Não obstante todos as indicações em contrário da biologia e da sociobiologia, a concepção judaico-cristã do ser humano como naturalmente perverso preenche o léxico do imaginário da população em geral.
Segundo Ashley Montagu (in «The Nature of Human Aggression») na sociedade ocidental este pessimismo em relação à natureza humana foi secularizado ao longo dos séculos, o que explica que tenha marcado mesmo as lucubrações de pensadores ateus como Freud, Thomas Huxley (que introduziu o termo agnóstico), Herbert Spencer, Konrad Lorenz, Niko Tinbergen ou Desmond Morris. O facto de os autores citados serem cientistas de renome, autores de obras com grande divulgação entre o público em geral, contribuiu para o sedimentar desta descrença na bondade do Homem.
Todos estamos familiarizados com a cena de abertura do famoso filme de Stanley Kubrik «2001, Odisseia no Espaço» que corrobora esta noção da violência inata do Homem, que o acompanha desde os primórdios da evolução. Mas poucos saberão que com esta cena estão a assimilar as teorias (erradas) de um antropólogo australiano, Raymond Dart. Em 1924, Raymond Dart fez a descoberta que o tornou famoso. Dart estava interessado nos fósseis descobertos numa exploração de pedra em Taung, África do Sul, e descobriu entre eles o fóssil de um primata a que chamou Australopitecus africanus.
A descoberta por Dart do Taung Boy e a sua persistência em ir contra o que a comunidade científica defendia na época, determinado essencialmente por aquele que é hoje reconhecido como uma fraude grosseira, o suposto fóssil baptizado homem de Piltdown, foram determinantes no esclarecimento da evolução do homem. Mas as suas teorias sobre a selvajaria destes antepassados do Homem, amplamente divulgadas e amplificadas pelos media e passadas para as telas de cinema em filmes de culto, foram tão perniciosas na opinião pública quanto o Piltdown o foi para a ciência.
Dart concluiu erradamente dos fósseis de animais trucidados de forma violenta descobertos nas imediações dos fósseis Australopitecus, que estes antepassados do Homem eram caracterizados por uma cultura «osteodonkeratic« (ossos, dentes e chifres), isto é, eram caçadores cruéis cujas tendências sanguinárias deixaram marcas indeléveis no comportamento humano. E escreveu em 1953, ano em que que foi reconhecido publicamente ser o Piltdown uma fraude:
«Os arquivos manchados de sangue e atrocidades - The blood-bespattered, slaughtergutted [sic] archives of human history, no original - da História da Humanidade, desde os mais antigos registos egipcios e sumérios até às mais recentes atrocidades da II Guerra Mundial, estão de acordo com o primitivo canibalismo universal, com as práticas de sacrifícios animais e humanos ou seus substitutos em religiões formalizadas, e com as práticas generalizadas de escalpelizar, caçar cabeças para reduzi-las, mutilar corpos, e com as actividades necrófilas da humanidade revelando esse hábito predatório, essa marca de Caim, essa sede de sangue que separa dieteticamente o homem dos seus parentes antropóides e o aproxima dos mais mortíferos dos carnívoros».
A influência da concepção judaico-cristã do Homem em Dart é evidenciada pela epígrafe deste artigo, «A Transição Predatória de Macaco a Homem», uma citação de Baxter, um famoso teólogo inglês do século XVII: «De todas as feras, a fera homem é a pior. Para as outras e para si mesma, o mais cruel inimigo».
A visão dos «macacos assassinos» de Dart foi popularizada pelo escritor Robert Ardrey em livros como «African Genesis» que por sua vez serviram de inspiração para a cena de abertura do filme «2001: A Odisseia no Espaço». Estas ideias sobre os Australopitecus foram fortemente criticadas na época e estudos posteriores provam que estão totalmente erradas - os fósseis de animais encontrados nas imediações foram mortos por predadores que não este antepassado do homem (que era muito provavelmente uma presa, não um predador).
