Detive-me no tom desses textos e mensagens e percebi que é, simultaneamente, de informação, de reivindicação, de apelo à consciência social e individual, mas também de simples desabafo, de rendição… na certeza de que nada nem ninguém parará esta mudança que vai ao arrepio de toda a lógica e conhecimento que temos acerca do que deve ser uma escola funcional.
“Estamos de luto”, li num texto. Se as escolas, para o serem verdadeiramente, têm vida e identidade, esta é a expressão certa para traduzir o estado de espírito de quem as vê desaparecer.
12 comentários:
Cara Doutora:
É pena que aqui, neste vosso excelente blog em que se fala de ciência e ensino, não se tivessem apercebido antes da maluqueira que por aí vai no que diz respeito às fusões de Escolas e Agrupamentos. A vossa voz incómoda poderia ter ajudado a salvar algumas Escolas e Agrupamentos do assassínio e parricídio que sofreram.
Há casos de concelhos com vários Agrupamentos, cerca de 3.000 alunos e mais de 300 professores que vão ser telecomandados por 3 professores, escolhidos politicamente pela DRE - veja-se o caso de Seia: um concelho que tem mais de 400 km2 e passa de 5 para 1 Agrupamento!
Quando, para se poupar míseros cêntimos se sacrifica todo um concelho e as suas crianças e jovens, justificando com mentiras o que se passa, está tudo dito.
Caro Fernando Martins
Tem razão. Devíamos ter escrito mais sobre este assunto tão preocupante aqui no "De Rerum Natura". Até porque foi um assunto de que demos conta logo quando o fecho de escolas se iniciou
(http://dererummundi.blogspot.com/2007/09/quem-abre-uma-escola-fecha-uma-priso.html)
Não creio, porém, que aquilo que se escreve neste e noutros locais faça qualquer diferença. As decisões, uma vez tomadas, são para cumprir, não importando a sua razoabilidade, a sua correcção, nem a sua aceitação.
Cumprimentos;
Helena Damião
Fernando Lourenço
Sento-me apenas sobre um muro desenrolando as minhas locubrações na paisagem que se estende na minha frente. Apenas isso...não sou de um lado nem de outro.
Mas gostaria de perguntar:
-Não será que é a sociedade a mudar que motiva esta angústia sem nome que advém do olhar a escola?
Escola.. nem grande nem pequena.....a escola é um lugar de coisas onde mora, também, a arte que é a parte sagrada e pura dos actos da vida...porque a separamos da vida?...Porque a não integramos na nossa vida e nas dimensões que ela exige?
Porque a não adaptamos à familia ...Porque a não remodelamos à emergencia da nova sociedade que aí vem?...
Tempo que surge no qual, os pais, educarão os seus filhos na medida da sua afectividade e da sua obrigação....a formação dos nóveis será em função de um paradigma definido pela comunidade que se complementa, utilizando as valências dos elementos que a integram num sistema ou comunidade social....a formação será feita fundamentalmente, como hoje se diz, de um modo "on job training"...sendo professores os mestres de cada valência que integra o conhecimento de cada comunidade sistematizada....
Ou seja ...os pais educarão os filhos na sua unidade parental e os donos das valências que complementam a unidade social serão os professores nas áreas do conhecimento que dominam......Não haverá escolas...há apenas formação na actividade social.
É esta a angustia que a mudança provoca....estaremos a mudar para um outro sistema social.....os activos não podem ser arredados, somente, para renderem as mais valias esperadas pelos recolectores....os activos são todos...todos aqueles que integram a unidade social......descentralizados os poderes económicos, políticos e sociais.....a autarcia ou o espirito autárcito começa a ser propício a esse ambiente.....sem escola e sem lazaretos de Tormes onde os velhos se sentem inúteis....outra sociedade emerge.....por isso esta angústia sem nome que nos invade....e nos deixa de olhar perdido na paisagem....
Um dia li Roger Garaudi ....e pergunto apenas...porque não começamos a pensar?
cumps
Não é de luto só na educação
que se encontra o país, pois que no resto,
como de todos nós é manifesto,
ainda é pior o estado da nação!
JCN
O governo é minoritário. Se a oposição tivesse ideias claras sobre os problemas da educação em Portugal não deixaria o governo fazer esses disparates nem permitiria que repetissem os erros do governo anterior (o estatuto do professor, por exemplo, não é muito diferente do outro; calcula-se também que o novo estatuto do aluno, que está escondido algures numa comissão parlamentar, seja tão desresponsabilizador dos alunos e tão penalizador dos professores como o actual). Mas o que é facto é que a oposição não tem ideias claras sobre a educação.
Por isso, não vale a pena ter muita esperança. O futuro não será muito melhor que o presente, apesar deste ser horrível e quase insustentável.
O que, aliás, não se passa apenas na área da educação.
Acha, meu caro jotabil, que "sentado sobre um muro" se pensa melhor que sentado comodamente... numa cadeira? JCN
Pois é, já o disse aqui noutro lado – onde andam agora as 200 mil vozes que ainda há poucos meses atrás reclamavam pela dignidade da carreira docente, à custa da degradação da escola pública?
Somos assim, um país à medida dos nossos interesses particulares e daquilo que mais prazer nos dá no imediato – acção, acção custa muito, obriga-nos a sair do comodismo e a dar a cara. E aí… nem no futebol.
Se até aqui as relações entre política e futebol, política e finanças, política e o mundo empresarial deixavam a desejar, sou levado a suspeitar, agora, da ligação entre política autárquica e educação (directores escolares), sindicatos, associações de pais, especialistas de educação. E vivemos numa sociedade democrática! Onde foram ouvidas as comunidades escolares/educativas? E já agora onde andavam os docentes do ensino superior mais ligados a estas coisas da educação? Há um silêncio estranho das mais várias zonas de interesse à volta da escola e da educação em relação a esta questão que me leva a suspeitar de… não sei… se tivesse filhos em idade escolar, punha-os no ensino privado, mesmo pagando. Tenho-os em idade de poderem sair para o estrangeiro e é o que lhes digo – FUJAM ENQUANTO É TEMPO! Mas isto não tem a ver só com o governo ou o partido que lá está – tem a ver com tudo e todos e esta nossa mansa maneira de ser.
Mas talvez todos mereçamos o que nos está a suceder. É que enquanto uns se presenteiam nos seus quintais de pé de porta e outros tratam da sua vidinha na carreira da politiquinha básica, há aqueles que entretanto vão delapidando o que de melhor ainda íamos tendo – a capacidade de nos indignarmos. Já não há remédio – só mesmo arrasar com todo este edifício ruinoso que é esta nossa sociedade e reconstruir com novos projectos, novas pessoas, novos meios.
José Figueiredo
Na gaveta metamos a MENSAGEM,
que nada anunciou de positivo;
agora há que pensar na ULTRAPASSAGEM,
enquanto este país se encontra vivo!
JCN
E se o título do "post" fosse:
"Estamos mortos"
De morte vã.
Mas há outros (e, pelo menos, tão maus) motivos para se estar de luto:
http://lishbuna.blogspot.com/2010/07/como-pode-haver-ainda-por-ai-quem-diga.html
Não percebo: acham que escolas com meia dúzia de alunos deviam continuar abertas? Francamente...
José Sócrates
Para João Lisboa:
Para de luto estar sobram motivos,
bastando olhar, amigo, à nossa volta:
o que é para admirar é, sem revolta,
ainda conseguirmos estar vivos!
JCN
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