“Porque é que qualquer português tem sempre uma opinião sobre tudo, seja política futebol ou a legislação laboral da profissão de calista?” (Miguel Esteves Cardoso, Expresso, 31/10/87).
Num mar alteroso que tentou fazer naufragar na opinião pública portuguesa os “navegadores” da equipa nacional de futebol, depois das ondas de euforia dos 7-0 à Coreia do Norte, surge, agora, uma espécie de tribunal ad hoc que quer sentar no banco dos réus Carlos Queiroz sem tomar em linha de conta que os êxitos ou fracassos de uma equipa desportiva não devem ser assacados, exclusivamente, ao respectivo treinador/seleccionador.
Ressalvando a seriedade de uns tantos cronistas desportivos, surge a inimizade de outros sem a isenção necessária para se subtrairem à antipatia que lhes merece Carlos Queiroz e nostálgicos da simpatia de um Scollari capaz de mobilizar todo um país para o sonho “patriótico” de fazer Portugal campeão mundial do desporto-rei.
“Nestas circunstâncias que são simultaneamente humilhantes de suportar, humilhantes de considerar e humilhantes de descrever” (Charles Dickens), é fácil e cativante transformar Carlos Queiroz em “cepo das marradas” da frustração desportiva de quem não gosta de perder nem a feijões e, muito menos, com a Espanha (em arreigada antipatia colhida em compêndios escolares de história), havida actualmente como detentora de uma das melhores equipas mundiais do desporto-rei. Como li em título de A Bola: “Custar, custa, mas a Espanha é melhor” (Vitor Serpa, 30/01/2010).
Destaco, igualmente, ao arrepio deste acervo de escritos jornalísticos anti-Queiroz, o parágrafo inicial da crónica de Daniel Oliveira, nesse mesmo dia e jornal desportivo:
“Portugal foi eliminado. Não é o fim do Mundo. Portámo-nos com dignidade. Tenho de confessar que a Selecção acabou por estar acima das minhas expectativas, Com Bosingwa e Nani teríamos, provavelmente, ido um pouco mais longe. Devo, como muita gente, algumas desculpas a Carlos Queiroz. Construiu, ao contrário das aparências, uma equipa. Está de parabéns”.
Assim, Carlos Queiroz não deve ser a árvore que esconde a floresta da ambição de Cristiano Ronaldo em fazer deste Mundial o palco de eleição para defender, ou mesmo ampliar, os seus pergaminhos de melhor jogador do mundo, num confronto com outros protagonistas como, por exemplo, Kaká, da equipa do Brasil e seu companheiro no Real Madrid, e Messi da selecção dos Pampas.
A ambição de Ronaldo não é reprovável. Reprovável, isso sim, foram os meios por si utilizados para alcançar esse fim no jogo com a Espanha. Enquanto Kaká e Messi, também eles de posse do ceptro da FIFA de melhores jogadores do mundo, embora, obviamente, em anos diferentes, se preocuparam em jogar para as respectivas equipas, Ronaldo parecia ter em mente jogar para prestígio de si próprio.
Certa imprensa desportiva portuguesa, sem atender a que “a verdade é a essência da moralidade”, como nos ensinou T. H. Huxley, tem-se servido da sua força de quarto poder, pela sua reconhecida capacidade em influenciar, ou mesmo condicionar, a opinião pública contra as opções tácticas e as substituições de Carlos Queiroz.
A própria imprensa espanhola, tantas vezes acusada de xenofobia, foi bem mais comedida nas críticas à derrota da equipa portuguesa:
“Um golo de Villa colocou a Espanha pela quarta vez nos quartos-de-final do Mundial e pôs ponto final num encontro que Portugal tornou muito duro. Por momentos, o conjunto de Del Bosque recuperou a identidade que a tornou uma grande selecção, campeã da Europa, ainda que tenha faltado um pouco de profundidade perante o férreo planeamento luso, equipa que ainda não tinha recebido um golo ao longo do torneio” (El País, 30/06/2010).
Nesse mesmo dia, colhi estas transcrições em fontes jornalísticas de dois outros países estrangeiros:
Do jornal “L´Equipe” (ou seja de um país a braços com o escândalo de proporções políticas pela prematura eliminação da sua selecção): “A paciência espanhola superou a força portuguesa. Tal como havia acontecido nos dois últimos jogos do seu grupo, o sucesso espanhol teve o selo de de David Villa. No entanto, o seu golo deveria ter sido anulado, pois estava em posição de fora-de.jogo. Do ponto de vista de matriz do jogo. A qualificação espanhola teve uma certa lógica. Do ponto de vista das ocasiões de golo, já tem menos…”
Do jornal “O Globo”: "Com um golo de Villa, a Espanha vence Portugal por 1-0, na cidade do Cabo e vai enfrentar o Paraguai nos quartos-de-final da Copa. Já os portugueses que contavam com a estrelac do craque Cristiano Ronaldo que nada fez no Mundial, volta paa casa. O golo espanhol gerou polémica, já que Villa estaria em fora de jogo, e o 'telão' do estádio não mostrou o 'replay' do lance, conforme a determinação da FIFA”.
