quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Carlos Queiroz vítima de autêntica chacina pública

“Os bons vi sempre passar/No mundo graves tormentos;/E para mais me espantar/ Os maus vi sempre nadar/ Em mar de contentamentos” - Luíz Vaz de Camões.


Neste blogue, vezes várias, na altura que sobre ele recaíam severas e injustas críticas durante e depois do último "Campeonato do Mundo de Futebol", fui defensor público de Carlos Queiroz, seleccionador nacional de futebol, licenciado em Educação Física e professor da disciplina de Futebol no ISEF/Faculdade de Motricidade Humana (UTL). Foi, por isso, com agrado e mesmo júbilo que vi publicada num jornal desportivo a notícia que a seguir transcrevo, sem grandes comentários havidos por mim desnecessários:

“O antigo campeão do Mundo em Riade, em 1989, Amaral, considera que foi «uma autêntica chacina pública» o tratamento dado a Carlos Queiroz no seu regresso à Federação Portuguesa de Futebol.

«Só tenho pena que não tenha tido a noção que estava bem no Manchester e que não tinha nada que regressar, mas isso foram opções do professor», adiantou hoje à margem da Gala dos Campeões de Riade.

O também antigo jogador do Sporting e Benfica adiantou que a tentativa de voltar a mudar o futebol português por parte de Queiroz não foi entendida pela grande maioria das pessoas.

«Não sou defendor de Queiroz, apenas tenho olhos na cara para ver o que fez pelo futebol nacional. O seu regresso foi um sonho para ele, para tentar fazer pela equipa principal o que fez pelas selecções jovens e foi incompreendido, atacado, acabando por prejudicá-lo e prejudicar o futebol português.»

Amaral chegou ainda a traçar algumas diferenças entre as duas gerações (a de 1989 e 1991 que alcançaram os títulos de campeões do Mundo sub-21)

'Conseguimos alcançar o que nunca ninguém imaginaria ser possível. Temos que ter a noção e assumirmos que fomos responsáveis pela maior mudança do futebol português e estamos cientes que é bastante difícil voltar a haver uma geração como a nossa, o que não significa que não venha a acontecer. O que tivemos que falta agora? Fomos fortes a nível de grupo. Éramos muito amigos e coesos e, acima de tudo, fomos jogadores inteligentes que conseguimos entender as palavras e a mensagem do professor Carlos Queiroz', remata.

As declarações foram feitas à margem da apresentação da Gala dos Campeões, que vai precisamente juntar as duas gerações de campeões do Mundo, que se vão defrontar no próximo sábado, às 14.30 horas, no estádio do Cova da Piedade, não só para marcar a reunião dos antigos campeões como para ajudar a instituição de solidariedade 'Janela Aberta', para a qual irão reverter as receitas do encontro”
(in “A Bola”, o6/01/2011).

Recordo que ninguém é profeta na sua própria terra, apesar dos elogios que lhe teceu Sir Alex Ferguson, o conceituadíssimo treinador do Manchester United, de quem foi adjunto durante vários anos, que se deslocou a Portugal para servir de testemunha abonatória no processo que lhe foi movido pela Federação Portuguesa de Futebol. Abstenho-me de adjectivar, esse processo em respeitoem primeiro lugar para comigo próprio e depois para não ferir a susceptibilidade de pessoas responsáveis por ele, que tomaram atitudes persecutórias nada abonatórias do espírito dos agentes do mundo do Desporto.

Na fotografia: A equipa de futebol portuguesa, campeã do mundo em Riade/89. Carlos Queiroz, numa altura em que era "bestial" para a Federação Portuguesa de Futebol, é o 4.º a contar da esquerda na fila do meio. "Ó tempore, ó mores!"

2 comentários:

Américo Oliveira disse...

Tudo bem, o homem terá valor. Tem inimigos? Será um problema dele. No caso, o que era importante saber era se de facto o seu comportamento foi ou não incorrecto para com a equipa médica que pretendia fazer o controlo anti-doping aos seus jogadores, pois, ao que julgo saber, foi esse o motivo do seu despedimento. E quanto a isso nem uma palavra...

Rui Baptista disse...

Caro Américo:

O caso do controle anti-doping passou-se numa altura em que o clima criado em redor de Carlos Queiroz - confirmado pela confissão posterior do vice-presidente da FPF, Amândio de Carvalho, de ter estado, desde o inicio, contra a sua contratação - não era propício a atitudes comandadas pelo coração, como tal, isentas de culpas que as vias legais em que, ainda, decorre este processo deverão esclarecer na devida altura.

Entretanto, as ilações que se tirarem deste “statu quo”são prematuras à luz da presunção de inocência até ao seu desfecho. Demos tempo ao tempo tendo em conta, como nos ensina o povo, de que o diabo tapa por um lado e destapa por outro…

Ademais, num país de "Novas Oportunidades" estar de posse de valiosas credenciais académicas de "antigas oportunidades" é "crime" que se não consente num país em que a mediocridade assentou arraiais. Mas obrigado pela seu comentário que extrapolou o campo dos jogos para caminhos do doping com a virtude de tentar não deixar pelo caminho rabos de palha na ajuda ao esclarecimento completo de um caso em que seria indesejável que se possa ver o argueiro no olho do acusado sem ver a trave nos olhos dos acusadores.

"Last but not least", é possível que Carlos Queiroz possa ter passado de bestial a besta da noite para o dia? Bestial no trabalho desenvolvido com jovens que trouxeram títulos mundiais para Portugal e na sua valiosa acção como treinador-adjunto na pátria do futebol tendo sido um dos seus ícones. E besta pelos resultados obtidos na África do Sul contra equipas poderosas como a Espanha (campeã do mundo nesse ano) e o Brasil.

Será que a campanha portuguesa foi assim tão má que justifique que Carlos Queiroz "tenha sido vítima de autêntica chacina"? Não fui eu que o escrevi. Servi-me desta sugestiva expressão como título do meu post. Redimo-me do facto de uma leitura em diagonal da notícia que reproduzi me ter induzido no erro de não mencionar o nome do autor das declarações do texto por mim citado. Para não passar por plagiador referencio o seu subscritor: Amaral, antigo campeão de Riade.

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