Para desmistificar as lendas urbanas sobre a natureza malévola do Homem, recomendo o livro de Robert W. Sussman e Donna Hart «Man The Hunted: Primates, Predators, and Human Evolution». O livro «Biological Basis of Human Behavior: A Critical Review», e em especial o capítulo 20, intitulado «The myth of man the hunter/man the killer and the evolution of human morality», igualmente de Robert Sussman - disponível em formato pdf - é muito interessante porque sugere que as teorias de Dart, completamente erradas, prevalecem na opinião pública e mesmo em alguns membros da comunidade científica apenas porque «reflectem, reforçam e reiteram as nossas crenças culturais tradicionais».
Na realidade, não obstante todas as evidências em contrário, para o público em geral a imagem que perdura incontestada é a da violência primeva do Homem, a sua tendência intrínseca para o mal, um assassino da própria espécie.
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39 comentários:
Continuo a acreditar na frase latina: "Homo homini lupus".
Admito que devido às minhas «...crenças culturais tradicionais», tenho muitas dúvidas acerca do sentido deste texto - embore me confesse desprovido de bases científicas para o tentar refutar.
Interessante seria extrair consequências politco-ideológicas desta possível discussão.
A questão moral é essencialmente menor, especialmente no que à ciência em si mesma diz respeito. As consequências da mesma e, especialmente isso, a forma como estas conclusões são vistas pela sociedade em geral, isso sim, é oq ue estará em jogo. No caso de Dart, o cientista nele fez a descoberta: o homem fez a interpretação. Não é muito diferente de tentar encontrar analogias físicas reconhecíveis apra explicar o estranhíssimo universo em que vivemos.
Claro que os resultados da ciência deveriam ser transmitidos de forma tão estéril quanto possível, não contaminados por comentários subjectivos que possam colocar um "spin" diferente às conclusões. Ainda assim há que ter sempre em conta que os cientistas são pessoas cuja educação foi fundamentada num conjunto de noções religiosas e/ou morais que irão provavelmente interferir com a análise de resultados. Note-se a forma como muitos cientistas observaram fósseis antigos e concluíram (e concluem, no caso dos pseudo-cientistas) que são pré-diluvianas. A vantagem da ciência é o registo e a existência de dados objectivos, os quais podem ser sempre re-analisados mais tarde. É a única arma eficaz contra os preconceitos (ou pré-conceitos) de cientistas individuais e da sociedade em geral.
O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais). Nesse sentido, é o único animal com uma capacidade para um tipo específico de «mal»: a violência pré-determinada e sem ganhos imediatos (pelo contrário, até possivelmente prejudicando o grupo). E claro que isto só é possível porque é o animal que desenvolveu uma cultura mais complexa (concretamente: porque tem uma linguagem que lhe permite elaborar planos de longo prazo e combinar estratégias de grupo). O «mal» humano é ter tanta cultura.
Permita-me comentar a sua frase inicial:
Não obstante todos as indicações em contrário da biologia e da sociobiologia, a concepção judaico-cristã do ser humano como naturalmente perverso preenche o léxico do imaginário da população em geral.
Se em ciência algo é certo é que... nada é certo. Tudo são (boas) hipóteses de trabalho até que os factos as desmintam.
É evidente (parece-me) que o paradigma de uma ciência puramente objectiva, "asséptica" em relação à ideologia, às concepções filosóficas e/ou religiosas é hoje insustentável.
Quando nos aproximamos mais do homem como objecto da ciência mais os cruzamentos são inevitáveis. Não acho que isso leve a má ciência; desde que quem produz ciência explicite o melhor que souber os seus próprios pressupostos.
Dito isto tenho muita dificuldade em aceitar ingenuamente o que seriam as "indicações da biologia e da sociobiologia) como verdades dogmáticas sobre opções morais (isto é, relativas ao exercício da liberdade humana).
Aliás, a afirmação do "ser humano como naturalmente perverso" traz-me algumas objecções.
1 - Estou de acordo que a tradição cristã rejeita uma visão "bondosa" do ser humano (excepto o maniqueismo e derivados a la Rousseau). Mas sempre equilibrou (dependendo das correntes e das épocas) a afirmação do "pecado original" com a bondade da criação divina (E Deus viu que era tudo muito bom). Portanto... não simplificar.
2 - Esta dialéctica judaico-cristã entre bondade da criação e "pecado" estrutural do homem é mais um modelo hermenêutico do homem e da sociologia presente aos produtores dos relatos cristãos do que afirmação paleontológica.
«Continuo a acreditar na frase latina: "Homo homini lupus".»
