quarta-feira, 31 de março de 2021
O CALEMBUR DE ARTUR CORVELO (A propósito de críticos de vistas curtas)
terça-feira, 30 de março de 2021
NA HORA DA DESPEDIDA
“Porque haveremos de permitir
que os nossos inimigos tenham ideias?” (Josef Stalin).
Durante anos vivi, até aos
dias de hoje, “no doce e ledo engano” de
a docência ser uma profissão com a dignidade de outras em que para ser médico é
necessário o curso de Medicina e para ser advogado o curso de Direito, e por aí adiante!
Como me poderia eu, portanto, atrever-me em ficar calado perante um panorama
aberrante em que para dar aulas quanto
bastava qualquer exigência académica como o acontecido
depois de 25 de Abril. Assim, por
exemplo, indivíduos que ainda estavam a estudar para profissões exigentes vendiam aulas para ganharem umas massas
que não criavam calos como as profissões manuais.
Para os leitores,
possivelmente, de memória curta, recordo que chegou a haver “professores” a
darem aulas a alunos de formação académica superior chegando esses ditos, com
impropriedade, professores, que professavam essa doutrina, em abuso e benefício próprios, no primeiro
dia de aulas de apresentação a advertir os alunos (não é anedota, embora satisfaça todas as
condições em sê-la por dar aso a gargalhadas!) perguntem-me tudo desde que não seja
conteúdo de exigências programáticas!
E o que dizer de alunos que
para entrarem no ensino superior tinham que penar 12 anos de estudos
anteriores vendo, por outro lado, colegas que através das Novas Oportunidades a
ele tiveram acesso escandalosamente facilitado, a exemplo de Relvas, que em que nada se comparam às provas de acesso anteriores
de grande exigência a satisfazer por autodidactas que não eram, como alguns que assim hoje se intitulam ignorantes por conta própria!
É esta a palhaçada que o
próprio ministério da Educação promoveu quando, em tempos idos, para dar aulas no 1.º ciclo do básico era
exigido o sério diploma das antigas Escolas do Magistério Primário e nos outros
ciclos do básico e secundário era necessária uma licenciatura universitária que
passou a ser substituída por simples
cursos que não valem dez reis de mel coado. Ou seja, quanto menos preparado
academicamente o docente estiver melhor o ensino
por ele ministrado estando, como tal, o ensino na razão inversa da “sapiência”
dos docentes.
Por outro lado, alguns docentes deixaram de ensinar para assumirem o papel de sindicalistas a
tempo inteiro que, com grande agressividade subiram na vida até atingirem o 10.º
escalão da carreira docente onde se quedam até começarem a trabalhar nos seus hobbies ou a viajar que sempre foi esse o seu sonho
Sempre que abordo estas questões, ocorre-me à memória a história
daquela velhinha que ao assistir a uma
parada militar, grita orgulhosa para a
multidão: “Todos levam o passo trocado, só o meu filho Zé leva o passo certo! Julgo ser eu hoje
um Zé que, pelo contrário, se recusa a
marchar com o passo “certo” de oportunistas.
Não, não sou eu esse Zé que depois de 40 nos de serviço docente acumulado com
três anos de oficial miliciano do Exército, julga levar o passo certo. Essa personagem que
sou eu não quere ser, parafraseando Charles
Chaplin, apenas palhaço, o que já me
colocava em nível bem mais elevado que o de qualquer político!
Valha-me, ao menos a promessa solene de não voltar a perder o meu
tempo e o meu entusiasmo em lutar, qual Sancho Pança, contra interesses sindicais instalados, que se intitulam capazes de
acumular os papeis sindicais e de uma
Ordem dos Professores
Lutei, com toda a força, aposentado que estou depois 40 anos de docência
em acumulo com três anos de oficial miliciano do Exército, a exemplo de
antigos combatentes do Ultramar em
defesa e um ideal, muitos deles tendo posto em risco a vida em defesa de uma
pátria madrasta, em que desfilam orgulhosos
com o andar trôpego por articulações enferrujadas e, por vezes, estropiados com
as fardas coçadas em “guerras e perigos esforçados” em paradas militares como
as de 1.º de Dezembro dia Comemorativo da Restauração.
