sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Polvo


Como é habitual, destacamos a crónica de sexta-feira de J.L. Pio Abreu no "Destak":

Há quem o prefira à Lagareiro, mas é um prodígio da natureza. Tem olhos iguais aos nossos, pinta-se como nós e não tem coluna dorsal, como alguns de nós. Os machos morrem de amor e as fêmeas morrem pelos filhos. Parecidos connosco, se tivéssemos mais coragem. Têm um problema: às vezes são canibais. Mas os homens, além de às vezes também o serem, ainda fazem coisas piores. O polvo tem oito braços, pelo que toca em tudo. Algum humano que também o faça é logo acusado de polvo. Tem também um cérebro desenvolvido e uma inteligência que, sendo a maior dos moluscos, é comparável à dos primatas, ordem a que temos a honra de pertencer. Apesar de tudo, os humanos só respeitaram o polvo quando Paul, morador de um aquário em Oberhausen, conseguiu prever os vencedores dos jogos do Mundial de Futebol e deu antecipadamente o título à Espanha.

Digo isto porque anda por aí toda a gente a fazer previsões desconcertadas: que pagam a dívida, que não pagam, que reduzem o défice ou não, que a produção aumenta, que ela se encolhe, que a bolsa sobe, que desce, que vai haver inflação, que afinal é recessão e talvez deflação, que os bancos vão falir, que acabam por se aguentar. Em geral desacertam, e só servem para alimentar desconfianças e jogos de apostas.

É por isso que eu prefiro um polvo a todos os economistas. Qual Banco de Portugal, qual OCDE, qual Fundo Monetário Internacional, qual Comissão Europeia, qual Moody’s, qual Fitch, qual Standard & Poor’s? Que vão todos mas é fazer prognósticos depois dos jogos! Por mim, só me vou fiar no polvo.

J. L. Pio de Abreu

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante!

Anónimo disse...

OCTOPUS VULGARIS

Mil olhos tem o polvo e oito braços,
o corpo mole, espírito manhoso,
aos outros animais armando laços
em movimento rápido e viscoso.

É símbolo, por isso, apropriado,
no seu modo ardiloso de actuar,
do ser humano quando, comparado,
a mesma forma tem de se portar.

Espreita, espia, sempre de atalaia,
seus braços estendendo quando a presa
ao seu alcance passa de surpresa.

Livre-nos Deus de gente dessa laia
sempre disposta, oculta e sorrateira,
a armar-nos disfarçada ratoeira!

JOÃO DE CASTRO NUNES

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