O que acha? O que pensa? Disto, daquilo, dos mais variados assuntos, acontecimentos, casos pontuais.
De tudo e sobre tudo as pessoas têm de manifestar a sua opinião, dizer o que sentem, o que acham, mesmo que nada percebam do assunto de que estão a falar. Sentir e achar tornaram-se os verbos mais usados nos meios de comunicação social, usados em abundância pelos jornalistas, que interrogam as pessoas na rua para saber o que sentem sobre determinado acontecimento. Ganham, porém, destaque especial nas redes sociais, onde tudo é comentado, tenha ou não um interesse geral, ou seja apenas uma intromissão na vida íntima desta ou daquela figura pública.
Vivemos tempos confusos, mesmo para quem, com serenidade, com reflexão e com conhecimento baseado na razão, queira exprimir a sua opinião sobre determinado assunto.
Assim, quem critica é criticado, quem não critica é criticado também, porque não reagiu, não se pronunciou e os jornalistas estão sempre à espera da "reacção" deste ou daquele.
O escritor e jornalista espanhol Arturo Pérez-Reverte, analisa este tema numa das suas crónicas semanais sob o título geral Patente de Corso.
No es ya que desde hace tiempo, sobre todo a través de las redes sociales, la peña pida tu opinión sobre esto o aquello: eso es legítimo, y también a mí me interesa la opinión de mucha gente, sobre todo si es cualificada, e incluso —a veces más interesante aún— de la que no lo es. Pero una cosa es dar tu opinión sobre algo, y otra plegarse a la contumaz exigencia de todo cristo.
E assim, diz ele:
se elogias, ofendem-se os que detestam; se criticas, ofendem-se os que defendem. E se elogias e criticas ao mesmo tempo o que achas positivo e negativo em algo ou alguém, ficam todos furiosos.
alheios à fértil incerteza da inteligência, para eles só existe o branco e o negro, nunca o matiz, o raciocínio,o debate, a complexa gama de cinzentos...
e vêm os insultos " misógino, masón, rojo de mierda, fascista, vendepatrias, dinos quién te paga".
Mas isto já não acontece só quando dás uma opinião, também quando ficas calado. Agora também te insultam por ter a boca fechada, como se abri-la fosse obrigação ineludível de qualquer um que tenha voz pública. São capazes de interpretar até o que não dizes.
Las redes sociales, el paisaje de hoy, están en manos de innumerables cretinos, cuando no malvados – unos pueden convertirse en otros con facilidad – que no desean escuchar opiniones sino confirmación de sus amores y odios personales. No quieren debate, ni pensamiento; no buscan convencer, sino acusar. Anhelan sentirse parte de un grupo y enemigos de otro, en un mundo que ha sustituido humanismo por humanitarismo y razón por sentimientos.
Para qué voy a pensar, si es más cómodo sentir. Tal es la ideología asquerosamente emocional de este siglo: un estúpido simplismo de buenos y malos, necesitado de claras líneas divisorias que hagan sentirse confortable a uno u otro lado, según cada cual.
Como não leram história, nem viram nada para lá do ecrã do telemóvel — e nem mesmo nele — ignoram que tudo se passou antes.
1 comentário:
De um modo geral, concordo com o teor do artigo. É verdade que nem tudo o que luz é oiro - pode ser só um pedaço de latão ou a chama tremeluzente de uma pequena vela de cera. Mas há coisas que se sentem na própria pele. Por exemplo, eu sinto que o ensino secundário em Portugal está a apodrecer porque os que mandam na educação acham, cheios de hipocrisia, que mais importante do que aprender, e muito mais importante do que ensinar, é passar a malta toda sem fazer exames.Esta desresponsabilização dos alunos acarretou, para dentro das salas de aula, a grande indisciplina e violência que lá se vive todos os dias. Para mim, estas são as razões principais que levam os jovens a não quererem ser professores.
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