Disse Churchill, durante a 2.ª
Guerra Mundial, em homenagem aos seus combatentes: “Nunca tantos deveram tanto
a tão poucos!” Em contrapartida, em terra lusitana, nunca tantos deram tão pouco
aos seus soldados da Campanha do Ultramar. E mesmo assim regateando esse pouco!
Reporto-me, agora, à luta
inglória pela criação de uma Ordem dos Professores acompanhado pelo colega
Carlos Sarmento, vencido mas não convencido, cumprindo a promessa de uma retirada sem honra nem glória.
Mas uma certeza levo comigo: promessa dada é para ser cumprida! Assim como cumpri a promessa de me bater pela criação de uma Ordem dos Professores, resta-me cumprir a promessa de dela me retirar sem ser em debandada. Apenas como opção devidamente meditada e saudosa!
segunda-feira, 29 de março de 2021
É PRECISO CRUZAR OS RESULTADOS DAS APRENDIZAGENS COM INDICADORES SÓCIO-ECONÓMICOS ou O REFINADO NEOLIBERLISMO DAS ESQUERDAS POLÍTICAS
A CRIAÇÃO DE UMA ORDEM DOS PROFESSORES PERDIDA NA POEIRA DO TEMPO
SOBRE A ORDEM DOS PROFESSORES (23/05/2011)”:
“A profissão docente é a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático” (Fernando Savater, catedrático de Ética da Universidade do País Basco).
A necessidade da criação de uma Ordem dos Professores era, até há pouco,
apenas sussurrada entre uns tantos elementos da classe docente. Nos dias de
hoje, em que os professores passaram a ter constante acesso à Internet avolumam-se
os comentários favoráveis à respectiva criação.
A prova disso está na transcrição parcial que aqui faço - como uma ponta de
orgulho que uns compreenderão e outros não, mas pouco me importam estes últimos - de um
comentário publicado no meu post "A formação de
professores nos ensinos universitário e politécnico" (21/06/2011). Nele
escrevi:
“Se quer que lhe diga, até tenho medo do meu optimismo, quanto maior o voo
maior a queda. Mas é esta a minha natureza e estou optimista. Se um dia as
gerações futuras tiverem o privilégio de, no final de uma licenciatura de
qualidade, se inscreverem numa Ordem dos Professores para depois exercerem
funções docentes quando esse dia chegar, terei o maior prazer em o comemorar consigo.
Aliás, seria uma honra!"
Em balanço de memória, perdi a conta de posts e artigos de opinião de jornais que escrevi em defesa da criação da Ordem dos Professores (OP), de palestras que proferi, de deslocações à Assembleia da República com esse destino, de conversas amenas que tive com crentes e polémicas com infiéis para que, entre outras coisas, os docentes deixassem de ser escravos em mãos governamentais ou títeres de palcos sindicais de uma espécie de mercenários preocupados apenas com questões salariais e horários de trabalho, como só de pão vivesse o homem.
Aliás, é esta a perspectiva defendida por professores que fizeram de um
sindicalismo puro e duro do século XIX a sua profissão, depois de terem vendido
escassos meses ou parcos anos de aulas. Esta uma das muitas causas, como é
fácil depreender, da guerra sem quartel, e usando todos os meios, desencadeada
contra a criação da OP. A título de mero exemplo, a Fenprof, anos atrás,
defendia que “o campo de intervenção de uma Ordem restringe-se ao plano
das questões éticas e deontológicas que não são, para já, questões centrais das
preocupações dos professores”.
E, para fundamentar aquilo que dizia ser (mas não é) um arrabalde das preocupações dos professores, acrescentava em ocupação abusiva da finalidade de um OP, por si "decretada" acima:”Os Sindicatos dos Professores têm sido e continuarão a ser espaços de análise e discussão das questões da ética e deontologia da profissão”. Mas esta espécie de sindicalismo que diz e se desdiz já teve piores dias de cofres cheios quando, por exemplo, aceitavam quotas de curiosos sem qualquer curso ou em vias de o terminar que viam na docência uma forma de ganhar a vida enquanto lhes não aparecia nada mais rendoso.
Do que me lembro, a luta que tenho mantido em prol dessa criação ascende, talvez, a mais de três ou quatro décadas. Hoje aposentado, depois de mais de 40 anos de serviço docente do ensino secundário ao ensino universitário oficial, da “Cidade Invicta” à velha torre das margens do Mondego, tenho a meu favor o facto de nunca, por nunca, me terem movido interesses pessoais ou de simples penacho.
