A iniciativa do Instituto Nacional de Estatística relativa aos Censos 2011, aprovada pelo Ministério da Educação e a que me referi em dois textos anteriores, não pode deixar de constituir um intolerável desrespeito:
- pelas funções da escola, que se deve concentrar na leccionação do currículo pré-estabelecido, de modo a cumpri-lo da melhor maneira, sem a constante interferência de solicitações avulsas como esta;
- pela profissionalidade docente, em cujo âmbito cabe a elaboração autónoma de planos e a gestão das aulas, o que, neste caso, é ignorado ou, mesmo, negado;
- pelas famílias, que, nesta mobilização nacional, são envolvidas indirectamente, por interposta pessoa – os professores que, de modo mais ou menos consciente, influenciam os alunos que, por sua vez, influenciam os pais e encarregados de educação;
- pelos alunos, que são desviados das suas actividades de aprendizagem, para, de modo uniforme e cego, realizarem tarefas que em nada contribuem para o seu desenvolvimento cognitivo;
- pela relação família-aluno, em que, numa inversão de papéis, se atribui à criança ou o adolescente a função e a responsabilidade de sensibilizar os adultos e os ajudar a responder à dita mobilização.
Isto para não falar do controlo institucional que se insinua neste envolvimento das escolas-professores-alunos-famílias, e que é tão declaradamente evidente nas tarefas da aula do 1.º Ciclo.
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7 comentários:
"pelas funções da escola, que se deve concentrar na leccionação do currículo pré-estabelecido, de modo a cumpri-lo da melhor maneira, sem a constante interferência de solicitações avulsas como esta"
é isto que entende por escola? Que tristeza.
Pelo que leio no “Censos vão às escolas” concluo que ele só se aplicará na “Escola Secundária Tomaz Pelayo”, e a sua ALEA Acção Local Estatística Aplicada, ou, quando muito, nas escolas sob o domínio da “Direcção Regional de Educação do Norte”, já que foram ambas entidades que congeminaram o Censo com a colaboração do Instituto Nacional de Estatística.
Daqui se conclui que o Censo não é destinado a nível nacional e, possivelmente, nem regional, mas apenas local, a Escola Secundária Tomaz Pelayo, e possivelmente, também o seu Centro de Novas Oportunidades, já que no seu sítio, se explica que:
“Os Censos 2011 vão realizar-se nos próximos meses de Março e Abril de 2011. A colaboração empenhada dos professores e alunos, dos vários níveis de ensino, será fundamental para o sucesso desta operação censitária. Na sequência do anterior e-mail - enviado em 2010.11.08, N/Refª.: Of. Circ. 212/CD/2010 – reitera-se o pedido de colaboração dos professores para ministrarem uma aula sobre a temática dos Censos.”
Para se saber o que é a ALEA, e como ela nasceu na Escola Secundária Tomaz Pelayo, nada como passear os olhos pela ALEA.
Conclusão: o Censo Escolar centra-se apenas na referida Escola. A nível nacional já o Instituo Nacional de Estatística tinha comunicado aos media, e, que se saiba… nada se sabe.
Agora, se o Instituo Nacional de Estatística, em vez de escolher a via normal dos media, optou por comunicar directamente, à sorrelfa, às escolas, e como este Governo tem andado em roda livre, isto significa que introduziu mais um instrumento de diversão para que os problemas graves fiquem esquecidos, preferindo alimentar a comunicação social com mais esta exigência extra aos trabalhos dos professores, perdão, dos escravos.
Como é isto possível ?
Deixe, caro João Boaventura.
Com estas e com (tantas) outras, os professores "rejubilam". Sentem-se "úteis"...
Vai uma aposta?
Obrigado, Professora Helena Damião.
Cara Helena Damião,
Depois dos sociólogos, dos psicólogos, dos sexólogos e dos financeiros, porque não os censólogos a mandar nas "escolas" públicas? Se aquilo serve para tudo, menos para aprender, porque não?
A cidadania devia ser ensinada na escola, mas não avulso nem com laivos de eduquês.
Esta actividade e outras similares poderão, na minha opinião, ter lugar na Escola, desde que pensadas para serem incluídas, de forma coerente, no currículo escolar. O que não é admissível é que "se despejem nas escolas" as mais diversas actividades, de forma avulsa, ignorando completamente que a educação escolar (se calhar como todas as outras coisas) tem de ser planificada de forma a abrir caminhos conscientes e coerentes aos alunos.
Assim, de improviso, acrescentando um projecto de Educação Sexual aqui, uma iniciativa autárquica além, uma participação numa outra iniciativa acolá... é que não tem credibilidade nenhuma e é uma falta de respeito pelos profissionais de educação que, depois, são acusados de não cumprir os programas e de não preparar convenientemente os alunos para as etapas que compõem o percurso escolar.
Já agora também era conveniente que o Ministério da Educação - tutela das escolas - compreendesse que as actividades escolares se desenvolvem por anos lectivos: é esse o ritmo normal das escolas e é nesse sentido que se preparam as actividades, com a matéria-prima disponível em Setembro. Qualquer iniciativa que se pretenda aduzir depois deveria, na minha óptica, ser reservada para o ano lectivo seguinte.
É impossível trabalhar de forma eficaz com uma tutela que nem compreende os ritmos próprios das instituições que superintende.
Sendo professora, não entendo as objecções aqui apresentadas... Estamos a falar de uma aula... em que é que isso pode impedir o ensino dos conteúdos programáticos?!!! Além do mais, o tema enquadra-se nos programas das disciplinas seleccionadas para aplicar esta proposta. A cidadania é um dos objectivos primeiros da educação, logo parece-me óbvio que a escola e os professores se dediquem a promover atitudes responsáveis por parte dos alunos. Muito sinceramente não compreendo do que fala quando refere o "controlo institucional" que se pretende exercer com esta colaboração das escolas!!!! Os Censos pretendem conhecer dados concretos sobre a situação dos portugueses, não incutem valores... Fico muito preocupada quando vejo colegas a defender que os docentes devem apenas transmitir conhecimentos, leccionar os conteúdos programáticos... Nunca me revi nestas posições francamente passadistas!!!
Saudações democráticas.
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