sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Breve História dos Vírus IV


Continuação da série de artigos sobre os vírus da autoria de António Piedade, que têm saído n' "O Despertar":

Como é que os cientistas detectam os vírus? Sendo entidades sub-microscópicas, o melhor seria dizê-las nanoscópicas (o seu tamanho varia entre os 30 nm e os 500 nm, e 1 nm é um milhão de vezes menor que 1 mm), não é estranho pensarmos que a sua detecção pela “simples” observação ao microscópio óptico seja muito difícil.


Só com microscópios ópticos de alta resolução, com uma grande capacidade de ampliação, é possível observar as partículas virais. Aliás, a arquitectura viral só foi melhor conhecida com o advento do microscópio electrónico e foi com ele que os virologistas, ou seja os que se dedicam especificamente ao estudo dos vírus, captaram o perfil desses agentes patogénicos. Por outro lado, a cristalografia por difracção de raios X (técnica de resolução de estruturas moleculares utilizada pelos vencedores do prémio Nobel da química deste ano) permitiu detalhar a regularidade espacial presente nas cápsulas proteicas (capsídeos) que formam os vírus. O primeiro vírus a ser cristalizado (1935) e a ser estudado em detalhe por difracção de raios X (1941) foi o vírus do mosaico do tabaco. Curiosamente, acabou por ser Rosalind Franklin (a ignorada investigadora da estrutura do ADN) a resolver a estrutura tridimensional para este vírus em 1955.

A “visualização” por estas técnicas tem o “inconveniente”de não permitir manter os vírus num ambiente celular vivo: ao preparar a amostra a ser observada o investigador tem de imobilizar ou cristalizar “definitivamente” um momento da vida do vírus. O que se ganha em detalhe de forma perde-se em dinâmica da actividade viral. De volta ao óptico: com este microscópio é possível manter as preparações biológicas vivas e assim visualizar, com a paciência e perícia necessárias, as estratégias, movimentos e danos virais. Digamos que os dois se complementam.

Esta dificuldade na detecção visual dos vírus explica porque é que as primeiras imagens virais só foram obtidas indistintamente em meados do século passado. Em 1938, B. Borries, H. Ruska e E. Ruska (este último foi galardoado com o prémio Nobel da Física em 1986 pelo desenvolvimento do microscópio electrónico, ver aqui) apresentaram ao mundo a primeira micrografia electrónica de um vírus, dos vírus ectraomelia e vaccinia (responsáveis por tipos de varíolas), confirmando a existência física de uma entidade patogénica há muito anunciada e combatida. Recorde-se, a título de curiosidade, que as primeiras bactérias foram visualizadas com o microscópio óptico no ano de 1668 por Antoine van Leeuwenhoek.

Pelo que se disse fica suspeito que as primeiras investigações sobre a existência da entidade patogénica não celular responsável por doenças fatais, com enorme capacidade de propagação por contágio e infecção, devem ter sido efectuadas por outros meios de investigação que não os da microscopia. De facto, o trabalho laboratorial de identificação e isolamento da entidade virulenta presente em fluidos biológicos filtrados, de soros animais ou de suspensões bacterianas, foi um trabalho hercúleo cuja história merece ser contada (Continua).

António Piedade

Legendas:

Figura 1: 1918-1919 – Pandemia do vírus influenza 40 a 100 milhões de mortes em todo o mundo. Crédito: http://www.ictvonline.org

Figura 2: 1938 – Primeira micrografia electrónicade um vírus (B. von Borries, Ruska E, Ruska H. Bakterien und Virus in über-mikroskopischer Aufnahme. Klin Wochenschr 1938; 17: 921-25).

1 comentário:

Anónimo disse...

Aqui está alguma informação intrigante:

http://www.youtube.com/watch?v=MBIZI4s5NiE

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