No dia (um dia apenas adiado) em que for criada a OP, a honra é de todos nós que nos fizemos seus defensores intransigentes, rejubilarei pela sua criação e sentir-me-ei recompensado pela companhia daqueles professores que sempre defenderam o interesse público de uma das mais nobres, exigentes e prestigiadas profissões.
Esse facto só por si, salda as horas por mim consumidas em madrugadas insones e sem fim, por exemplo, na elaboração dos respectivos estatutos e de um livro sobre esta temática. Sem o cunho pós-revolucionário que lhe foi dado décadas atrás: A LUTA CONTINUA!
Por entender ter interesse saber-se a reação à criação da Ordem dos Professores, transcrevem-se os respectivos comentário. Assim:
domingo, 28 de março de 2021
QUEREMOS RECUPERAR AS APRENDIZAGENS PARA OS "JOVENS GANHAREM DINHEIRO"
Título de notícia do jornal Expresso, assinada por Tiago Miranda |
Parto de um princípio: é à escola e aos seus professores que deve ser confiada a tarefa (profissional) de ensinar (sim, ensinar!) para que os alunos possam aprender, no caso, a partir do ponto em que estão. Se os professores não têm tempo, que sejam libertados de tarefas que são marginais ao ensino; se não têm conhecimentos, que sejam apoiados por académicos capazes; se faltam professores que se permita que aqueles que estão em formação entrem no ensino, mas devidamente preparados;E coloco uma questão: para que quer a sociedade, com tanto empenho, recuperar (certas) aprendizagens suspensas? Implícita ou explicitamente, o que vejo como pano de fundo nos discursos beneficentes é a economia (ou, melhor, a lógica financeira neoliberal, arredada de valores fundamentais como a justiça distributiva). Quer-se preparar os alunos para... o mercado de trabalho! Não se pode interromper a produção de "capital humano"!
“Em educação, sabemos que os retornos [do investimento] são mais elevados quanto mais desfavorecida é a população a ser intervencionada”, diz. Neste caso, “os ganhos de rendimento futuro, mesmo tendo em conta as estimativas mais conservadoras, são substancialmente superiores ao custo da intervenção por aluno”, garante. Na prática, isto significa que cada euro gasto neste programa de recuperação de aprendizagens pode significar um retorno de três a dez euros ao longo dos próximos 40 anos."
O NEGÓCIO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA, QUE DEVERIA SER ALTRUÍSTA
Vale muito a pena ler o texto de blogue com o título acima reproduzido e que traduz excelentemente o seu conteúdo (aqui). A ligação da universidade à empresa, redunda na negação do sentido e funções da primeira em favor das necessidades e interesses da segunda. Acrescento: com responsabilidade da própria universidade, que aceita submeter-se à lógica da segunda. Pode ser que esteja agora, finalmente, a acordar.
O mundo em que os bons são os maus e o os maus são os bons!
Árvores: produtoras e purificadoras. Nós: consumidores e poluidores
sábado, 27 de março de 2021
"Os meus mestres já lá estavam"
Antes do meu despertar no teatro, os meus mestres já lá estavam. Tinham construído as suas casas e as suas poéticas sobre os restos das suas próprias vidas. Muitos deles não são conhecidos ou sequer lembrados: trabalharam a partir do silêncio, a partir da humildade das suas salas de ensaio e das suas salas cheias de espectadores e, lentamente, após anos de trabalho e conquistas extraordinários, foram deixando o seu sítio e desapareceram.
Quando percebi que o meu ofício e o meu destino pessoal seria seguir os seus passos, percebi também que herdava deles essa tradição apaixonada e única de viver o presente sem outra expectativa que a de alcançar a transparência de um momento irrepetível.
Um momento de encontro com o outro no escuro de um teatro, sem mais protecção do que a verdade de um gesto, de uma palavra reveladora. O meu país teatral são esses momentos de encontro com os espectadores que cada noite chegam à nossa sala, vindos dos mais variados recantos da minha cidade, para nos acompanhar e partilhar umas horas, uns minutos. Com esses momentos únicos construo a minha vida, deixo de ser eu, de sofrer por mim mesmo e renasço e percebo o significado do ofício de fazer teatro: viver instantes de pura verdade efémera, onde sabemos que o que dizemos e fazemos, ali, sob a luz da cena, é verdade e reflecte o mais profundo e o mais pessoal de nós.
