sexta-feira, 2 de julho de 2010
O fim dos hipers
Como é habitual destacamos do "Destak" de hoje a crónica de J.L. Pio Abreu:
Num dos seus últimos livros, Gilles Lipovetski caracterizava a nossa época como um tempo de hipercapitalismo, hiperconsumismo e hiperindividualismo. Se isto foi verdade, também é preciso perceber como tudo já está a mudar. O hipercapitalismo, ou o capitalismo financeiro levado às últimas consequências, rebentou. É difícil vislumbrar o que virá a seguir, mas o tempo da abundância, que os ortodoxos liberais prometeram, está a acabar.
O hiperconsumismo acabará a seguir, com agrado das nossas casas e arrecadações povoadas de inutilidades. Aliás, parece que andávamos todos a consumir aquilo que os chineses e alemães produziam.
Mas a proverbial inteligência da direita alemã levou-a a optar – e obrigar os outros a optar – pelas restrições económicas. Se deixarem cair o euro, não mais terão a quem vender as suas máquinas dispendiosas. E se os chineses deixarem encarecer o yuan, lá vão acabar as chinesices baratas.
Fica-nos o hiperindividualismo. “Eu, eu e só eu”, sem referência aos outros e às comunidades a que pertencemos, agora e no passado. Para compensar, nunca houve tantos grupos na internet, tantas causas virtuais nem tanto consumo da ficção que descreve “as nossas” seitas secretas.
Mas tudo isso é efémera ilusão. Se deixamos de partilhar na vida real, perderemos a identidade, as palavras e tudo o que nos torna humanos. Nem seremos macacos, que têm as suas pertenças. Seremos talvez robôs. Mas alguns, algum dia, terão de partilhar conversas para saber o que fazer dos tempos que aí vêm.
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1 comentário:
Ainda existem mais alguns hiper que não estão em vias de extinção: hiperconvencidos(as), hipermalformados(as), hipersabichões(onas)... e outros.
Bem dizia o cego que, quando vemos enchemos as nossas casas com objectos que não significam nada de importante para as nossas vidas e contra os quais, quando cegos, esbarramos a todo o passo.
Espero que sejamos um ser em mutação e que o futuro faça de nós algo de melhor do que aquilo que, como espécie, somos no presente.
Prolifera a desconfiança, o "deixa-me estar à escuta e de olho bem aberto para ver se ninguém colhe mais frutos e mais louros que eu".
Grande parte das vezes o que vejo é maldade face aos nossos semelhantes, despreocupação pelos problemas dos outros, vontade de espreitar, para contar e criticar, mas não para apoiar. Concluo: não me parece que seja no isolamento que encontremos as soluções. Os animais vivem em grupos e autoprotegem-se (Ah! descobri uma espécie assim: os políticos!. Conviria reflectir na pequenez do homem, que se julga grande, e na insignificância do tempo de uma vida... e vivê-lo de forma mais aberta, disponível, solidária, trazendo alguma alegria e felicidade a este tempo de passagem.
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