Novo post do historiador António Mota Aguiar:
Marck Athias, nasceu no Funchal em 1875, com pai de ascendência judaica, director de um estabelecimento bancário na Madeira. Ainda jovem, foi estudar para Paris, onde, com 22 anos, terminou a licenciatura em Medicina.
Após o curso, trabalhou num laboratório de Paris, onde se afirmaria como histologista, tendo sido premiado pela Faculdade de Medicina de Paris pelo trabalho científico produzido. Durante a sua estada em Paris contactou com notáveis especialistas de histologia e química, o que, a par da educação que recebeu na Faculdade, lhe augurou desde logo uma carreira profissional promissora.
Mas, na época que Marck Athias viveu em Paris, a sociedade francesa estava profundamente afectada pelo Affaire Dreyfus, e dividida entre os defensores da inocência de Alfred Dreyfus e os que o acusavam de ter vendido à Alemanha documentação secreta. Em 1894 Dreyfus foi condenado a prisão perpétua, para só ser libertado em 1906, após se ter provado a sua inocência. O antisemitismo que lavrava na sociedade francesa desse tempo deve-o ter afectado pelas suas raízes judaicas, mas, mesmo assim, preferia ficar em França, pelo que concorreu a um lugar no laboratório onde trabalhava. Foi, porém, preterido por um colega francês.
Voltou para a Madeira e, em 1907, veio para Lisboa, onde Miguel Bombarda lhe ofereceu o lugar de director do laboratório de histologia do Hospital de Rilhafoles. Aí iniciou o ensino de histologia, criando um curso de técnica histológica para médicos. Começaria aqui a carreira científica de Marck Athias no nosso país, iniciando uma nova fase da medicina experimental em Portugal, criando uma escola de investigação associada a uma estratégia de renovação da mentalidade portuguesa defendida pelo ideário positivista, característica do republicanismo, que marcou o Portugal desta época.
Escreveu a Professora Isabel Amaral da Universidade Nova de Lisboa:
“No período em que a escola de investigação se desenvolveu, foram erguidas as estruturas sociais, logísticas e epistemológicas, basilares da comunidade médica de Lisboa, nas primeiras décadas do século XX: reformou-se o ensino, surgiram as especialidades, criaram-se laboratórios e institutos de investigação, formaram-se investigadores, fundaram-se revistas e sociedades científicas, privilegiando assim um novo modelo de ensino universitário em que os docentes passaram a ser julgados não pela sua erudição livresca, mas pela sua capacidade de produzir saber original com base na experimentação. A escola de investigação de Marck Athias criou assim as condições para a emergência da bioquímica em Portugal”.
A escola de Athias criou ramificações profundas na ciência portuguesa e deixou muitos discípulos que se notabilizaram, como os médicos Ferreira de Mira e Celestino da Costa, este último impulsionador da Junta de Educação Nacional, criada em 1929.
António Mota de Aguiar
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