O meu país teatral, o meu e o dos meus actores, é um país tecido por estes momentos em que deixamos para trás as máscaras, a retórica, o medo de ser quem somos, e damos as mãos no escuro.
A tradição do teatro é horizontal. Não há quem possa afirmar que o teatro está nalgum centro do mundo, nalguma cidade ou edifício privilegiado. O teatro, como eu o recebi, estende-se por uma geografia invisível que mistura as vidas de quem o faz e o ofício teatral num mesmo gesto unificador.
Todos os mestres de teatro morrem com os seus momentos de lucidez e de beleza irrepetíveis, todos desaparecem do mesmo modo sem deixar outra transcendência que os ampare e os torne ilustres. Os mestres de teatro sabem-no, não vale nenhum reconhecimento perante esta certeza que é a raiz do nosso trabalho: criar momentos de verdade, de ambiguidade, de força, de liberdade na maior das precariedades.
Deles não sobreviverão senão dados ou registos dos seus trabalhos em vídeos e fotos que apenas recolherão uma pálida ideia daquilo que fizeram. Mas sempre faltará nesses registos a resposta silenciosa do público que percebe num instante que o que ali se passa não pode ser traduzido nem encontrado fora, que a verdade que ali se partilha é uma experiência de vida, por segundos mais diáfana que a própria vida.
Quando percebi que o teatro é um país em si mesmo, um grande território onde cabe o mundo inteiro, nasceu em mim uma decisão que é também uma liberdade: não tens de afastar-te nem sair do lugar onde estás, não tens de correr nem deslocares-te. Aí onde existes está o público.
Aí estão os companheiros de que precisas a teu lado. Ali, fora da tua casa, tens toda a realidade diária, opaca e impenetrável. Trabalhas então a partir da imobilidade aparente para construir a maior das viagens, para repetir a Odisseia, a viagem dos argonautas: és um viajante imóvel que não pára de acelerar a densidade e a rigidez do teu mundo real. A tua viagem é um instante, rumo ao momento, em direcção ao encontro irrepetível perante os teus semelhantes. A tua viagem é até eles, até ao seu coração, até à sua subjectividade. Viajas por dentro deles, das suas emoções, das suas recordações que despertas e agitas. A tua viagem é vertiginosa e ninguém pode medir ou contar isso. Também ninguém o poderá reconhecer na sua justa medida, é uma viagem através do imaginário da tua gente, uma semente que germina na mais remota das terras: a consciência cívica, ética e humana dos teus espectadores (...).
Carlos Celdrán (trad. Tiago Fernandes / Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana)
NOVOS CLASSICA DIGITALIA
NOVIDADES EDITORIAIS
Série “DIAITA - Scripta & Realia” [estudos]
- Carmen Soares, Anny Jackeline Torres Silveira & Bruno Laurioux, Mesa dos Sentidos & Sentidos da Mesa. Vol. I (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2021). 372 p.
DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-2061-9
[Na sua mais ampla aceção, a “mesa” remete para universos onde interagem produtos, pessoas e ideias. Espaço de sobrevivência, mas também de deleite, de formação, de culto e de sociabilidade, cada “mesa” retrata mentalidades, serve de metáfora de valores, abre lugar à transformação de quem nela interage e participa. Da experiência sinestésica proporcionada pelos bens alimentares e ambientes que os envolvem nasce a “Mesa dos Sentidos”. Os 16 capítulos que compõem o volume I estruturam-se em torno de três temáticas centrais. A perceção sensorial de alimentos e ambientes é tratada na Parte I (Sentidos à Mesa). A relação harmónica ou conflituosa entre alimentação e saúde discute-se na Parte II (Mesas terapêuticas, mesas saudáveis e mesas malsãs). Os condicionalismos de ordem gustativa, biológica ou económica por detrás da alimentação servem de pilar aos estudos da Parte III (Mesas de delícias, mesas de sobrevivência e mesas económicas).]
