segunda-feira, 19 de julho de 2010

Colombo e Bolívar. Para quando Henriques?


Novo texto de António Piedade, saído no "Diário de Coimbra":

Os restos mortais do General que libertou praticamente toda a América do Sul, no século XIX, do colonialismo Castelhano, foram televisionados no passado fim-de-semana (madrugada de sábado, dia 18 de Julho), numa cerimónia pomposa em que a guarda de honra envergou fatos alvos, protectores e não contaminantes (aqui). A razão para esta exumação é, em parte, cientifica e envolve descobrir a razão para a morte do Libertador, de ascendência castelhana, mas natural da Venezuela e ídolo de milhões de pessoas. Em Abril deste ano, o médico forense Paul Auwaerter (Universidade de Johns Hopkins, EUA) sustentou a teoria segundo a qual Bolivar teria morrido envenenado por sais de arsénio (aqui). Isto está em desacordo com até há pouco conhecido e que indica que El Libertador teria sucumbido derrotado por uma bactéria, a Mycobacterium tuberculosis perfinges, principal causadora da tuberculose. Gabriel García Marquez, deixa-o morrer no seu livro “O General no seu Labirinto”, a olhar Vénus no firmamento e a ouvir “os escravos a cantarem a salve-rainha das seis, nos moinhos”.

Venezuela, que significa pequena Veneza em italiano, foi assim baptizada por Américo Vespúcio na terceira viagem de Cristóvão Colombo à procura das Índias (ao navegarem pelo delta do rio Orinoco, Vespúcio terá comparado a beleza paradisíaca da natureza que contemplava com a dos canais de Veneza!). Os restos mortais de Colombo, durante séculos pensados a repousar na lindíssima Catedral de Sevilha, também têm sido alvo de estudos forenses. O objectivo tem sido o de comparar geneticamente as ossadas com a de seus descendentes e resolver, com base científica, a hipótese de que Colombo sempre esteve sepultado no monumento, edificado em sua memória o Farol de Colombo, na cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana (aqui).

D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, foi o único militar a conseguir a independência de Castela de um território da península Ibérica. Feito por ventura menor em tamanho mas seguramente comparável ao de Bolívar na bravia, na liderança e na estratégia militar. Sabemos da qualidade da metodologia científica com que a Doutora Eugénia Cunha (Departamento das Ciências da Vida – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra) tentou estudar os restos mortais do fundador (aqui), na Capela-Mor da Igreja de Santa Cruz em Coimbra, e como isso foi impedido superiormente na secretaria estatal. Sabemos do desenvolvimento espantoso registado na última década na micro-extracção de amostras diminutas de ADN e também nas técnicas analíticas químicas, capazes de elucidar sobre aspectos não só da morte mas sobretudo da vida, gerando documentos incontornáveis e impossíveis por outra fonte.

Para quando Henriques?

António Piedade

15 comentários:

António Piedade disse...

Aos eventuais leitores. O Nome do general é, como todos saberão, Simão Bolívar.

Já agora, o link para um dos já vários vídeos no Youtube sobre esta exumação: http://www.youtube.com/watch?v=C3HaKGehIGA&feature=related

Agradecido

António Piedade

Anónimo disse...

Quando esses pseudo historiadores que estão colados que nem lapas às universidades morrerem e os mitos cairem!
Afonso Henriques tem poeiradas de mitos em cima, Herculano percebeu o mito da ida do Egas Moniz com a corda ao pescoço e batalha de Ourique, há outros para destruir, mas enquanto os senhores doutores que para ai andam não largarem a universidade isto não avança!

O mais certo é nem estar lá nada, o mais certo é o Afonsinho não ser quem dizem que era, o único facto é a independência do território, o resto é discussão aberta..

Anónimo disse...

Soneto dado à estampa na altura em que a Ministra da Cultura denegou, com fundamentadas razões, autorização para se abrir o túmulo de D. Afonso Henriques:

PONTO FINAL!