"O homem é o lobo do homem" - mas note-se que o lobo é um animal relativamente pacifico (para os outros lobos, claro): há lutas nas matilhas, mas acho que raramente mortais.
Aonde é que eu quero chegar com isto - se os outros animais têm relativamente pouca agressividade intra-especifica (i.e., face a animais da mesma espécie), isso poderá indicar que a agressividade intra-especifica não é algo herdado "desde os tempos primevos"
«O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)» isto não é verdade. A natureza está pejada de exemplos diferentes. Não é preciso ir mais longe que as aranhas que comem as suas crias ou os primatas que matam as crias que não descendem de si quando se tornam o macho dominante num grupo. Poder-se-à dizer que o ser humano é o único animal que mata por ódio, mas nem isso seria verdade. O que se comprova cada vez mais (pelo menos que eu o note) é que o ser humano é essencialmente semelhante a múltiplos outros animais. A maior diferença é a tal cultura, o que permite racionalizar acerca das suas acções, criando uma camada extra de complexidade. Mesmo assim não é tudo: o facto de outros animais serem capazes de sentir vergonha ou timidez a um determinado nível demonstra-o.
Há que começar a ver o homem como apenas mais um animal, apenas com uma eventual maior complexidade. Temos de deixar de nos ver como o "pináculo da evolução", pensamento que não mais é que a aplicação dos conceitos criacionistas (que nos colocam como obra suprema) à teoria da evolução (que comprova que viemos de outro lado). Querer tornar o ser humano como único nas suas qualidades e defeitos é demonstrar precisamente aquilo de que fala a Palmira no post.
«O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)»
Bom, na qualidade estrita de espectador do Odisseia, Discovery e NG, permito-me discordar...
Imagine-se que até já há quem diga que De Rerum quer repristinar o Rousseau, sem dúvida ao serviço de uma tenebrosa e sinistra conspiração jacobina...
Essa de recuperar o bom selvagem do Rousseau não! Especialmente se considerarmos que boa parte das teses do eduquês são rousseaunianas...
O que eu pretendia com o post está bem expresso nos comentários do jsa, a quem agradeço pelos comentários.
Já agora, as teses de Dart estão mesmo erradas: os fósseis de antílopes e afins não foram brutalizados pelos nossos antepassados mas por outros predadores, como análises posteriores revelaram. Isto é, ele assentou as suas conclusões em dados que interpretou erradamente. Muito provavelmente o Australopitecus era uma presa não um predador...
É de facto uma discussão interessante e que se encontra longe de estar resolvida. No entanto, remeter a discussão para questões biológicas leva-nos para caminhos ainda mais complexos, falaciosos e até perigosos. O erro das interpretações apresentadas e refutadas que este artigo expõe, está exactamente na tentativa de os compreender a partir de explicações biológicas, logo não me parece plausível insistir novamente na mesma solução para explicar o comportamento humano. Veja-se o exemplo dos «macacos assassinos», que foi refutado não através de explicações biológicas mas sim pela compreensão dos elementos exteriores que influenciaram o seu comportamento nesse sentido. Ouso acrescentar ainda que a insistência em discutir a «natureza do homem» através de tais premissas também só persiste por «reflectir, reforçar e reiterar as nossas crenças culturais tradicionais».
Só homem é capaz do bem e do mal porque é um ser dotado de livre arbítrio.
Relativamente à natureza humana não podemos deixar de ser pessimistas, pois quando olhamos para a história da humanidade a conclusão a que chegamos é que toda ela foi uma história de guerras,genocídios,torturas e misérias.A este respeito basta ver a história recente.
Eu pessoalmente tenho dificuldade em conceber, fora os psicopatas, alguém fazer o mal pelo mal. Mas também tenho a certeza de que um homem com medo é capaz de tudo. Por isso tenho mais facilidade em perfilhar a antropologia pessimista de Hobbes à máxima de Rosseau de que o homem é naturalmente bom a sociedade é que o corrompe.
Não esquecer,todavia, o complexo R, o complexo reptilineo, a parte mais
primitiva, predatória, do cerebro humano que o milénios de civilização não conseguiram apagar.