Série “Autores Gregos e Latinos” [textos]
- Ana Alexandra Alves de Sousa, Apolónio de Rodes, Argonáutica, Livros I e II. Estudo Introdutório, Tradução e Notas (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2021). 188 p.
DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-2136-4
[Esta tradução tem a particularidade de permitir ao leitor identificar linhas
de leitura. De facto, o poeta constrói com os lemas da “Argonáutica”, quase tanto quantos os da “Odisseia”,
sentidos que facilmente passam despercebidos ao leitor atual, afastado
do original pela barreira linguística. Assim, a tradução que se
apresenta é a primeira feita com a preocupação de manter os lemas
identificáveis. Pretende-se que o leitor contemporâneo reconheça, como o
leitor alexandrino, os paralelismos com outros episódios dentro do
poema, as evocações subtis de personagens e de momentos.]
"Cosmologia, a ciência do Universo" por Orfeu Bertolami
IberiCOS - Iberian Cosmology Meeting (online)
Palestra Pública
Na próxima terça-feira, dia 30 de Março às 18h, via plataforma Zoom, realiza-se a palestra pública "Cosmologia, a ciência do Universo" por Orfeu Bertolami, professor do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e moderação de Carlos Fiolhais, professor do Departamento de Física da Universidade de Coimbra e director do Rómulo CCVUC.
Esta sessão realiza-se no âmbito da Conferência Internacional online IberiCOS 2021 - Iberian Cosmology Meeting, organizada em parceria pelo Departamento de Física da Universidade de Coimbra e o Instituto Superior Técnico de Lisboa, que conta com perto de 200 participantes oriundos de várias partes do globo, sendo este um recorde absoluto de participação e internacionalização em relação a todas as edições anteriores desta conferência. Destinada ao público em geral, esta sessão é de participação livre e não necessita de inscrição.
Acesso à sessão no Zoom: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/84304879950
ID da reunião: 843 0487 9950
RESUMO DA PALESTRA:
Nesta palestra nós discutiremos as principais ideias e factos observacionais que permitem que alcancemos um entendimento fenomenológico da dinâmica do Universo. Este entendimento permite-nos, por um lado, reconstruir com algum detalhe a história do Universo, mas por outro, levantam questões de princípio de fundamental importância para a física contemporânea.
Apresentação do orador:
Orfeu Bertolami é um físico teórico que trabalha em problemas de cosmologia, física das astropartículas, gravitação clássica e quântica, física fundamental no espaço e ciência do Sistema Terrestre e é membro do Conselho Científico do Departamento de Física e Astrofísica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto desde 2018.
A URGÊNCIA DA GERONTOMOTRICIDADE NUMA CIVILIZAÇÃO HIPOCINÉTICA
CRISTINA OLIVEIRA E OS TELESCÓPIOS ESPACIAIS
Minha entrevista com Cristina Oliveira, a trabalhar para a NASA em Baltimore:
https://www.publico.pt/2021/03/27/ciencia/noticia/cristina-oliveira-telescopios-espaciais-1955871
HANS ROSLING E A COMPREENSÃO DO MUNDO
Minha recensão no jornal I de quinta-feira:
No dia 22 de Setembro de
2015 assisti no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, a uma conferência
intitulada “Os números por outras palavras” pelo médico sueco Hans Rosling
(1948-2017), professor de Saúde Internacional no Instituto Karolinska, em
Estocolmo. O conferencista era, na altura, já muito conhecido como um “mágico”
da estatística pelas apresentações que tinha feito e estavam disponíveis na
Internet sobre a evolução de vários indicadores relativos ao estado do mundo em
TED Talks e outros encontros. Encantou-me não só pelo conteúdo da exposição mas
também pelos seus dotes oratórios, falando em português, com um sotaque do
norte de Moçambique onde tinha trabalhado durante dois anos. A ocasião era a
celebração dos cinco anos da PORDATA, a base de dados de Portugal contemporâneo
da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e a anfitriã era a directora dessa
base de dados na altura, Maria João Valente Rosa. Rosling não sabia que daí a
um ano e poucos meses iria morrer com um fulminante cancro do pâncreas.
