domingo, 21 de fevereiro de 2021

Comentário de um leitor ao texto "São favoráveis os ventos para concretizar a tão almejada dissolução da escola pública"

Recupero aqui o essencial do comentário que o colega Rui Ferreira fez ao texto São favoráveis os ventos para concretizar a tão almejada dissolução da escola pública. Comentário que coloca duas questões que, não parecendo óbvias (a linguagem não o permite), são fundamentais no que há-de ser (ou deixar de ser) a educação formal pública.
[O texto em causa deixa-me], tal como outros saídos do mesmo útero, muito apreensivo e chocado com a IRRESPONSABILIDADE perante aquilo que a vida tem de mais sagrado, a Educação das crianças e dos jovens. 
A estratégia é sempre a mesma, parte-se sempre de um "é preciso mudar", sem argumentação, aliás, a que existe tira-lhe, logo à partida, toda a razão, seguido da imposição "não se muda porque existem agentes que têm medo, daí, resistirem", estratégia esta muito bem enquadrada no ensaio do José Gil sobre a “ditadura subtil, o risco da nossa democracia”. 
Sem recorrer à análise de conteúdo por considerar não ser este o espaço e o tempo certos, vejamos apenas sob a lente da lógica da filosofia dois aspetos: 
1. Como se considerará, do ponto de vista da educação e instrução, Andreas Schleicher? Um visionário fabuloso? Um criativo sem paralelo? Um indivíduo com uma capacidade e um conhecimento superior? (...). Então, se esta figura é capaz de um pensamento tão brilhante, como é que o adquiriu? Foi com a educação e instrução que não lhe deram, a tal do futuro que preconiza? Então não foi a escola tradicional que lhe gerou tal brilhantismo? Vamos, então, trocar aquilo que resulta por algo não comprovado, sendo que este algo é um NADA? 
2. No seguimento da reflexão anterior, mais concretamente sobre o NADA, dizer que aquilo que é preconizado, “preparar para as mudanças que não esperamos”, pressupõe uma não instrução, não poderá haver um corpo teórico-prático para aquilo que não sabemos, ou seja, nessa escola do futuro vai-se ensinar o quê? Pois. Ao que vem Andreas Schleicher sabemos nós muito bem, escola de proletariado para o grosso e deixar a escola tradicional, livresca, apenas para a elite. 
Cumprimentos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este é o tempo em que um deputado da nação portuguesa propõe o arrasamento do Padrão dos Descobrimentos, no estuário do Tejo, porque tal monumento não se coaduna com a visão da História de Portugal dos nossos atuais governantes!
Já quanto à Ponte Salazar, bastou que lhe mudassem o nome, porque tendo sido projetada por americanos que, até ver, ainda são quem manda no mundo, foi construída respeitando integralmente a verdadeira História de Portugal!
No âmbito do Ministério da Educação, os disparates são semelhantes. Tiago Brandão Rodrigues, aparentemente muito preocupado com a “recuperação” de três ou quatro meses “de aprendizagens”, não manda nada no que se refere à educação em Portugal. Infelizmente, no nosso país, o futuro da escola, idealizado por Andreas Schleicher, é uma realidade muito presente.
Nas escolas secundárias, que são as que conheço melhor, os professores aceitam pacificamente e, muitas vezes, cumprem apaixonadamente as diretrizes governamentais que preconizam um desenvolvimento económico e cultural de Portugal baseado no acesso generalizado da população aos diplomas conferidos pela escola pública atual de qualidade medíocre. Os cidadãos estudantes da escolaridade obrigatória acabam, as mais das vezes, atrás de caixas de hipermercados e em call centers, tanto cá fora como no estrangeiro, e também a servir à mesa, ou então como moças e moços de recados... Quer dizer, depois de obrigados a frequentar a escola até perfazerem 18 anos, justificando assim a despesa do Estado com os parcos salários dos milhares e milhares de professores e educadores de infância, a maioria dos estudantes finalistas da moderna escola modelo-passatempo, concluem facilmente que, sem esta escola obrigatória, onde pouco ou nada se ensina ou aprende, teriam hoje as mesmas profissões.
O processo de dissolução da escola pública já está em marcha!

Helena Damião disse...

Prezado Leitor Anónimo
A minha interpretação coincide com a sua: "0 processo de dissolução da escola pública está em marcha!". E muitos professores "aceitam pacificamente", quando não apaixonadamente, as orientações e directrizes de matriz económico-financeira como se elas tivessem carácter educativo. A destituição de pensamento sobre o ensino tem sido tão bem feita que resulta num silenciamento dos professores mesmo quando lhes é negada a essência da sua profissão.
Cumprimentos,
MHDamião

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