Não entendam com ele, o Fundador
da Nação Portuguesa, a mais antiga
de toda a Europa sem nenhum favor
por mais que se conteste ou contradiga!

Em Santa Cruz, em túmulo solene,
repousa há cinco séculos mercê
do Mestre Nicolau de Chanterenne
que se esmerou da forma que se vê.

Descanse ali por toda a eternidade
o Fundador da Nacionalidade
que aos outros continentes se estendeu!

Haja respeito pelo mausoléu
que a todo o custo abri-lo se deseja
em nome da ciência... ou lá que seja!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

DE NOVO À CARGA!

Tão-só para fazer o gosto ao dedo
mexendo desde logo onde não devem,
o que aliás não constitui segredo,
a quanto os antropólogos de atrevem!

Querem a todo o transe dissecar
os despojos mortais do Fundador
abrindo a sua caixa tumular
sem pejo nem o mínimo pudor.

Será que ele era coxo ou aleijado,
feio de rosto e baixo de estatura...
contrariamente ao nosso imaginário?!

Lembremo-lo conforme foi talhado
por Chanterenne em pedra de calcário
em termos de tamanho e de figura!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Coimbra, 20 de Junho de 2007.

António Piedade disse...

Simão Bolívar era filho de uma família aristocrata de origem BASCA e não CASTELHANA como erradamente escrevi. Nasceu em Caracas (actual capital da Venezuela) em 24 de Julho de 1783. Morreu a 17 de Dezembro de 1830, na Quinta de São Pedro Alexandrino em Santa Marta, território situado na Colômbia.
Contudo, o seu pai era descendente do Rei Fernando III de Castela, e daqui o meu lapso.

Cumprimentos

António Piedade

Anónimo disse...

Caro Dr. António Piedade:

Quem diz BASCO diz ESPANHOL e quem diz ESPANHOL diz CASTELHANO. Quem não recorda a clássica afirmação de Unamuno de que "España és Castilla"? JCN

António Piedade disse...

Caro Drº. João Castro Nunes

Sim. Mas Miguel de Unanmuno não defendia a Hispanicidade (ou será Ibericidade) da península, com toda a sua riqueza cultural derivada da multiplicidade de "regiões" que a compunham?

António Piedade

Anónimo disse...

Olhe que não, Dr. António Piedade, olhe que não! Contrariamente a ele, dizia por sua vez o catalão Ortega y Gasset: "España és más grande que Castilla". Em quem acreditar? JCN

António Piedade disse...

Mas a Natália Correia afirmava, com o ímpeto daquela voz declamante que "Somos todos Hispanos" (1988)!

António Piedade

Anónimo disse...

Claro que somos todos "hispanos" ou "hispânicos", mas não "espanhóis", nem da água nem do sal: somos porteguezindos da costa. Essa é que é essa! JCN

Anónimo disse...

COLOMBO

Que importa o sítio em que repousa a ossada
de Cristóvão Colombo, cujo feito
acima está, para o devido efeito,
das circunstâncias... que não valem nada?

Fosse judeu, galego ou português,
plebeu, fidalgo, brasonado ou não,
apenas interessa a sua acção.

Perante a história assume-se, aliás,
como navegador que foi capaz
de até ao fim levar a sua ideia.

Equivicado ou não, realizou
seu sonho que nas páginas ficou
da mais super-homérica odisseia!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

Por sair truncada, repito a segunda quadra, que passa a ter a seguinte redacção:

Fosse judeu, galego ou português,
plebeu, fidalgo, brasonado ou não,
acaso castelhano ou genovês,
apenas interessa a sua acção.

JCN

António Piedade disse...

Muito agradecido pela sua correcção.

António Piedade

João pedro Gil filho de João césar Monteiro disse...

Brutal.. quer dizer que não há regionalismo em Portugal. Fantástico!

Cláudia S. Tomazi disse...

De haver ethica a exumação, o quê orienta o facto em reconstruir a história?!

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