As entrevistas televisivas de Cristina Ferreira a elevadas figuras da
nossa vida política não param de me
espantar.
Depois de entrevistados António Costa e Margarida
Temido sobre o problema da pandemia, chegou a vez de Graça Freitas, directora-geral da
Saúde.
Cristina Ferreira, ao
invés do seu ar histriónico de gargalhar e gritar por tudo e por nada, nesta última
entrevista, em atitude pensadora e pensativa, mostrou-se muito comedida,
compungida e senhoril dando-lhe o ar de confessionário para a personalidade
entrevistada lavar a alma de possíveis pecados, cometidos no actual pandemónio da pandemia que assola terreno
pátrio e o próprio planeta terra.
Por seu lado, Graça Freitas perdeu o seu ar esfíngico para se mostrar eufórica ao anunciar um breve abrandamento no pico da curva da pandemia, com o senão estético de um penteado de avozinha. Nesta entrevista demonstrou Graça Freitas um notável mimetismo em se adaptar às
circunstâncias boas (?) e más do seu penoso consulado.
Por fim, Cristina Ferreira corre o risco de copiar António Ferro, personagem de
grande cultura ao serviço do Estado Novo, ela vincadamente ao serviço do Partido Socialista. Ora as cópias são
sempre piores que os originais , aqui,
por motivos vários facilmente detectáveis.
Detenho-me agora na figura majestosa de Ferro Rodrigues, presidente
da Assembleia da República. Só lhe faltou, para lhe aumentar a elegância e
imponência da silhueta, a
túnica de senador romano para anunciar, “urbi et orbi”, não haver perigo de
contágio pelo coronavírus, quer durante as solenidades comemorativas do 25 de
Abril no hemiciclo, quer no decurso do banquete que
se lhe seguirá.
Aliás, anúncio desnecessário por a presença do Presidente
da República, Marcelo Rebelo de
Sousa, por si só, ser garantia do órgão representativo do povo estar
higienizado como um bloco operatório e
os deputados e convidados estarem afastados
uns dos outros a uma distância de segurança em que para se fazerem ouvir terão dificuldade, mesmo que usem
aparelhos de audição “dernier cri” ou tenham ouvidos de tísico, como soe dizer-se!
O verdadeiro perigo reside no povo que nessa altura, porventura, se possa
aglomerar nas monumentais escadarias do Palácio de São Bento para vitoriar o
25 de Abril, aconchegado ombro a ombro, de mãos dadas em prova
de solidariedade que não admite mariquices de temer o bicharoco de um
viruzinho que tem ceifado
vidas sem conta. Mas haverá moral para condenar essa massa anónima quando o exemplo vem de cima, ainda que com luvas e máscaras protectoras?
Aí o coronavírus vai rir-se da macro massa cinzenta dos espertíssimos
humanos que há milhões de anos se deslocavam em quadrupedia e hoje se julgam deuses de um universo em
colapso pelo aquecimento global em
diminuição, enquanto durar a quarentena, por parte de um vírus “generoso”
que contribuiu para baixar a taxa de
CO2 a níveis de séculos atrás.
Razão assistiu a Henry Poincaré que alertou a humanidade para
o facto de o homem ter perdido a
capacidade a capacidade de prever e prevenir acabando por destruir o mundo.
Não nos precipitemos, portanto, com uma hipotética batalha final em estrénuo combate contra o coronavírus que está longe de estar ganha. A exemplo do
final da II Guerra Mundial esperemos pelo seu vitorioso final, para a exemplo dos
ingleses, que se apinharam na Praça de
Trafalgar, homenagearem os seus heróis, de igual modo, esperemos pela vitória final sobre o
coronavírus para apinharmos a Praça do Comércio, antiga Praça do Terreiro do Paço, de onde partiram as caravelas com a Cruz
de Cristo, em demanda de Novos Mundos, para, sem distinções de cor de epiderme, de bens materiais, de estatuto social ou académico, de credos religiosos ou políticos, vitoriarmos os
nossos heróis de hoje, beijando, abraçando, rindo e cantando de braço dado, com
os médicos, enfermeiros e auxiliares de
saúde que, em dádiva generosa e louvável nunca vista, arriscaram, e continuam a arriscar, a vida para nos mantermos vivos. Honra total e merecidíssima para eles!
PS: Na manhã de ontem, vi e ouvi num canal televisivo, que Cavaco Silva não estará presente nestas festividades abrilinas.
12 comentários:
Toda esta questão das "Comemorações do 25 de Abril", a meu ver, tem um sub-texto, não explicito, que a enorme "pedra no sapato" de mui boa gente em relação a esta data.
Gente que notoriamente não gosta do cheiro a fato-macaco e a perfume Patecholi, mas que se dá mui bem com personagens mui "guapas" e bem cheirosas, que alegremente nos tem pirateado a carteira e posses, seja através de "ajustes directos", PPP's, Bancos mal geridos, distribuição de dividendos descapiladores de empresas, deslocalização de produção de bens essenciais para os antípodas ou outros malabarismos mui legais.
Se até agora, só Rui Rio meteu na ordem o excesso e proximidade de deputados da sua bancada, a AR pode funcionar de acordo com DGS, não vejo porque uns quantos convidados não possam estar nas galerias, devidamente espaçados.
Não será pior que a ida a um supermercado, por estes dias.
Quanto há questão do mau exemplo, em se fazer uma Comemoração com pessoas devidamente espaçadas na AR, é, a meu ver, muito pior não escorraçar a tal gente "mui guapa".
Agradeço o seu comentário e a referência que faz “à pedra no sapato” de mui boa gente em relação a esta data” [25 de Abril]”
Esta referência obrigou-me, com medo que não fosse metafórica, a descalçar-me tendo verificado não ter nenhuma “pedra no sapato”!