Cumprimentos
Não percebo o que tem a teoria de Raymond Dart a ver com a fraude do Homem de Piltdown.
essa marca de Caim, essa sede de sangue que separa dieteticamente o homem dos seus parentes antropóides e o aproxima dos mais mortíferos dos carnívoros».
O que há de errado com esta frase? Nada
Quanto a Rousseau. Se é verdade que quando nascemos somos "puros", então porque é que as crianças têm de ser ensinadas?
Caro luís bonifácio,
Suponho que para Rousseau a educação seja parte da corrupção...
"O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)"
Fúteis?
O que é que eliminar rivais sexuais tem de fútil? E o poder é, pelo menos, mais uma forma de obter parceiros sexuais.
O que é que procurar monopolizar parceiros sexuais tem de fútil?
Esta frase:
"O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)"
Não podia estar mais errada...
Primeiro por considerar o homem único nessas acções, cujos exemplos na natureza são demasiados.
Depois, por considerar fútil, o poder e o sexo. Todos os organismos têm como propósito a sobrevivência e a disseminação dos genes, que é exactamente o que poder e sexo representam. Mais uma vez, me parece qua não se percebe a natureza das coisas.
A natureza da "agressão" também me parece mal explicada... Em muitos argumentos tenta-se colocar a agressão "territorial" associada ao poder e ao sexo, ao mesmo nível da agressividade da caça, que visa a alimentação.
Em relação à agressão territorial, esta existe em todos os animais, sejam herbivoros, sejam carnivoros.
Esta não pode de forma alguma ser comparada à "agressão" que leva à morte de um outro ser, com o intuito de obter alimento. Mesmo os mais agressivos dos animais, têm de ser treinados pelos pais, para desenvolverem essa agressividade, de modo a subsistirem, mas, de forma alguma nascem ingénuos. Podem é ser socializados de formas diferentes e manifestar comportamentos diferentes, por aprendizagem.
Quanto ao nascermos racistas, tenho dúvidas. Quando as crianças começam a manifestar sentimentos de qualquer espécie em relação a outros humanos, já passou por meses de socialização, e não me parece que esteja num estado tão puro assim que permita avaliação.
Já vi que dei dois maus exemplos...
Mesmo assim, mantenho a frase mas sem aquilo que está entre parêntesis...
Concretamente, parece-me que a guerra enquanto actividade de grupo contra grupo (dentro da mesma espécie) é um exclusivo humano, eventualmente partilhado com outros primatas...
http://www.world-science.net/exclusives/050209_warfrm.htm
Se não entrarmos em filosofias, nem em definições acerca do significado de violência (ou perversidade) sobra-nos apenas a visão comparativa. Comparando a éspecie humana aos parentes mais próximos não tenho dúvida de que somos uma espécie violenta, (e não estou a referir-me ás sociedades modernas), éramos omnívaros e matávamos para comer, também não tenho dúvidas de que matássemos apenas por diversão. Claro que a religião usou isso pra se fortalecer (muitas das vezes utilizando a própria violência), no entanto em cada um de nós há um passado indelével, e todos nós (hoje em dia), inconscientemente ou conscientemente usamos dessa violência para nos afirmarmos.
O post começa e acaba com a visão religiosa, no meio passa por uma tentativa de refutar esta visão, como disse anteriormente a religião usou a base e acrescentou-lhe alguma coisa, mas, se pensarmos num ser humana sem religião, acredito que enontremos essa violência.
Acho que o estranho era se não fossemos violentos...
Bruno
«Concretamente, parece-me que a guerra enquanto actividade de grupo contra grupo (dentro da mesma espécie) é um exclusivo humano»
Mais uma vez há aí erro: basta recorrer às formigas para se ver exemplo semelhante. Também felinos têm tendência a ser agressivos contra outros grupos da mesma espécie. Em lobos, vemos frequentemente alcateias a disputarem entre si territórios. Tenho ideia que comportamento semelhante já foi observado no mar, entre cetáceos, mas não estou certo disso.
"basta recorrer às formigas para se ver exemplo semelhante"
entre as formigas a guerra não costuma ser entre espécies diferentes (entre espécies esclavagistas e não esclavagistas)?
