogo, ao historiador, ao sociólogo, ao político, ao economista.
Sabemos que o conhecimento que poderá um dia permitir responder aquelas perguntas está a ser alvo de investigação multidisciplinar, envolvendo disciplinas derivadas da bioquímica e biologia molecular, da genética e genómica, da antropologia, do desenvolvimento de programas informáticos específicos para a sequenciação e análise da enorme quantidade de dados, de soluções informáticas críticas para o armazenamento e utilização da informação recolhida a partir sequenciação, do desenvolvimento de computadores com capacidades de computação ou de cálculo que tornem aquelas tarefas muito mais rápidas, exequíveis financeiramente, ao alcance da população em geral, incluídas em futuras rotinas analíticas.
Importa sublinhar bem que o conhecimento adquirido através da sequenciação do genoma de um dado indivíduo possui uma grande utilidade potencial para o próprio e para a saúde pública em geral. É que permite identificar propensões genéticas para determinada perturbação que resvale em doença, permite identificar sinais de alarme para uma prevenção propiciadora de uma melhor qualidade de vida, permite ajustar uma medicina apropriada à individualidade específica a cada um de nós e ajustar a terapêutica mais adequada e eficaz.
Assim é de saudar a convergência entre o Biocant Park, a Critical Software e o Centro de Física Computacional da Universidade de Coimbra no esforço conjunto de saberes e competências para um fim comum que, estudando a especificidade de cada individuo é, no fundo, dirigida e do interesse de todos. Esperemos que o desenvolvimento tecnológico permita vulgarizar a sequenciação genómica para que dela possam todos usufruir.
António Piedade
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1 comentário:
Muito interessante!
HR
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