sábado, 31 de outubro de 2009

Muito Barulho por Nada

Citando Shakespeare, o escritor Cristóvão Aguiar comenta, no seu blogue, as recentes declarações de José Saramago. Ler aqui.

Excerto, em que Cristóvão de Aguiar mostra exemplos da prosa de "Caim":

"Exemplifique-se: “O lógico, o natural, o simplesmente humano, seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim…”; ou, na mesma página: “Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso…”; mais adiante, na página 106, escreve o Nobel: “Lúcifer sabia o que fazia quando se rebelou contra deus, há quem diga que o fez por inveja e não é certo, o que ele conhecia era a maligna natureza do sujeito”… Linguinha de prata, como se diz na Ilha! Saramago já veio pedir desculpa por ter chamado filho da puta ao senhor. Mas, como bom teólogo que está provando ser, logo acrescentou: “Ele não é filho da puta, porque não tem pai nem mãe!”

Nada disto me choca no sentido religioso, mas convenhamos que o vazio de ideias e a escrita paupérrima, esses sim, escandalizam quem quer que seja, crente, ateu ou agnóstico, sobretudo quem ama a boa escrita e detesta mentes distorcidas!"

12 comentários:

Anónimo disse...

Não sei porque tem que pedir deculpas, porque um deus que faz merdas como matar populações só porque não lhes agtrada o seu comportamento sexual, não passa de um deus filha da puta, mais nada!
Acho piada às vossas guerras, agora têm uma contra o Saramago, que é uma guerra ridícula em que todos os dias vocês postam coisas, escritas por outros, a dizer mal do escritor, como se essa soma de opiniões vos desse a vitória! Não há ninguém que defenda o saramago? É que o homem tem a razão toda! A bíblia e o corão são livros que influenciaram e influenciam o comportamento das pessoas, mesmo os não crentes, e por isso são manuais de maus costumes, não são apenas literatura. Como diria o Bandeira, qualquer dia vocês querem ler também o código civil como se fosse literatura! A mim não me enganais vós!
luis

Rui Baptista disse...

Porque deslocado no espaço e no tempo, transcrevo aqui o meu comentário no post, também meu, "Lobo Antunes e Saramago, duas personalidades nos antípodas":

"Embora extemporâneo este comentário (mas justificado pelo facto de só agora ter tomado conhecimento do que aqui dou conta), não resisto em transcrever a doxomania paroxística da sua autora, Pilar del Rio (mulher de Saramago): "Se Deus existisse, falaria com Voltaire e Saramago" ( Revista "Focus", de 28/10 a 03/11/2009).

Registo, todavia, a "humildade" de Pilar del Rio em dar a primazia da referência a Voltaire. Mas, por outro lado, chamo a atenção para a facilidade com que num estalar de dedos resolve o problema da existência de Deus que tanto tem despertado a atenção de teólogos, filósofos ou até do simples mortal. Espero que ela saída da banheira não tenha exclamado: "Eureka""

Carlos Medina Ribeiro disse...

Como se tem constatado, não faltam comentários às declarações de Saramago.
O mesmo não se pode dizer no que toca ao conteúdo do livro, propriamente dito.
Há alguns prémios previstos para quem, como o autor deste 'post', dedique algum tempo a falar da obra - ver [aqui].

Rolando Almeida disse...

Luís,
Desta vez só apareço para dizer que subscrevo as tuas palavras. Custa-me, mas estou completamente de acordo. Mas fico a pensar se esta gente nunca leu coisas como Benjamin Péret ou até o Eça????

Rui Baptista disse...

Prezado Rolando de Almeida:

Em boa verdade o confesso, nunca li "coisas como Benjamim Péret", mas tenho lido coisas (muitas coisas) de Eça, de que me confesso seu admirador irredutível.

O que li da sua festejada e vasta obra deu-me para concluir não ter a sua linguagem literária, de grande elegância e nenhum azedume de velho caturra, qualquer semelhança com a prosa virulenta de Saramago.