Antes de morrer preparou
dois livros que, tendo ficado embrionários, foram completados por familiares e colaboradores
e publicados postumamente. O primeiro saiu em 2018 no Reino Unido: Factfulness,
com um subtítulo que traduzido fica “Dez razões pelas quais
estamos errados acerca do mundo e porque as coisas estão melhores do que
pensamos.” Comprei-o no aeroporto
de Hong-Kong e deu para que o tempo passasse despercebido na viagem até Lisboa
via Dubai. Aprendi a compreender melhor o mundo, com base em vários números e
gráficos, completando o que tinha aprendido na conferência de Lisboa. São co-autores
o seu filho Ola e a sua nora Anna, cofundadores com Hans da Gapminder, uma fundação
independente que visa combater, à escala global, concepções erradas. A tradução
em português desse livro saiu na Temas e Debates logo em 2019, uma obra que,
dada a enorme procura, foi reeditada cinco vezes.
Acaba de sair entre nós na
mesma editora a tradução do segundo e derradeiro livro de Rosling: Como Aprendi
a Compreender o Mundo (o original inglês, saído em 2019, foi traduzido do sueco).
É co-autora e autora do posfácio a jornalista sueca Fanny Härgestam, assinando o
prefácio a viúva, Agneta, com quem o autor viveu perto de 50 anos e de quem
teve três filhos (de facto, teve quatro, mas o quarto foi nado-morto). Em contraste
com Factfulness, trata-se de um livro de memórias, em que quase não há números,
mas apenas palavras. São histórias ora divertidas ora trágicas, muitas vezes
comoventes, de uma vida cheia. Rosling conta como aprendeu a colocar os factos
antes de tudo o resto. Dois dos capítulos descrevem a sua estada entre 1979 e
1981 em Nacala, uma cidade portuária no norte de Moçambique, como médico voluntário
pouco depois de ter completado a sua formação na Universidade de Uppsala, a sua
terra natal.
Qual é o ponto principal de Rosling? Os factos podem ser descritos por números
e há que saber ler os números. Como Rosling mostrou em Lisboa, a nossa cabeça
está cheia de preconceitos: pensamos que o número de crianças no mundo vai continuar
a aumentar, quando vai estagnar; julgamos que as taxas de vacinação de bebés são
altas, quando são cerca de 80%; que as mulheres estão muito menos escolarizadas
que os homens quando estão só um pouco menos, etc. Contrariando os profetas da
desgraça, Rosling diz que o mundo melhorou indiscutivelmente nas últimas décadas.
Escreve: “Quando trabalhei em Moçambique estimava-se que a
mortalidade infantil se situasse à volta de 26% e hoje, 35 anos mais tarde,
desceu para 8%. Na Suécia foram precisos 60 anos, de 1860 a 1920, para reduzir
a mortalidade infantil de 26% para 8%.” Quando Rosling regressou a Nacala 31 anos depois mal reconheceu o
hospital onde tinha trabalhado.
Rosling começa, no novo livro, por referir que o seu pai cheirava a café
pois trabalhava numa fábrica de café, como torrefactor. Eram classe média
baixa. A mãe foi dona de casa, depois de ter sido em rapariga ajudante numa
mercearia. Dou a palavra ao autor: “Para chegar dos quatro anos de escolaridade
básica da minha avó até à minha cátedra foram precisos apenas três gerações. Para
dar um exemplo de uma mudança ainda mais drástica, há quatro gerações, a minha
bisavó era analfabeta.” Pensei que com a minha família se passou algo
semelhante, com a agravante de ser a avó e não a bisavó a analfabeta. Mas, no pós-guerra,
verificaram-se progressos: os pais de Rosling conseguiram comprar primeiro uma
mota, depois um carro e, mais tarde, uma casa de praia.
Querendo conhecer o mundo, o jovem Hans foi aos 16 anos passear de
bicicleta pelo Reino Unido, aos 18 à boleia até ao Sul da Europa, aos 20 anos
com a namorada, futura mulher (de profissão enfermeira), até à Turquia de
comboio, e aos 24, fazer um tour de seis meses, ainda com Agneta, pela Ásia.
Passados 42 anos voltariam ao Nepal e, tendo procurado uma casa que os tinha acolhido,
encontraram um nepalês que tinham visto em bebé. Ofereceram-lhe uma fotografia dele
nos braços da mãe, de quem ele não possuía qualquer retrato!
