"As insuficiências do nosso ensino já vinham sendo analisadas e discutidas desde alguns anos atrás e todos concordavam na urgência de se tomarem providências para as minimizar.
Uma delas, entre muitas, era a de preparar professores com rapidez e, se possível, com qualidade, às dezenas, às centenas, aos milhares. Não é exagero: aos milhares- Os candidatos ao ensino (refiro-me ao secundário) que deveriam ser licenciados pelas Universidades, tinham, até então, que se sujeitar a um exame de admissão a um estágio, a dois anos de frequência desse estágio, e a um exame final, chamado 'exame de estado', que lhe permitia então ingressar na função pública.
Poucos se dispunham a percorrer essa via sacra. Se o ensino os interessava, ou lhes convinha, podiam entrar nele, de imediato, após a licenciatura, e aí se conservarem durante anos, até a vida toda, embora sem segurança, sujeitos às circunstâncias do acaso, sem fazerem parte de nenhum quadro de funcionamento público. Muitos preferiam isso a exporem-se a provas de exame e a permanecerem num estágio de dois anos sem qualquer compensação económica (...).
Que fazer, então? Optou-se pela via mais fácil e de proveito quantitativo mais rápido: dispensar o exame de admissão ao estágio (...). Os concorrentes teriam estágio, mas só de um ano, e exame final, de estado. Os licenciados concorreram em bicha e entraram em estágio.
Assim sucedeu no ano escolar de 1969-1970"
quinta-feira, 5 de outubro de 2023
"Optou-se pela via mais fácil e de proveito quantitativo mais rápido"
No dia mundial do professor, que é hoje.
Não desvalorizando o gravíssimo problema que é a actual falta de professores no nosso sistema de ensino público, do aligeiramento de critérios para contratação de quem possa, ainda que remotamente, desempenhar o seu papel, da descoordenação entre Ministério da Educação e Instituições de Ensino Superior a quem cabe a formação e de vários outros factores, há que reconhecer a sua constância...
Com mais ou menos pormenor, o problema parece inabalável e sempre de proporções assinaláveis. Não temos (como outros países) conseguido manter uma formação de professores regular e adequada, em termos de número e de preparação, às necessidades do sistema.
Eis o que disse a propósito Rómulo de Carvalho, na sua condição de Metodólogo, ou seja de orientador de estágios, na transição da década de sessenta para a de setenta do século passado (cf. pp. 292-293 das suas Memórias)
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4 comentários:
No sistema de ensino atual, em que o ensino ministrado pelos professores é completamente desvalorizado pelas hordas de "especialistas em educação", a soldo da autoridades governamentais, não faz praticamente sentido falar em falta de professores.
Quando se procedeu à estupidez de excluir dos currículos todos os conceitos cuja compreensão implicasse um mínimo de trabalho e estudo por parte dos alunos, sem, ao mesmo tempo, reduzir o número de disciplinas que vêm de um tempo, ainda recente, em que o ensino era levado a sério, com professores a ensinar e com exames finais em que só passava quem sabia, como dizia o fado de Coimbra, criou-se esta situação absurda em que faltam professores para não ensinar!
Entretanto, a violência e a indisciplina, invisíveis para as autoridades, campeiam nas escolas C + S e EB 1,2,3 + S + JI.
Prezado Anónimo, vou-me repetir: como "especialista em educação" (seja lá isso o que for) não estou a soldo de qualquer autoridade governamental ou outra. E não sou excepção, estou dentro da regra. Acontece que, por regra, "especialistas em educação" afirmam a indispensabilidade dos professores e a sua formação, antes de mais no conhecimento que devem ensinar. Sobressaem as excepções? Talvez!
Mas, presumindo que é professor, deve saber, que muitos são também os professores que dizem que o professor é um "mero" qualquer coisa e que para aprender os alunos não precisam de ser ensinados, etc. São influenciados pelos "especialistas em educação"? Talvez! Mas, espera-se que os professores pensem, discriminem e decidam em função de um ideal de educação.
Cumprimentos, MHDamião
Professora Helena Damião,
Não incluo, no meu grito de revolta "todos os especialistas em ciências da educação". Só ataco aqueles que usando uma linguagem afetada, pretensiosa e ridícula orientam professores e educadores de infância para que procedam à destruição do ensino e das aprendizagens dos alunos, em prol do sucesso educativo para todos. Esses tais especialistas fogem, como o diabo da cruz, da abordagem da indisciplina e violência em meio escolar. Evidentemente, quanto maior a indisciplina, causada pelos professores, maior o sucesso escolar. Veja-se o caso do ensino profissional !...
E que dizer do ensino por domínios?!
O professor, para cada um dos instrumentos de avaliação que aplica aos seus mais de trezentos alunos, é obrigado a especificar por escrito, e por extenso, todos os domínios e sub-domínios avaliados bem como todas as medidas a adotar pelos alunos para manterem o seu bom desempenho ou melhorarem as aprendizagens, consoante os casos. Se o professor não escrever isso tudo para cada um dos seus mais de trezentos alunos, é natural que eles não saibam em que domínios, como Átomos e Moléculas ou Galáxias e Big Bang, foram avaliados, e têm toda a legitimidade, apoiados pelos encarregados de educação, para exigirem a passagem de ano, a título indemnizatório.
Os professores não são de confiança; eles só querem reter os alunos. Antes da implantação do ensino por domínios, já com a autonomia científica e pedagógica dos professores reduzida a nada, ainda se retinha, de longe a longe, um aluno.
Atualmente, os professores e os educadores de infância limitam-se a cumprir ordens. Já não mandam nada!
Cumprimentos.
Estimado Leitor Anónimo
Os especialistas de que fala constituem uma amálgama de diversa proveniência, inclui quem quer pôr a educação ao seu serviço, gurus que dizem ter a fórmula para salvar o mundo, académicos que encontram numa "inovação" o modo de sobressaírem, profissionais de menos boa vontade e, mesmo, de boa vontade... Todos dizem aos professores o que pensar e o que fazer. Mas, os professores, sendo-o verdadeiramente, têm obrigação moral, ética, de escrutinar o que lhe é dito para pensar e para fazer, por referência a um ideal de educação. Recuso-me a pensar - apesar de poder estar certo e eu errada - que os "professores se limitam a cumprir ordens". E, se assim é, paremos para analisar a origem e concretização dessa atitude, bem como as suas consequências. Talvez, até, partindo do exemplo que dá: da avaliação.
Cumprimentos,
MHDamião
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