Como se diz na gíria do teatro, aproveito a deixa de “O Globo” para voltar ao ”caso Ronaldo” que mereceu a atenção muito crítica da cadeia televisiva espanhola “Cuatro” ao dar-nos conta da falta de fair-play do capitão da equipa das quinas e das suas implicações para com o rendimento da Selecção Nacional que aconselharia a sua substituição, não se desse o caso da repercussão que essa medida assumiria nas bancadas pejadas de portugueses, residentes ou não na África do Sul, que se recusariam a assistir, sem manifestarem o seu violento desagrado, à queda do seu ídolo, um ídolo a valer o peso do corpo em ouro, ainda que, como tantos outros, com pés de barro.
E se, para Homero, “a marca da sabedoria é ler correctamente o presente e marchar de acordo com a ocasião”, razão mais do que suficiente para não atirar para cima das costas do seleccionador nacional toda a responsabilidade de uma situação em que uns tantos estarão isentos e outros não de culpa, sendo até merecedores de amplo louvor numa partida em que sobressaiu a humildade, o empenhamento, e o denodo de jogadores como, por exemplo, Eduardo, guarda-redes de um clube nacional, não tido entre os três grandes.
Num mar alteroso que tentou fazer naufragar na opinião pública portuguesa os “navegadores” da equipa nacional de futebol, depois das ondas de euforia dos 7-0 à Coreia do Norte, surge, agora, uma espécie de tribunal ad hoc que quer sentar no banco dos réus Carlos Queiroz sem tomar em linha de conta que os êxitos ou fracassos de uma equipa desportiva não devem ser assacados, exclusivamente, ao respectivo treinador/seleccionador.
Ressalvando a seriedade de uns tantos cronistas desportivos, surge a inimizade de outros sem a isenção necessária para se subtrairem à antipatia que lhes merece Carlos Queiroz e nostálgicos da simpatia de um Scollari capaz de mobilizar todo um país para o sonho “patriótico” de fazer Portugal campeão mundial do desporto-rei.
“Nestas circunstâncias que são simultaneamente humilhantes de suportar, humilhantes de considerar e humilhantes de descrever” (Charles Dickens), é fácil e cativante transformar Carlos Queiroz em “cepo das marradas” da frustração desportiva de quem não gosta de perder nem a feijões e, muito menos, com a Espanha (em arreigada antipatia colhida em compêndios escolares de história), havida actualmente como detentora de uma das melhores equipas mundiais do desporto-rei. Como li em título de A Bola: “Custar, custa, mas a Espanha é melhor” (Vitor Serpa, 30/01/2010).
Destaco, igualmente, ao arrepio deste acervo de escritos jornalísticos anti-Queiroz, o parágrafo inicial da crónica de Daniel Oliveira, nesse mesmo dia e jornal desportivo:
“Portugal foi eliminado. Não é o fim do Mundo. Portámo-nos com dignidade. Tenho de confessar que a Selecção acabou por estar acima das minhas expectativas, Com Bosingwa e Nani teríamos, provavelmente, ido um pouco mais longe. Devo, como muita gente, algumas desculpas a Carlos Queiroz. Construiu, ao contrário das aparências, uma equipa. Está de parabéns”.
Assim, Carlos Queiroz não deve ser a árvore que esconde a floresta da ambição de Cristiano Ronaldo em fazer deste Mundial o palco de eleição para defender, ou mesmo ampliar, os seus pergaminhos de melhor jogador do mundo, num confronto com outros protagonistas como, por exemplo, Kaká, da equipa do Brasil e seu companheiro no Real Madrid, e Messi da selecção dos Pampas.
A ambição de Ronaldo não é reprovável. Reprovável, isso sim, foram os meios por si utilizados para alcançar esse fim no jogo com a Espanha. Enquanto Kaká e Messi, também eles de posse do ceptro da FIFA de melhores jogadores do mundo, embora, obviamente, em anos diferentes, se preocuparam em jogar para as respectivas equipas, Ronaldo parecia ter em mente jogar para prestígio de si próprio.
