quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Entrevista sobre "Cálculo" de Djerassi
A propósito da estreia do espectáculo "Cálculo", no Museu da Ciência da UC, no dia 17 de Novembro, a jornalista Catarina Martinho colocou-me algumas questões:
P- Pode explicar, muito resumidamente, a "história" desta peça?
R- A peça "Cálculo" é sobre a invenção do cálculo infinitesimal, um ramo da matemática que surgiu no século XVII para descrever os movimentos. Acontece que essa invenção foi feita quase ao mesmo tempo por dois génios da época: o inglês Isaac Newton e o alemão Gottfried Leibniz. Mas Newton tinha mau carácter e, à frente da Real Sociedade de Londres (a Royal Society, onde permaneceu até à sua morte, em 1727), tudo fez para ficar sozinho com os louros e a glória. É, portanto, a história de uma intriga, que retrata a natureza humana, mais do que a apresentação de uma questão científica.
P- Do seu ponto de vista, qual a mensagem chave de "Cálculo"?
R- O teatro tem a virtude de revelar a natureza humana e esta peça fá-lo mais uma vez. Mostra que um grande génio da humanidade, Newton, era humano, tendo muitos dos defeitos dos humanos. Era ambicioso, prepotente, desmedido. Mostra, em geral, que a ciência é uma actividade humana. É feita por humanos e para os humanos.
P- Esta peça poderá atrair a atenção do público em geral ou é mais dirigida ao "público das ciências"?
R- Pode e deve atrair o público em geral, pois pouco da peça é científico e nada ou quase nada da peça é matemático. Não há quaisquer equações! O tema é que tem uma base na história das ciências. E é bom que o público conheça a história das ciências. É tão interessante como, por exemplo, a história da filosofia ou a história da religião. Aliás, todos estes aspectos estavam, na época, ligados Newton e Leibniz são também autores de uma polémica sobre o lugar de Deus no mundo.
P - Que particularidades de Carl Djerassi mercerem ser destacadas?
R- Djerassi é um cientista e empresário norte-americano de origem austríaca que, a dada altura da sua vida, resolveu enveredar pela escrita teatral. Tem algumas peças de tema científio, além do "Cálculo", duas das quais já foram representadas em Portugal: "Este espermatozóide é meu" e "Oxigénio". Actualmente está a ser representada no Porto outra peça dele, "Falácia", sobre as relações entre ciência e arte. Na sua dramaturgia há aquilo que ele próprio chama "science-in- theatre", ciência no teatro. Isto é, trata-se de teatro onde se pode aprender, de uma maneira leve e por vezes divertida, alguma ciência. Tem tido sucesso em palcos de todo o mundo. De facto, o teatro é uma das melhores maneiras de transmitir cultura científica, de levar
a ciência para o seio da sociedade.
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