Hans foi o primeiro membro da família ir para a universidade. Era
estudante de medicina em 1967 quando se encontrou com o moçambicano Eduardo
Mondlane, líder da FRELIMO, a quem prometeu que, depois de formado, iria trabalhar
para Moçambique como médico. Em 1969 Mondlane seria assassinado na Tanzânia com
uma encomenda armadilhada.
Portugal, país colonizador de Moçambique, entra na história porque a filha
Anna nasceu em Abril de 1974 e em Novembro de 1975 nascia o segundo filho, Ola.
Entre uma data e outra, em Junho de 1975, Moçambique tornava-se independente. Em
1979, Rosling, a mulher e os dois filhotes partiam para Moçambique. Muitos anos
mais tarde, num jantar em Nova Iorque, Rosling surpreenderia Graça Machel, que
foi mulher de Samora Machel e ministra da Educação, e mais tarde mulher de
Nelson Mandela, com um caderno escolar do filho, em português.
Os capítulos sobre Moçambique são o ponto alto do livro, por revelarem o
que é fazer medicina num sitio onde não havia praticamente nada. Numa área com 300
mil pessoas, só havia um hospital com 50 camas. O pessoal e o material
escasseavam. Os enfermeiros eram analfabetos. Escreve o médico: “Estava
muito abaixo de nível de expectativas de que a minha formação médica na Suécia
me incutira, uma necessidade cem vezes maior do que na Suécia tinha de ser
satisfeita usando 1% dos recursos, isso significava dez mil vezes menos
recursos por doente.”
Há vários episódios dramáticos. Um condutor sem carta de condução havia
de ter um acidente num jipe onde iam Rosling (a quem os nativos chamavam “doutor
Comprido”) e uma sua colega moçambicana, que ficou com sequelas físicas perenes.
Quando o médico regressa, ferido, a casa e abraça a sua mulher, dizendo entre
lágrimas que por pouco não tinha morrido, irrompe uma inspecção da FRELIMO que
passa tudo a pente fino à procura de mercadorias do mercado negro. Um dos momentos
de maior intensidade ocorreu quando Rosling foi a uma aldeia do interior e recebeu agradecimentos por ter feito um parto difícil. Inicialmente não percebeu, pois
tanto a mãe como o filho tinham morrido. Mas o povo tinha as suas razões: o
médico não só tinha apresentado condolências aos familiares como tinha mandado
uma ambulância com os corpos de volta a casa (num meio de pobreza extrema, a
família não tinha dinheiro para os trazer). Mais tarde um outro momento de
tensão ocorreu longe dali, no Congo, quando estudava uma epidemia: foi quase
linchado porque a população achava que ele vinha roubar-lhes o sangue.
Quando Rosling teve, em Nacala, de enfrentar uma epidemia de cólera, uma
colega sua dizia-lhe “Graças a Deus pela cólera”, significando: “Cada caso individual
que é curado aumenta a confiança nos médicos e nos enfermeiros, tornando assim
mais aceitável todo o tipo de medidas de saúde pública.” Rosling combateu uma outra
epidemia, esta mais intrigante: o konzo, uma paralisia dos membros
inferiores. O médico investigou-a, tendo percebido que as pessoas com fome
comiam mandioca que não estava bem seca, contendo produtos tóxicos. Outro
episódio caricato ocorreu nessa altura: tendo pedido motas ao governo para ter
meios de acesso aos doentes, as autoridades apreenderam dezenas de motos aos habitantes.
Perante a revolta, o médico devolveu-as aos donos, conseguindo que eles
fizessem os transportes em troca de óleo para as motas.
Regressado à Suécia, Rosling defendeu em 1986 uma tese doutoral sobre o konzo.
Tornou-se professor na Universidade de Uppsala. Quando ocorreu em Cuba uma epidemia
semelhante ao konzo o governo cubano pediu a Rosling que lá fosse. Ele
foi, tendo falado pessoalmente com Fidel Castro. A desnutrição estava também na
base deste surto. O sueco haveria de tornar-se, em 1996, professor no Instituto
Karolinska, após ter surpreendido o júri com uma original apresentação de dados.