Isso mesmo defende a escritora Esther de Lemos, quando referindo-se à prosa queirosiana , escreve: “Para descer ao áspero terreno da descompustura pessoal, sobravam-lhe afabilidade e escrúpulo; e ao seu ideal estético – ideal de vida como de arte – repugnava tudo quanto trouxesse a marca do ódio, da brutalidade ou da grosseria”.

Ora, por mais que nos seus livros procure, em linhas ou entrelinhas, ou esgravate na minha memória, não encontro a palavra Deus escrita com inicial minúscula e palavrões (na acepção de palavra grosseira e/ou obscena), ou termos desbocados que são referenciados no post “Muito barulho para nada”, do escritor Cristóvão de Aguiar, extraídas do livro “Caim”.

Mesmo quando Eça farpeava, na companhia inseparável da Ramalhal figura, “a tolice com cabeça de touro” nunca desceu ao insulto gratuito ou à ofensa soez para fazer vingar a sua razão nas polémicas que enfrentou e que à época chegavam ao ponto de serem dirimidas em duelo à espada como aquele que opôs Ramalho Ortigão a Antero de Quental.

E já que falei de Ramalho comungo da sua opinião sobre a polémica envolvendo vultos por mais laureados que sejam pois, segundo ele próprio, é através dela e por ela, que a verdade corajosa, se depura e apura”. Assim, propõe ele, em texto intitulado “Literatura de hoje” [e de sempre por a verdadeira literatura não estar confinada a um determinado século]: “Estabeleçam-se forças lisas e destranvanque-se a arena. Não se admitem cá tiaras que resguardem as frontes, nem degraus a que não seja lícito subir, nem púrpuras roçagantes em que seja fácil tropeçar. Os atletas querem-se nus como os típicos lutadores da estatuária grega”.

Na intenção de se procurar um estilo polémico mais de cacete pode encontrar-se, em mero exemplo, esteio em Homem Cristo, o fundibulário de “O Povo de Aveiro”, que “o não fazia ao serviço de interesses que não fossem os da sua opinião irreverente – e os da venda do periódico”, como nos diz Barradas de Oliveira (uma coisa é certa: terá vendido bem menor número de jornais que Saramago de livros). E justificava-se do seu arrebatamento da seguinte forma:: “Qual doutrina! O que eles querem é porrada!”

E quando lhe perguntavam se tinha ficado por ajustar contas com alguns dos seus contendores, respondia pela negativa: “Não! Pagaram todos os que mereciam! Arre, pulhas!”

Razão assistiu a Sá de Miranda quando escreveu “que tudo seu avesso tem”. Em tempos de crise económica , os menos abonados da algibeira mandavam aos alfaiates virar do avesso os fatos sendo difícil reconhecer a artimanha a não ser pela mudança do lado da lapela em que eram postos os emblemas.

Pode ser que aqueles que se atrevem a discordar do livro de um Nobel,“Caim”, tenham as bandas do casaco ao contrário. Ou não!

Anónimo disse...

Rolando, nao tem nada que te custar, nao somos os dois portistas de primeira? Temos que ter sempre coisas em comum! Se te portares bem eu nao me chateio nada contigo, antes pelo contrario!

Rui, porque e' que um ateu convicto como eu tem que escrever deus ciom maiuscula? Nao lhe tenho assim tanto respeito!
Quanto as caralhadas, isso e' uma questao de opiniao. Usei-as porque outras palavras nao teriam a mesma forca! Se quiseres eu dou-te exemplos de grandes personagens que as usam, melhores do que o teu querido Eca!
luis

Rui Baptista disse...

Luís (e não “luís”) por se tratar de um antróponimo:

Começo por salientar a forma iconoclasta, muito sua, de pôr em causa convicções centenárias enraízadas na tradição cultural portuguesa. Maneiras de ser, sendo uma monotonia se todos fôssemos iguais pensando por uma mesma cabeça.

Mas a forma como se escrevem as palavras não está, ou não devia estar, pelo menos, condicionada ao facto de se ser um “ateu convicto” ou um rato de sacristia: os próprios nomes mitológicos, v.g. Zeus, Baco, Vénus, etc., devem ser escritos com maiúscula inicial.

