Alma Mater passou recentemente a ser uma nova “marca” no ciberespaço. No sítio http://almamater.uc.pt/ a Universidade de Coimbra disponibiliza desde o dia 14 de Julho a sua biblioteca digital de fundo antigo. Livros, periódicos, manuscritos, fotografias, mapas e outros documentos integram um vasto espólio que está agora à fácil disposição de todos os interessados.
Várias bibliotecas universitárias de Coimbra com fundo antigo contribuem para a Alma Mater: a da Faculdade de Direito, a da Faculdade de Letras, a Biblioteca de Botânica do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Biblioteca Geral.
A Biblioteca da Faculdade de Direito de Coimbra possui uma notável colecção de livro antigo, proveniente em grande parte da livraria do antigo Colégio de São Pedro (que, na sua maior parte, ficou na Biblioteca Geral). Privilegiaram-se na parte incluída na Alma Mater autores portugueses formados pela Universidade de Coimbra e outros que, formados no estrangeiro, foram chamados a Coimbra, como Manuel da Costa, que estudou leis em Salamanca e veio para Coimbra no tempo de D. João III. O Doutor Manuel da Costa, sob o nome alatinado de Emanuelis Costae, com o cognome de Lusitaniae Juriconsulti é o autor, entre outras obras, de um tratado jurídico que está em destaque no Alma Mater: “In nonnullas leges et paragraphos commentarii”, publicado na cidade francesa de Lyon (em latim Lugduni) no ano de 1564 (D. João III, que mudou a Universidade de Coimbra de Lisboa para Coimbra em 1937, já tinha morrido sem descendência em 1557, sucedendo-lhe o neto D. Sebastião)
Do rico espólio da Biblioteca da Faculdade de Letras foi destacada na Alma Mater um dos vários manuscritos de João Baptista de Almeida Garrett: “Cancioneiro de romances, xacaras, soláos e outros vestígios da antiga poesia nacional, pela maior parte conservados na tradição oral dos povos. E agora primeiramente colligidos...começado 1824”, adquirido no leilão da livraria de Venâncio Deslandes. Não é suficientemente conhecido que os manuscritos autógrafos do grande autor romântico português se encontram à guarda da Universidade de Coimbra, repartidos pela Faculdade de Letras e pela Biblioteca Geral. Por este meio, o seu conteúdo fica, pelo menos em parte, à disposição de todos, enquanto os frágeis e preciosos originais são mais bem preservados.
Por sua vez, na Biblioteca de Botânica do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra conserva um conjunto de livros antigos, manuscritos e parte dos espólios dos cientistas botânicos Félix de Avelar Brotero, Júlio Henriques, Luís Carrisso, entre outros, que integram correspondência manuscrita, fotografias, desenhos, etc. A Alma Mater escolheu para destaque na sua inauguração a obra de Brotero “Phytographia Lusitaniae selectior, seu novarum et aliarum minus cognitarum stirpium, quae in Lusitania sponte veniunt, descriptiones. Fascic. Ius.”, obra em latim publicada em Lisboa na Typographia Domus Chalcographicae, em 1800, que, relativamente à “Flora Lusitana” do mesmo autor, tem a vantagem de conter no fim belas estampas de espécies vegetais portuguesas.
A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, pela variedade e riqueza do seu património bibliográfico e documental, é uma das maiores e melhores bibliotecas nacionais (ainda recentemente anunciou um acordo com a Biblioteca Nacional de Portugal que permite fornecer gratuitamente um cartão de leitor a todos os utentes daquela Biblioteca, que vai ter um encerramento temporário), não podia deixar de ser um outro grande contribuinte da Alma Mater. Em destaque, e para dar a ideia da dimensão internacional que aquela biblioteca também possui, foi colocado um precioso manuscrito de Leonardo Torriani, engenheiro militar italiano ao serviço do rei Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal) que foi engenheiro-mor do reino português, que descreve e representa a geografia e fortificações das ilhas das canárias e da ilha da Madeira: “Descrittione et historia del regno de l'isole Canarie gia dette le Fortvnate con il parere delle loro fortificationi” (“Descrição e história do reino das ilhas Canárias, antes denominadas de 'As Afortunadas', com o parecer das suas fortificações”, datado de cerca de 1588 ou 1590). Inclui 66 desenhos aguarelados, de dimensões variadas, alguns dos quais em folhas desdobráveis, com mapas, paisagens, plantas e desenhos de fortalezas). Por vicissitudes da história esse manuscrito acabou por ficar em território nacional, mais precisamente em Coimbra, onde o seu filho foi professor, embora, como é evidente, a Espanha não desdenhasse a sua posse. Apesar de estar publicada uma edição bilingue (português e italiano) pela Cosmos Editora, com estudo e tradução de José Manuel Azevedo, que inclui uma reprodução integral e a cores das 66 plantas e desenhos, esse livro não é fácil de encontrar, pelo que o acesso na Internet da edição digital do manuscrito constitui um benefício quer para os historiadores quer para os simples curiosos.