A partir daí Rosling avançou com um novo projecto que justificaria a sua
fama global. O seu filho Ola e a sua nora, os dois com 23 anos, ajudaram-no a informatizar
a referida apresentação de dados. Foi o início da Gapminder, que haveria de o
levar a conhecer Larry Page (fundador da Google), Bill e Melinda Gates, e a
participar no Fórum Mundial de Davos. Já célebre, Hans foi em 2014 à Libéria
lutar contra o ébola. Mas, infelizmente, já não pôde ajudar na luta contra a
COVID-19. Com a sua esplêndida cabeça, teria dado, com certeza, uma grande
ajuda.
O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA
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Mais uma vez, muito obrigada, Sr. Professor Rui Baptista, pelas suas intervenções e pela força da sua lucidez.
ResponderSou seguidora do Blogue, que leio diariamente, e tenho muita admiração por todos vocês.
Um abraço
Nazaré Oliveira
Que bem sabem palavras de estímulo como as que a Colega endereçou a todos os autores deste blogue. Com um abraço de gratidão, um bem haja.
Caro Rui Baptista:
Agora que o principal obstáculo da nossa Ordem foi afastado (o PS e as suas ministras da Educação e respectivas políticas educativas) há que ter esperanças. Seria interessante fazer uma votação nas Escolas para ver se os professores querem um não uma Ordem e para calar alguns Sindicatos que temem a nossa Ordem...
João Boaventura
Se a "...Fenprof, anos atrás, defendia que “o campo de intervenção de uma Ordem restringe-se ao plano das questões éticas e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”, e continua a defender, é uma contradição dos termos se se considerar que a própria Fenprof acolheu na sua sede a Pró-Ordem como sindicato-membro.
Porque, segundo parece, uma Ordem, hoje em dia, tem o seu ovo numa Pró-Ordem, que é uma espécie de aviso à navegação de que ela pretende nascer, seguindo-se-lhe a Comissão Instaladora.
Foi assim que nasceu a Associação Pró-Ordem dos Psicólogos (APOP) por iniciativa da Associação Portuguesa de Psicólogo, com o objectivo de representar e defesa dos interesses dos profissionais de Psicologia até à criação formal da Ordem, bem como promover as acções necessárias perante as entidades competentes tendo em vista a aprovação dos Estatutos e Código Deontológico que regerão a Ordem dos Psicólogos.
A Federação Portuguesa de Professores mais conhecida por FENPROF também tem como sindicato-membro a Pró-Ordem (Associação Sindical dos Professores Pró-Ordem), que se consagra como “um espaço de encontro, debate e reflexão de um conjunto de associações socioprofissionais, pedagógicas e científicas que pugnam pela constituição da Ordem dos Professores, como forma de revalorização da Imagem, Dignidade e Estatuto do Professor.”
Porém a Pró-Ordem parece não se sentir comodamente inserida na FENPROF a avaliar pela observação tecida a propósito de uma reunião da qual se teria retirado devido ao sectarismo da Fenprof, transmitindo a ideia de que a Federação Nacional dos Professores estaria mais interessada na aplicação ideológica partidária, do que propriamente na ideologia salvítica do professorado, encontrando, neste vasto campo, o seu terreno propício para a contestação vitalícia, a relembrar aquela passagem do manuscrito “Gato preto em campo de neve”, de Erico Veríssimo, onde o autor conta esta passagem curiosa, ao perguntar a um operário, que contestava numa manifestação sindical, as razões do seu impropério contra o Governo, o mesmo respondeu: “porque é engraçado ser do contra”.
Encontramo-nos numa encruzilhada sem saída porque, se por um lado, há um Rui Baptista apostado na concretização de uma Ordem dos Professores que, se afigura uma batalha perdida, por não ter atrás de si um suporte, uma instituição, que congregasse os apoios de suporte para a formulação de uma Pró-Ordem (que parece ser a matriz), por outro lado, aparece uma Pró-Ordem já elaborada e com apoio de grande parte do professorado e possivelmente apostado no próximo passo, o da Comissão Instaladora.
Honra seja feita ao meu caro amigo Rui Baptista porque, afinal, ele sabe que a sua árdua batalha estará a configurar uma forma de animar o professorado a aderir à Ordem, mesmo que venha a ser a Pró-Ordem a colher os louros do combate indómito que é e continua a ser, vitaliciamente, o meu caro amigo Rui Baptista.
É o que se chama dar com uma mão sem que a outra veja. Bem hajas.
Um abraço fraterno.