Igual regra deve ser seguida nos nomes que designam altos conceitos nacionais, religiosos e políticos, como por exemplo, o Estado, a Pátria, a Igreja, a Liberdade. Vejamos a forma de escrever a palavra papa: se a referência se destinar ao mais elevado dignitário da Igreja Católica deverá escrever-se Papa (com letra inicial maiúscula); se nos quisermos referir à alimentação dos bebés, deveremos fazê-lo com letra minúscula: papa.

A forma como se facilitou a aprendizagem da Língua (e não língua que deve ser assim escrita quando a referência é feita ao órgão que se situa na cavidade bucal) em períodos de uma passado recente quando alguns professores do então chamado Ensino Primário advogavam que a forma como as palavras se escreviam deviam obedecer ao simples critério de se conseguir decifrar aquilo que o aluno queria escrever.

Já o próprio Camilo no seu tempo se refere aos atentados às primeiras aprendizagens da Língua quando escreve: “Havemos que a nossa insuficiência procede da falta de cursar uma ESCOLA DE PRIMEIRAS LETRAS” (sic.). Hoje, longe vão os tempos em que a passagem da 4.ª classe era vedada a quem desse uns escassos erros no chamado ditado de exame. Não discuto o valor pedagógico desta medida, mas não posso deixar de concordar com o anexim que nos avisa que “de pequenino é que se torce o pepino”!

Pode ser que até os defensores da liberdade de cada um escrever como lhe dá na real gana, mesmo sem pontuação, discordem desta forma antiguada de aprendizagem, ou a tenham até por chinesice. Seja!

Quanto à minha admiração queirosiana reside precisamente na elegância da sua prosa que não cede terreno ao palavrão . Como eu próprio referi em comentário anterior, o mesmo não se passa com Homem Cristo (1860-1943). E se não se encontra na prosa de Eça essa linguagem utilizada pelo povo e na juventude das escolas de hoje, difícil não é encontrá-la em outros prosadores, para além de Saramago, cujo mérito literário foi nobelizado, mesmo sem a Lanterna de Diógenes em pleno dia na esperança de encontrar um homem honesto! Ontem como hoje. Só que as lanternas actuais são a pilhas…

Cordialmente

Rui( com a letra inicial do meu nome maiúscula, não por auto-estima; apenas porque assim é que está correcta a sua ortografia!).

Rui Baptista disse...

Errata na 1.ª linha do 2.º § do meu comentário anterior:

Mudar a acentuação da palavra "antróponimo". Trata-se de uma palavra esdrúxula:antropónimo, claro.

Penitencio-me, caro Luís.

Anónimo disse...

Desculpa lá Rui, mas estás enganado porque usa-se deus não capitalizado para referir os vários deuses que existem por aí, e para mim, grande ateu, o teu deus é apenas mais um deus que eu não respeito o suficiente para lhe pôr um D grande!
Além disso, não sejas ridiculamente elitista, as caralhadas não são palavras do povo e da juventude, são de todos, não sejas ignorante, há grandes ecritores que as usam, ainda ontem acabei um livro maravilhoso do Philip Roth, ganhou todos os grandes prémios amiricanos, que está cheio de fucks, blow jobs, etc. É de uma mentalidade tacanha essa coisa de querer proibir certas palavras que têm um peso que não tem outras que nem sequer as podem substituir.
E mais, para mim tu és povo, não te acho nada de especial apesar de escreveres aqui, nem sequer serás nenhum Saramago, de quem eu não aprecio muitro a escrita.
Não te chateis porque vais ter que me continuar a aturar noutros posts!
Pensa bem no que dizes e no que eu disse.
luis

Rui Baptista disse...

Caríssimo Luís:

Começo pelo fim do teu comentário: será um prazer continuar a merecer a tua atenção aos post’s e os comentários que vou escrevendo. "Ergo", nada me chateia mesmo nada ter que te aturar. Bem pelo contrário!

Aliás já estava a estranhar a tua longa ausência epistolar a que não estava habituado.

