domingo, 4 de outubro de 2009

UMA CASA DOS LIVROS


Agora que estamos em plena campanha para as eleições autárquicas é oportuno voltar a uma ideia para Coimbra que já aqui deixei (versão editada e resumida deste texto):

Se há uma área em que Coimbra tem mais valias muito fortes, a nível nacional e internacional, é a área dos livros e dos documentos, das bibliotecas e dos arquivos. Basta pensar na Biblioteca Joanina, uma das mais belas do mundo, repleta com cerca de cem mil livros antigos. O total de volumes das cerca de 80 bibliotecas da Universidade de Coimbra é de mais de dois milhões, com cerca de metade localizados na Biblioteca Geral, um vasto e rico património que é uma verdadeira reserva cultural da nação. E há a Biblioteca Municipal, com cerca seiscentos mil volumes, que oferece serviços como os de fonoteca, ludoteca, etc. Assim, o total de volumes de uma grande biblioteca da Universidade e da cidade é de cerca de três milhões de volumes, que pede meças à Biblioteca Nacional. Acrescem os valiosos Arquivo da Universidade, que inclui o Arquivo Distrital, e Arquivo Municipal. Por um protocolo de colaboração pode-se criar um ambiente unificado e acolhedor sem discutir questões, aliás indiscutíveis, de propriedade, assim como de localização física das subbibliotecas mais especializadas. Alguns dos conteúdos desses fundos são únicos no país e no mundo. Outros são repetidos, o que deveria facilitar a sua circulação.

A Biblioteca Joanina da Universidade está construída sobre uma prisão de origem medieval. Os livros deixaram, porém, a certa altura de caber na Biblioteca Joanina, e construiu-se o "novo" edifício da Biblioteca Geral, que já tem mais de 50 anos. Esta Biblioteca foi construída sobre a antiga Faculdade de Letras, que por sua vez se ergueu sobre o Teatro Académico e este sobre o Colégio de S. Paulo Apóstolo. O novo tem sempre de subir para os ombros do velho, como um filho que sobe aos ombros do pai para ver mais longe.

Agora está na hora de o novo subir mais uma vez para os ombros do velho. A Biblioteca Geral está a rebentar pelas costuras. Não cabe lá praticamente mais nada, repleta como está pelas entregas do depósito legal e por numerosas incorporações e doações. Também a Biblioteca Municipal, que tem desempenhado um notável papel na leitura pública, está hoje limitada num sítio onde, por também receber depósito legal, tem dificuldade em caber: a Casa da Cultura, uma casa com reduzida funcionalidade. Do mesmo modo, os Arquivos da Universidade e Municipal estão também em edifícios esgotados e disfuncionais. Os livros e os documentos pedem ajuda...

Para onde ir? Pois o centenário mas belo edifício da Penitenciária de Coimbra, mesmo às portas da Universidade e da Casa da Cultura, entre os Jardins de Santa Cruz e Botânico, ficará devoluto com a transferência da cadeia para novas instalações nos arredores da cidade. Esse espaço pode e deve ser a Casa do Conhecimento que Coimbra - a Cidade do Conhecimento - necessita. Num processo de sinergia da Universidade com a Câmara Municipal, com um interior moderno e equipado com as mais modernas tecnologias, a cidade poderá assim vir a albergar a maior biblioteca do país, uma biblioteca com dimensão e projecção aquém e além fronteiras,

Que podiam Coimbra e o país fazer na Casa do Conhecimento? Vejo-a como um grande centro acolhedor da população, a começar pelos jovens, como um espaço de inclusão que permita o desenvolvimento pessoal e social, como uma montra de uma história cultural muito rica, um lugar que preserva a memória dos livros e dos autores e celebra na actualidade a escrita e os escritores. Uma cidade mais aberta ao país e ao mundo precisa de um espaço-âncora como esse que a impulsione para o futuro!

2 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

Bela ideia. Realmente, aquele edifício muralhado no coração da cidade merece melhor destino do que a clausura de marginais e deserdados da sorte. E se bem o merece o espaço, mais o merece a "Lusa Atenas" que parece aos que dela partiram, depois de diplomados, mergulhada num certo torpor académico e intelectual, por injusta que tal impressão seja. E se Coimbra foi sempre austera e indiferente ao destino dos muitos que nela se prepararam para a vida profissional e social, não é por isso que esses "seus filhos" deixam de sentir orgulho na mátria académica que indelevelmente os marcou.

Eduardo disse...

Parabéns pelo BLOG....
abraços

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...