domingo, 22 de outubro de 2023

TRASLADAÇÃO DOS RESTOS MORTAIS DE EÇA DE QUEIROZ PARA O PANTEÃO

 Por Eugénio Lisboa

O Supremo Tribunal Administrativo decidiu a favor dos herdeiros de Eça de Queiroz, que desejam a trasladação dos seus restos mortais para o Panteão Nacional.

A lei, bem ou mal interpretada por esse tribunal, deu-lhes razão. A razão dos herdeiros, apoiada na lei jurídica, ganhou. A justiça à memória do escritor, não. A lei escrita obriga, muitas vezes, à injustiça. 

Não é a primeira vez que lei e justiça se opõem. E não será a última. 

E já vem, pelo menos, dos tempos remotos de Antígona. O funeral do autor de O CRIME DO PADRE AMARO vai, provavelmente, ter os ritos da trasladação abençoados, com a aprovação comovida dos que herdaram o nome, mas não o espírito, do grande escritor, por um qualquer dignitário da Igreja.

E o criador do Conselheiro Acácio vai ter de ouvir, lá no assento etéreo, onde se encontra, as beatas e conselheirais palavras de um qualquer orador que ali vai buscar os seus quinze minutos de glória. 

Espero que, na urna onde os seus ossos se encontrarem, haja espaço suficiente para ecoar o som da inconfundível gargalhada que ali se vai percutir. 

É bem verdade: os grandes homens nem sempre têm os herdeiros que os conhecem e os merecem. 

Por isso, o grande George Steiner propunha que as viúvas desses grandes homens – no sentido muito lato de “viúvas” – deviam, à cautela, ser lançadas à pira, para evitar desacatos.

É uma proposta que merece a mais séria consideração das mentes legislativas. 

Eugénio Lisboa

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