Se te deres ao trabalho verificarás em outros post’s meus que defendo “à outrance” o valor dos comentários que me fazem. A coisa que me chatearia, mas chatearia muito, mesmo muitíssimo, seria falar para o boneco. E a prova disso é o facto (que te puderás dar ao trabalho de, outrossim, verificar) de responder aos comentários que me fazem, sejam a favor ou contra. Sou dos que alinho ao lado de Otega y Gasset quando escreveu : “Cultura é, frente ao dogma, discussão permanente”.

Quanto ao livro americano que referes, deduzo que sejas uma pessoa culta que aumenta o seu ego querendo gozar com o povo (a que pertenço, como bem dizes ) mostrando uma falsa incapacidade de redigir sem erros. Luís, sê tu mesmo!

Haja Deus! Finalmente, concordo contigo: “Não acho nada de especial apesar de escreveres aqui” (no “De Rerum Natura”). Também eu não, mas faço os possíveis por estar à altura de quem me honrou com o convite de passar de colaborador a autor deste apreciado blogue. Até por ti, que o visitas amiúde e lhe dedicas a atenção de escrever comentários a lembrar-me a minha pequenez de estilo literário e desprovimento de ideais que te satisfaçam.

Que queres? Coisas da vida! Terás que me aturar e eu a ti. Eu não me chateio, espero que tu não te chateies também!

Mas repara, Luís, que eu não discuti o valor do estilo literário de José Saramago (o Nobel põe-no a coberto desse meu possível atrevimento). Apenas me socorri de regras de ortografia (que independentemente da minha crença religiosa) me obrigam a escrever Deus com letra maiúscula ou D grande como dizes.

Dando descanso ao imortal Eça, cito Hubert Humphrey (Vice-presidente dos Estados Unidos, 1965/1969): “O direito de ser ouvido não inclui automaticamente o direito de ser levado a sério". Mas não é, Luís, que reconheço em si ambos os direitos: o de ser ouvido e o de ser levado a sério.

Mais, segui, à letra, o teu conselho: pensei bem no que disse e pensei bem no que disseste. Espero que me faças igual justiça. Que diabo, bem mereço!

Desculpa tutear-te com o respeito de um homem do povo

Anónimo disse...

Ó Rui, tutear-me?! Eu sou sempre o primeiro a fazer isso! Estás a brincar ou quê? É que os nossos intelectuais estão sempre com aquelas de que em Inglaterra é que é, que não há vocês, mas depois chegam aqui e é só vocês! Eu não estou com merdas, dou o exemplo!
Quanto ao dizeres que eu dou erros propositadamente, iso é falso porque sempre fui fraco aluno a português e estou consciente de que dou erros embora nõa faça a mínima tenção de melhorar a maneira como escrevo porque não estou para me sujeitar a regras estúpidas e sem lógica nenhuma, acho que o Português tem muito para ser limado e simplificado.
Eu sei que tu respondes aos comentários, e acho-te um gajo fixe, tolerante, é por isso que comento à vontade.
Disse-te que ésa do povo quye é para baixares a bolinha, porque eu detesto elitismo, especialmente se são baseados em coisas ridículas como o númro de caralhadas que um gajo escreve. Para mim o que importam são as ideias, o resto é pura aparência, mais nada!
Easpero que tenhas gostado das minhas bocas no texto novo do Boavida sobre o Saramago. Eu não abdico deste estilo descomprometido, sem merdas, e do povo, que é o que eu sou, sou apenas mais um como tu, mas que que uso as palavras todas que aprendi.
Até logo!
luis

Rui Baptista disse...

Boa-noite e um abraço para ti Luís, com letra maiúscula o nome, não o abraço.

Aparece sempre que queiras. Cá estarei para te receber. Foste uma pedrada no charco que chamou a atenção para a necessidade de não me julgar acima de quaisquer críticas que me não envaideçam.

A minha cndição humana não me põe a coberto deste destino recordado pelo brasileiro Hermógenes: "Contra a tendência para a vaidade evoco sempre o que um amigo me ensinou:'Hoje pavão, amanhã espanador!'".

Finalmente, ainda que seja só em respeito pela grafia nacional, escreve a palavra Deus com letra maiúscula inicial, "please".

Já agora, se não te chatear muito,e porque prevejo que és um homem de boa-vontade, outrossim, Luís!

Vamos a isso?

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