Por último, a Alma Mater, gozando do patrocínio da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, inclui uma subbiblioteca temática: a República Digital, construída a partir de fundos da Biblioteca Geral e da Biblioteca Municipal de Coimbra. Inclui uma colecção de manuscritos inéditos ou pouco conhecidos, correspondência inédita, fotografias do início do século passado, jornais, manifestos, revistas científicas e trabalhos universitários, que documentam as transformações políticas, sociais, científicas e artísticas, que a implantação da República causou em Portugal, em particular na cidade de Coimbra, como sejam:
- As “Memórias” e os álbuns de fotografias do Coronel Belisário Pimenta (um militar membro da Maçonaria, que fez um relato muito completo dos acontecimentos do tempo da Primeira República). As fotografias representam Belisário Pimenta, familiares e amigos e alguns tipos populares, estando também retratados vários aspectos da vida académica e militar e paisagens de Coimbra, Miranda do Corvo, Lousã, Foz de Arouce, Buçaco, Batalha, Peniche, Almourol e Lisboa.
- O fundo Armando Cortesão guardado durante décadas num cofre da Biblioteca Geral, que documenta a resistência a Salazar nos primeiros anos da Ditadura Militar e do estado Novo, incluindo cartas escritas do exílio pelo ex-primeiro-ministro Afonso Costa ao engenheiro agrónomo que ficou famoso como historiador da cartografia e dos descobrimentos portugueses. Esse fundo está a ser estudado por investigadores do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX. com quem a Biblioteca Geral celebrou um acordo de cooperação.
- E os periódicos "Ultimato", "Resistência" e "Revolta", entre outros, cujos títulos são bem elucidativos sobre uma conturbada época da nossa história.
Na Alma Mater, vários séculos de história estão ao nosso alcance...
Várias bibliotecas universitárias de Coimbra com fundo antigo contribuem para a Alma Mater: a da Faculdade de Direito, a da Faculdade de Letras, a Biblioteca de Botânica do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Biblioteca Geral.
A Biblioteca da Faculdade de Direito de Coimbra possui uma notável colecção de livro antigo, proveniente em grande parte da livraria do antigo Colégio de São Pedro (que, na sua maior parte, ficou na Biblioteca Geral). Privilegiaram-se na parte incluída na Alma Mater autores portugueses formados pela Universidade de Coimbra e outros que, formados no estrangeiro, foram chamados a Coimbra, como Manuel da Costa, que estudou leis em Salamanca e veio para Coimbra no tempo de D. João III. O Doutor Manuel da Costa, sob o nome alatinado de Emanuelis Costae, com o cognome de Lusitaniae Juriconsulti é o autor, entre outras obras, de um tratado jurídico que está em destaque no Alma Mater: “In nonnullas leges et paragraphos commentarii”, publicado na cidade francesa de Lyon (em latim Lugduni) no ano de 1564 (D. João III, que mudou a Universidade de Coimbra de Lisboa para Coimbra em 1937, já tinha morrido sem descendência em 1557, sucedendo-lhe o neto D. Sebastião)
Do rico espólio da Biblioteca da Faculdade de Letras foi destacada na Alma Mater um dos vários manuscritos de João Baptista de Almeida Garrett: “Cancioneiro de romances, xacaras, soláos e outros vestígios da antiga poesia nacional, pela maior parte conservados na tradição oral dos povos. E agora primeiramente colligidos...começado 1824”, adquirido no leilão da livraria de Venâncio Deslandes. Não é suficientemente conhecido que os manuscritos autógrafos do grande autor romântico português se encontram à guarda da Universidade de Coimbra, repartidos pela Faculdade de Letras e pela Biblioteca Geral. Por este meio, o seu conteúdo fica, pelo menos em parte, à disposição de todos, enquanto os frágeis e preciosos originais são mais bem preservados.
