sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
O jogo dos economistas
Habitual destaque para a crónica de J.L. Pio Abreu no "Destak":
"Depois de se meterem no buraco no início de uma crise que não souberam prever, eis que se levantam, de novo, os economistas de palco cheios de receitas para os nossos males. Não os suporto. A satisfação arrogante com que nos propõem o mais miserável destino e as mais contraditórias soluções, põe-me os cabelos em pé.
Senhores da fortuna e da desgraça, todos se armam em deuses, sabendo que são deuses menores porque tudo depende dos políticos que neles delegaram as responsabilidades. Mas que fazem eles, os economistas?
Nos negócios e empregos que têm, eles são os actores e os principais beneficiários do jogo económico. Nas Universidades, ditam as regras desse jogo. Nos Governos ou na influência que têm, eles apoderam-se também do campo de jogo onde, por suposto, jogam todos os cidadãos.
Usam palavras esotéricas, estrangeiradas, com que disfarçam os lances que executam. Nenhum deles aprendeu Matemática, e apenas lida com contas simplórias, feitas de percentagens, somas e subtracções, ao alcance de um computador ou de qualquer contabilista que conheça o significado das palavras. Mas é um jogo onde são jogadores, árbitros, donos do campo e ainda ditam as regras. Assim, qualquer um ganhava.
Todo o seu discurso, no fim de contas, se destina a ocultar uma verdade que, incluindo eles, todos conhecem: a única coisa que produz riqueza é o trabalho humano. A contabilidade serve apenas para a distribuir. E mal."
J. L. Pio de Abreu
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10 comentários:
As opiniões são livres e cada qual tem direito à sua. O mesmo se passa com os fantasmas pessoais. Se este JLPA que aqui zurze nos economistas é o mesmo que opina sobre assuntos económicos quando lhe apraz, como se os dominasse, será com certeza melhor explicado pela psicologia do que pela economia. E, de facto, os homens da economia podem ser com justiça acusados de muita coisa feia, agora, que um bom moço formado em psiquiatria, considere que a matemática dos economistas é curta, demonstra doses simultaneamente elevadas de jactância e de ignorância. O senhor JLPA deve ser avisado de que a economia vai um pouco para lá da «introdução à economia” de João César das Neves que ele parece ter na mesinha de cabeceira.
Entre os economistas, como em todas as actividades, há indivíduos sérios e puros aldrabões. Samuelson, por exemplo, é um dos génios que eu gosto de considerar meu mestre, embora, de um modo geral, despreze economistas.
O problema dos economistas é que são óptimos a fazer diagnósticos, mas absolutamente incapazes no processo curativo. A forma normal de se comportarem é parecida com a de um médico que dissesse ao paciente: "senhor Cruz, já vi as suas análises e a sua biopsia. O senhor tem um cancro muito avançado. Tem que se curar! Se não curar este cancro, morre". E que depois da morte do paciente aparecesse muito orgulhoso: "eu fartei-me de avisar, fartei-me de advertir: olhem que se o sr Cruz não curar o cancro, morre! Não me quiseram ouvir, agora aí têm, o senhor Cruz morreu."
Quando avançam com qualquer proposta para a resolução dos problemas, essa proposta é absurda. Por exemplo, o estado tem que reduzir a despesa pública - dizem eles. Mas como é que isso se faz? - perguntamos nós. Tem que se despedir 600.000 funcionários públicos - respondem eles (que, invariavelmente, ganham a vida à custa do Estado e contribuem para a despesa deste, com as remunerações mais altas que o Estado paga). Mais uma vez, é como o médico que dissesse ao doente: "o senhor tem cólera, mas isso passa, se beber cinco litros de lixívia."
O problema da Economia é que não é uma ciência. Por muitos modelos matemáticos que estabeleça, estes assentam sempre em pressupostos e axiomas arbitrários que a realidade tende a desmentir. É que a Economia lida com um elemento irracional que não pode ser manipulado: a confiança dos agentes económicos. A evolução desta é imprevisível e incontrolável. É por isso que, por exemplo, o FMI injecta uns milhares de milhões de euros numa economia com a certeza que a medida fará diminuir a taxa de juro e, ao outro dia, os mercados abrem com a taxa de juro a subir.
Como seria bom que os países fossem governados por poetas, não é? Não davam más notícias e, por certo, punham tudo baratinho. Foi o que experimentaram na defunta União Soviética. Os preços dos produtos eram de saldo. O problema é que não havia nada para comprar...
Platão, na República, também queria afastar os poetas do poder. Felizmente, depois veio Karl Popper que denunciou Platão.
Mas não é suposto um economista comum ler Platão ou Popper. De um modo geral, eles contentam-se com a última vulgata do último guru e salivam conceitos velhíssimos inventados pelos romanos, mas numa linguagem inglesa muito moderna cujo uso eles imaginam ser inovador, revolucionário e científico.