Certa imprensa desportiva portuguesa, sem atender a que “a verdade é a essência da moralidade”, como nos ensinou T. H. Huxley, tem-se servido da sua força de quarto poder, pela sua reconhecida capacidade em influenciar, ou mesmo condicionar, a opinião pública contra as opções tácticas e as substituições de Carlos Queiroz.
A própria imprensa espanhola, tantas vezes acusada de xenofobia, foi bem mais comedida nas críticas à derrota da equipa portuguesa:
“Um golo de Villa colocou a Espanha pela quarta vez nos quartos-de-final do Mundial e pôs ponto final num encontro que Portugal tornou muito duro. Por momentos, o conjunto de Del Bosque recuperou a identidade que a tornou uma grande selecção, campeã da Europa, ainda que tenha faltado um pouco de profundidade perante o férreo planeamento luso, equipa que ainda não tinha recebido um golo ao longo do torneio” (El País, 30/06/2010).
Nesse mesmo dia, colhi estas transcrições em fontes jornalísticas de dois outros países estrangeiros:
Do jornal “L´Equipe” (ou seja de um país a braços com o escândalo de proporções políticas pela prematura eliminação da sua selecção): “A paciência espanhola superou a força portuguesa. Tal como havia acontecido nos dois últimos jogos do seu grupo, o sucesso espanhol teve o selo de de David Villa. No entanto, o seu golo deveria ter sido anulado, pois estava em posição de fora-de.jogo. Do ponto de vista de matriz do jogo. A qualificação espanhola teve uma certa lógica. Do ponto de vista das ocasiões de golo, já tem menos…”
Do jornal “O Globo”: "Com um golo de Villa, a Espanha vence Portugal por 1-0, na cidade do Cabo e vai enfrentar o Paraguai nos quartos-de-final da Copa. Já os portugueses que contavam com a estrelac do craque Cristiano Ronaldo que nada fez no Mundial, volta paa casa. O golo espanhol gerou polémica, já que Villa estaria em fora de jogo, e o 'telão' do estádio não mostrou o 'replay' do lance, conforme a determinação da FIFA”.
Como se diz na gíria do teatro, aproveito a deixa de “O Globo” para voltar ao ”caso Ronaldo” que mereceu a atenção muito crítica da cadeia televisiva espanhola “Cuatro” ao dar-nos conta da falta de fair-play do capitão da equipa das quinas e das suas implicações para com o rendimento da Selecção Nacional que aconselharia a sua substituição, não se desse o caso da repercussão que essa medida assumiria nas bancadas pejadas de portugueses, residentes ou não na África do Sul, que se recusariam a assistir, sem manifestarem o seu violento desagrado, à queda do seu ídolo, um ídolo a valer o peso do corpo em ouro, ainda que, como tantos outros, com pés de barro.
E se, para Homero, “a marca da sabedoria é ler correctamente o presente e marchar de acordo com a ocasião”, razão mais do que suficiente para não atirar para cima das costas do seleccionador nacional toda a responsabilidade de uma situação em que uns tantos estarão isentos e outros não de culpa, sendo até merecedores de amplo louvor numa partida em que sobressaiu a humildade, o empenhamento, e o denodo de jogadores como, por exemplo, Eduardo, guarda-redes de um clube nacional, não tido entre os três grandes.
5 comentários:
Cada vez me convenço mais, caro Dr. Rui Baptista, que por detrás de um mito... quase sempre se encontra um vilão. JCN
Caro Professor: Muito dinheiro que enche algibeiras rotas só podia dar razão ao aforisma "muito tens, muiton vales, nada tens, nada vales". Esta situação conjugada com o desporto profissional que, não é, de forma alguma, "uma escola de virtudes" só podia ter como resultado uma mistura explosiva.
As imagens da televisão espanhola "Cuatro" bem o demonstram...
AFORISMO
Dinheiro sem formação
ganho no jogo da bola
não dá direito a cartola
e nem tão-pouco a brasão!
JCN
Um treinador que consegue colocar uma vara de marretas nos oitavos de final é merecedor de consideração e estima.
No entanto, não resisti em deixar aqui a marca da minha sincera e enorme satisfação com a excreção dessa quadrilha (a que chamam selecção das quinas) do mundial. Espero que fiquem de fora logo de início no próximo mundial, não importa qual seja o treinador ou seleccionador ou lá que outro nome lhe queiram dar.
Prezado Sérgio O. Marques:
O seu comentário (12:00) mereceu-me um post publicado hoje às 18:44.
Cordiais cumprimentos
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