Por sua vez, na Biblioteca de Botânica do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra conserva um conjunto de livros antigos, manuscritos e parte dos espólios dos cientistas botânicos Félix de Avelar Brotero, Júlio Henriques, Luís Carrisso, entre outros, que integram correspondência manuscrita, fotografias, desenhos, etc. A Alma Mater escolheu para destaque na sua inauguração a obra de Brotero “Phytographia Lusitaniae selectior, seu novarum et aliarum minus cognitarum stirpium, quae in Lusitania sponte veniunt, descriptiones. Fascic. Ius.”, obra em latim publicada em Lisboa na Typographia Domus Chalcographicae, em 1800, que, relativamente à “Flora Lusitana” do mesmo autor, tem a vantagem de conter no fim belas estampas de espécies vegetais portuguesas.
A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, pela variedade e riqueza do seu património bibliográfico e documental, é uma das maiores e melhores bibliotecas nacionais (ainda recentemente anunciou um acordo com a Biblioteca Nacional de Portugal que permite fornecer gratuitamente um cartão de leitor a todos os utentes daquela Biblioteca, que vai ter um encerramento temporário), não podia deixar de ser um outro grande contribuinte da Alma Mater. Em destaque, e para dar a ideia da dimensão internacional que aquela biblioteca também possui, foi colocado um precioso manuscrito de Leonardo Torriani, engenheiro militar italiano ao serviço do rei Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal) que foi engenheiro-mor do reino português, que descreve e representa a geografia e fortificações das ilhas das canárias e da ilha da Madeira: “Descrittione et historia del regno de l'isole Canarie gia dette le Fortvnate con il parere delle loro fortificationi” (“Descrição e história do reino das ilhas Canárias, antes denominadas de 'As Afortunadas', com o parecer das suas fortificações”, datado de cerca de 1588 ou 1590). Inclui 66 desenhos aguarelados, de dimensões variadas, alguns dos quais em folhas desdobráveis, com mapas, paisagens, plantas e desenhos de fortalezas). Por vicissitudes da história esse manuscrito acabou por ficar em território nacional, mais precisamente em Coimbra, onde o seu filho foi professor, embora, como é evidente, a Espanha não desdenhasse a sua posse. Apesar de estar publicada uma edição bilingue (português e italiano) pela Cosmos Editora, com estudo e tradução de José Manuel Azevedo, que inclui uma reprodução integral e a cores das 66 plantas e desenhos, esse livro não é fácil de encontrar, pelo que o acesso na Internet da edição digital do manuscrito constitui um benefício quer para os historiadores quer para os simples curiosos.
Por último, a Alma Mater, gozando do patrocínio da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, inclui uma subbiblioteca temática: a República Digital, construída a partir de fundos da Biblioteca Geral e da Biblioteca Municipal de Coimbra. Inclui uma colecção de manuscritos inéditos ou pouco conhecidos, correspondência inédita, fotografias do início do século passado, jornais, manifestos, revistas científicas e trabalhos universitários, que documentam as transformações políticas, sociais, científicas e artísticas, que a implantação da República causou em Portugal, em particular na cidade de Coimbra, como sejam:
- As “Memórias” e os álbuns de fotografias do Coronel Belisário Pimenta (um militar membro da Maçonaria, que fez um relato muito completo dos acontecimentos do tempo da Primeira República). As fotografias representam Belisário Pimenta, familiares e amigos e alguns tipos populares, estando também retratados vários aspectos da vida académica e militar e paisagens de Coimbra, Miranda do Corvo, Lousã, Foz de Arouce, Buçaco, Batalha, Peniche, Almourol e Lisboa.
- O fundo Armando Cortesão guardado durante décadas num cofre da Biblioteca Geral, que documenta a resistência a Salazar nos primeiros anos da Ditadura Militar e do estado Novo, incluindo cartas escritas do exílio pelo ex-primeiro-ministro Afonso Costa ao engenheiro agrónomo que ficou famoso como historiador da cartografia e dos descobrimentos portugueses. Esse fundo está a ser estudado por investigadores do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX. com quem a Biblioteca Geral celebrou um acordo de cooperação.
- E os periódicos "Ultimato", "Resistência" e "Revolta", entre outros, cujos títulos são bem elucidativos sobre uma conturbada época da nossa história.
Na Alma Mater, vários séculos de história estão ao nosso alcance...
Na imagem: Café Lusitano, na Rua Ferreira Borges, em Coimbra, do álbum fotográfico de Belisário Pimenta.
2 comentários:
Desfraldem-se as velas para novas viagens pelo nosso conhecimento. Obrigado Alma Mater e seus tripulantes.
António Piedade
Caro Senhor Professor Doutor Carlos Fiolhais,
Felicito-o de novo por esta iniciativa que já congratulei noutros sítios.
(Julgo que tem que mudar uma gralha).
Obrigada!
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