A verdade é que, contra o que diz o comentador Américo (que eu ignoro completamente se leu ou não Platão e Popper, não sendo directamente para ele alusão anterior nesse sentido), não há nenhuma evidência científica que os estados governados por economistas tenham obtido melhores resultados no seus crescimento económico (e importa lembrar que o crescimento económico não é tudo) do que os que o não são. Também não sei onde foi buscar a ideia de que a extinta URSS era governada por poetas. Pelo contrário, a ideia básica do pensamento soviética (fundada nas lições de filosofia económica de Karl Marx)era justamente uma ideia económica, não poética: a ideia de que a Economia é uma ciência com leis tão rigorosas e inescapáveis como a Física. Daí que se pudesse trabalhar com regras de engenharia social, tal como se fabricam automóveis com as regras da mecânica. É esta ideia que preside também ao pensamento do comum dos economistas. De Cavaco Silva, por exemplo. Foi ele que disse que nunca tinha dúvidas e que duas pessoas razoáveis e de boa fé, perante os mesmos dados económicos, chegam sempre às mesmas conclusões. Foi ele, um economista, que tratou a economia como uma ciência determinística. Tal como se defendia na URSS.
Se as comparações absurdas são legítimas, então eu adiantaria que o Brasil, por exemplo, tendo na presidência um operário meio poeta, revelou nos últimos anos uma tendência para o sucesso muito maior do que o nosso país, como o seu primeiro magistrado doutorado em economia e finanças por York.
O meu texto anterior tem tantas gralhas, erros de concordância, dislates gramaticais que, não obstante eu manter o essencial do seu conteúdo, me envergonho dele.
Rogo ao responsável pela publicação dos comentários que publique também esta nota, para que eu não passe a ter que me apresentar aos leitores do blog Rerum Natura com a cara coberta.
Caro Funes:
Se tem gralhas o seu texto, deixe estar que não se repara nelas, face à fundamentação do seu conteúdo, que é o mais importante, neste caso.
A sua cara pode pois andar bem descoberta...
A si, pelo que escreveu, muito grato me sinto.
E muito solidário com o sentimento e pensamento de J. L. Pinto de Abreu, com excepção da referência à ignorância dos economistas em matemática, que não estou em condições de avalizar.
A ele, também, um obrigado.
Concordo em grande parte com o que é dito no artigo. Tirando um facto. Não sou grande conhecedor da matemática, mas o conhecimento de economia que tenho diz-me que não é bem verdade que não percebam nada de matemática.
As percentagens e subtracções simples que se vêem nas tv's são apenas uma pequena parte do que se vê. Também se trabalha com equações diferenciais, também se fazem problemas de optimização complexos com recurso a matrizes complicadas. A estatística então, duvido que algum curso, excepto matemática, aborde tanta estatística como a economia.
Tudo aquilo que se ouve na tv é resultado de muita matemática também muito complexa.
Agora, eu acho que o problema está exactamente numa visão simplista do comportamento humano e social que não é tão facilmente matematizável como os economistas pensam. É esse o verdadeiro erro...
Caro Funes, o memorioso,
Poetas são aqueles que dizem que "há mais vida para além do défice", são aqueles que acham que a cultura não tem que ver com dinheiro, que não querem saber de orçamentos e pensam que o dinheiro vem do multibanco...
Cordialmente.
Caro Funes, o memorioso,
Afirma, com uma certeza fundamentada não se sabe em quê, que "não é suposto um economista comum ler Platão ou Popper." Errado. Um economista comum não é um contabilista e da sua preparação consta e leitura de Platão, mas também de Aristóteles, Maquiavel, Malthus, Adam Smith, Karl Marx, Shumpeter, Keynes e muitos outros que, por certo, conhecerá bem e me escuso aqui de enumerar para não cansar os nossos leitores...
Ao estilo de "O Rei vai nú", este artigo acerta na mouche: a preparação dos Economistas em assuntos financeiros é Muito Fraca! Porquê? Porque há que encher os bancos das faculdades e isso faz-se com pouco desemprego e....pouca Matemática! Pior: a optar entre as duas coisas...bem o Emprego ainda se safa com a política, agora a Matemática é que não me obriguem a fazer!
A história é antiga, quando a guerra do Vietnam obrigou ao corte dos fundos à Nasa, os Físicos e Matemáticos desempregados ("Rocket Scientists") foram absorvidos por Wall Street, pois mais ninguém tinha preparação para entender os modelos financeiros. Agora imaginem 30 anos depois, hoje a dimensão financeira da Economia é brutal, os modelos são complexos. Os Economistas limitam-se a USAR os Modelos, mas não os compreendendo matematicamente ignoram as suas limitações (não quero insultar ninguém, mas é muito raro encontrar algum Economista que conheça, por exemplo, os pressupostos e limitações do modelo de Black-Scholes e sem isto é impossível compreender qualquer formação de preços no mundo actual-incluindo as Obrigações de que todos falam). É daí que vêm uma certa arrogância política (defesa). O perigo disto tudo são as decisões políticas baseadas em Dogmas, os mesmos que conduziram à Catástrofe após a Grande Depressão: temos novamente maniqueísmos «Adam Smith versus Karl Marx» em grande força no debate político. Interessante terem falado do Nuno Crato. Claro que ele sabe Matemática, ora não fosse um dos mais citados Matemáticos portugueses, ainda por cima premiado pelo trabalho de divulgação. Só não entendo como é que alguém assim aceita um cargo político. Mas depois vejo-me a pensar: ora se houvesse muitos assim no Governo, que bem que estaríamos agora!
K.
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