"Também felinos têm tendência a ser agressivos contra outros grupos da mesma espécie. Em lobos, vemos frequentemente alcateias a disputarem entre si territórios"
Bem , se animais solitários envovem-se em confronto com outros animais da mesma espécie, em pricipio é de esperar que, entre os animais sociais, vários bandos também se envolvam em confrontos.
As grandes diferenças entre o homem e os outros animais parecem-me 2: por um lado, sabemos inventar armas, o que amplia a nosso poder mortifero; por outro lado, como somos mentalmente capazes de funcionar em sociedades organizadas de milhões de pessoas, isso aumenta o potencial de disputa territorial, já que passa a ser possivel manter e conquistar imperios (enquanto um bando de leões apenas procura conquistar um território que dê para para aí uns 20 individuos).
Ou seja, como escreveu o Ricardo Alves, o "mal" humano é ter tanta cultura.
Caro Miguel: Não conheço essa de formigas "esclavagistas" ou não. Todas elas são organizadas habitualmente em castas. Talvez seja isso a que te referes. Quanto às espécies diferentes de formigas, talvez sim, talvez os formigueiros não se ataquem se forem da mesma espécie (mas não arrisco dizê-lo).
Claro que é normal que os animais sociais se envolvam em confrontos com outros grupos, mas foi precisamente esse aspecto que o Ricardo Alves contestou: o facto de os animais não o fazerem. Posso ter percebido mal, mas aquilo que entendi foi que, mesmo entre animais sociais, o grupo, enquanto tal, não se envolveria em confrontos com outros grupos. Foi essa noção que contestei.
Em relação às duas diferenças que apresentas entre humanos e animais, estou plenamente de acordo com a primeira. A nossa capacidade inventiva é a nossa maior diferença, mas apenas a torna de escala, nada mais. Já a capacidade de funcionar em sociedades organizadas de muitos indivíduos não é um exclusivo nosso. Basta, mais uma vez, olhar para os insectos (formigas, também mais uma vez, como o exemplo máximo). A grande diferença é que o seu tamanho poderá eventualmente limitar essa interacção e eventuais "guerras" por território e recursos. Em todo o caso, o problema de escala é menor. Mesmo em grupos menores (recuemos às nossas idades da pedra e/ou do ferro) e vemos grupos de poucos indivíduos a lutar por territórios enormes (pouco nos diferenciando de felinos nesse aspecto).
«Caro Miguel: Não conheço essa de formigas "esclavagistas" ou não»
As formigas vermelhas e as formigas amazonas capturam ovos e larvas de outras espécies de formigas e e criam-nas para trabalhar na colónia (as amazonas, nomeadamente, são incapazes de procurar alimento, precisando de "escravos").
Agora, a pesquisar coisas sobre as guerras entre formigas a informação que obtive é um bocado ambivalente.
Neste link, por um lado refere que as formigas têm guerras, tanto entre espécies, como dentro da mesma espécie, mas, ao mesmo tempo, refere que as principais batalhas de formigas que vemos são expedições de caça de escravos (o que parece indicar que a maior parte são guerra entre espécies)
http://www.ndsu.nodak.edu/entomology/topics/societies.htm
Obrigado Miguel, não tinha conhecimento que as formigas poderiam ser esclavagistas, apenas me lembrava de usarem as larvas de outras formigas para alimentação, mas é sempre bom saber. Seja como for, não somos os únicos. Feliz ou infelizmente, isso é que não sei.
A principal diferença que a capacidade de funcionar em larga escala introduz é que torna viável conquistar outras populações para as subjugar. Para um bando de leões, não faz sentido dispender energia a conquistar território maior do que eles podem utilizar para caçar.
Para uma tribo humana já faz - em vez de caçarem/pastorearem/cultivarem eles prórpios no território conquistado, deixam lá os anteriores habitantes a caçar/pastorear/cultivar e a pagar tributos, enquanto eles se dedicam a novas conquistas (e é a capacidade de funcionar em larga escala - que, é verdade, partilhamos com alguns insectos - que torna possíveis este tipo de arranjos)
Já agora, um texto sobre o assunto (o autor é informático e não deve ter formação em biologia, mas as reflexões são interessantes):
http://www.catb.org/~esr/writings/killer-myth.html
E outro: http://www.edge.org/3rd_culture/pinker07/pinker07_index.html
Depois de ler o artigo da Prof. Palmira F. da Silva até parece que vivemos no melhor dos mundos e que a maldade humana foi uma invenção da religião para justificar existência de Deus.
Uma provocação:a biologia tem dificuldade em reflectir sobre o mal pois tem a tendência para reduzir o homem a uma entidade biológica, e este seu determinismo exclui todo o mal na medida em que o homem limita-se fazer algo ditado pela evolução, pelos genes etc.
Cumprimentos.
...e, já agora, para melhor : nem na cultura somos únicos, uma vez que os chimpanzés possuem aquilo que antropologicamente é cultura de facto, tem tradições quanto a fabrico de instrumentos, que são observados em algumas comunidades e não noutras. Parece que até os pássaros têm dialectos locais ?
Mais uma vez, Darwin tinha intuição quando referiu que é em grau que variamos de outras espécies.
Uma observação interessante: talvez seja habitual ser referido por jornalístas que Jane Goodall foi a primeira a observar o fabrico de instrumentos ( que fazia parte da designação humana, única que fabricava instrumentos), não era afinal exclusividade humana, mas escreve Richard Dawkins, em "The Ancestor´s Tale" que Darwin tinha descrito o uso de de bigorna por chimpanzés para partir "nozes".
... a ciência tem métodos, não pode apreender a realidade de uma só vez na sua totalidade, as ciências estão constituídas, mas uma coisa é certa: a ciência tem bases éticas e não é por não as ,nem por deixar de acreditar nas capacidades humanas para o conhecimento que felizmente a ciência deixa de existir.
até agora acredito que o ser humano é de extremos, tanto é inacreditávelmente violento como altruísta, acho que é por ter um sistema nervoso muito complexificado, um pouco como diz Edgar Morin em Homo Demens, que compara essa complexificação a uma máquina: quanto mais complexa tanto quanto mais desordens poderá ter. Por sermos tão emotivos é que somos violentos /agressivos ?
...e, já agora, será isto algo ao estilo de Rosseau, de Marx, do meu próprio : um aluno não é apenas um investimento do Estado, é uma pessoa com sentimentos que não devem ser alienados, e se a cultura não é para todos parte da natureza humana é porque nem todos deverão ter dinheiro para estudar e então, se a cultura é muito especificamente humana, privar seres humanos de cultura é alienar.
Um aluno não deveria ser apenas uma preocupação técnica.
Não adianta.
Já agora, uma observação sistemática mostra que a guerra, cruel como tudo, sempre acompanhou a história humana. Acreditarmos mesmo assim na bondade humana já está mais relacionado com concepções filosóficas. Quaísquer que sejam os motivos para tal: a crueldade acompanha-nos há muito tempo, é dicifíl já não considerá-la parte da natureza humana ?
Até nisso talvez os chimpanzés se assemelhem a nós, porque, como observou Jane Goodall, os chimpanzés são capazes de organizar "guerrilhas" entre grupos, ou seja fazer "guerra".
A observação pura e simples é de facto constatar que temos uma natureza malévola, o inteligente será combatê-la ?
Será como uma dialéctica de opostos?
Não sei se alguém vai ler isto............
Quanto às fontes antes de Hobbes e Rousseau temos Tucídides, Ovídeo e Seneca.
Quanto à violência inter-especifica aconselho :
DENNEN, John Matheus Gerardus van der (1995) – The Origin of War: The Evolution of a Male Coalitional Reproductive Strategy. Groningen: Origin Press.
Dennen refere 67 espécies que têm comportamento agonístico intraespecifico: das formigas, passando pelos suricatas até aos golfinhos, maior parte destas espécies são primatas, este comportamento agonístico é caracterizado por gestos e vocalizações, na tentativa de intimidar os adversários, temos confrontos campais e mortes deliberadas.
Mais info no Blog Violência e Pré-História.
Luis Lobato de Faria
pra mim isso nunca que iria ser uma lenda urbana , fala sério
Isso não é lenda, são teorias.Lendas envolvem algo improvevel.Por mais que não acredite ,as teorias se baseiam em fatos possiveis.Lendas são criadas pela população,não por cientistas em suas pesquisas.Lendas são passadas de geração em geração e são modificadas com o tempo.Portanto,NÂO E LENDA essa história,e SIM um possivel acontecimento mas não provado
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