Já metaforicamente concordo com essa referência secundando-a quando se refere, e passo a citar: “Gente (..) que alegremente nos tem pirateado a carteira e posses seja através ‘de ajustes directos’, PPP’s, bancos mal geridos, distribuição de dividendos descapiliadores [mantenho a grafia por a ter por “lapsos calami”] de empresas, deslocalização de bens essenciais para os antípodas ou outros malabarismos mui legais”.
Mas falemos de 25 de Abril, repto que me lançou como sendo 100% a seu favor por ter como símbolo o cravo vermelho que me leva a concluir, apesar do anonimato, que ele foi soprado de leste.
25 de Abril simbolizado com esta flor logo transformada em crisântemos (flor utilizada em cerimónias fúnebres) por uma descolonização apressada, de que o povo de Angola sofreu as consequências no “reinado” dos Santos e população civil de Lourenço Marques e arredores, durante o período de transição, foi vítima dos acontecimentos de triste memória em que a população negra, drogada desceu sobe a cidade matando barbaramente a população, chegando a jogar à bola com cabeças e crianças decapitadas. E tudo isto se passou sem a intervenção do exército português que tinha ordem para não intervir.
Gente boa e generosa moçambicana deque me lembro com saudade e que me honrou, e continua a honrar, com a sua amizade pelos testemunhos que dela tive e ainda hoje tenho com um mar imenso que nos separa mas nos une em recordações perenes. Disso tive provas quando aí me desloquei, depois da independência , para participar m Congresso de Países de Língua Portuguesa.
Antes de mais, ainda bem que não utilizarei "uma espinha espetada na garganta", que saliento que é uma metáfora, não necessitando, por isso, de ir a correr para as Urgências Hospitalares, já tão sobre carregadas com a Pandemia e não só.
É muito lamentável que a descolonização tenha descambado nas cenas que descreve, que destruiu muito dos que com o esforço da Metrópole e Colónias, apesar de tudo, criamos nesses locais.
Mas, em caso algum, devemos esquecer:
1º - Descolonização foi tardia e a possível, dado que se deixaram instalar poderes de geopolítica internacional, totalmente indiferentes para com os locais, e a quem o legado português só estorvava;
2º - dado o tempo perdido, e a provável evolução futura, parece-me muito pouco provável que fosse diferente, se não muito pior;
3º - quanto ás guerras internas/civis de cada colónia, e apesar de tudo, conseguiram manter a integridade territorial que tinham, esperemos que para o bem.
Lembremos Gandhi e conflito hindo-muçulmano, que respondeu aos ingleses que isso era um problema deles indianos. Crises de crescimento e emancipação dolorosas.
Caro Professor Rui Baptista, eu que vivi o 25 de Abril e tudo aquilo que lhe sucedeu já numa idade adulta, enquanto professor de carreira desde 1972, não aceito o discurso ofensivo produzido sob pseudónimo por gente que receia identificar-se claramente como fazem as pessoas de bem. Não respondo a este tipo de gente e sempre que posso afasto-as da minha vida, muito embora, por diversas vezes, ao longo da minha vida profissional de mais de quarenta anos tenha sido obrigado a aturá-las. Pergunto: O que é que pode levar um anónimo a produzir diatribes relativamente a um texto escrito por alguém que desconhece? Receio que estejamos a viver um regresso aos Setenta e Cinco em que, através do insulto pessoal, da ameaça e do medo, se pretende silenciar pessoas de bem a fim de arrebanhar os espíritos fracos que se deixam intimidar. Porque o que se está a verificar é que, com a trágica crise que se vive e estribados num governo apoiado por partidos protofascistas, está a ser utilizada novamente a cartilha leninista da intimidação por gente que sempre desejou transformar Abril democrático numa abrilada comunista. Trata-se de gente sinistra que nos quer impor um regime tenebroso. Caro professor, sigo o seu exemplo, também eu jamais me deixarei intimidar. Viva o 25 de Abril.
Pancinha: Obrigado pelo seu comentário que permitiu uma análise de 25 de Abril sem uma carga ideológica em que em vez de discutir ideias partiu para um ataque ao meus post com uma carga ideológica arrasadora.
Quando ao seu ponto 1.º, encontro pontos de contacto com a minha maneira de pensar, no que tange à intromissão da antiga URSS e Estados Unidos em jogaram tudo por tudo num tabuleiro, ou seja território africano, riquíssimo em ouro negro e diamantes.
Grande texto Caro Prof. Rui Baptista.
Porque, para mim, o 25 de Abril em si, tem a mesma carga ideológica da "explosão duma panela de pressão altamente aquecida", que, para mim, é melhor imagem de Portugal em 24 de Abril. Ele era Guerra Colonial, greves estudantis, salários de miséria, falta absoluta de cuidados de saúde Censura, etc, etc.
Algo iria acontecer, fosse um golpe palaciano ou corporativo, fosse a queda dum meteoro para acabar um Regime Dinossaurico.
Coisa diferente é como foram recolhidos os cacos da explosão e o que cada um fez com eles, e "Candeia que ilumina e vai à frente ...."
Dito isto, o que me chateia é usarem uma Cerimónia Comemorativa do 25 de Abril" com lágrimas de crocodilo, relacionadas com a Saúde Publica e as Cerimónias da Páscoa e etc, e não ver a mesma preocupação com o que, a meu ver, corrói esta Data, que a "piratagem mui guapa", que rouba a carteira, e, consequentemente, o SNS, o Ensino, a Esperança no Futuro, no fundo.
Meu caro, o José, não o Staline, mas o Goebbels, também era, e se calhar ainda melhor, um Mestre na arte da intimidação e manipulação, contra essa coisa chamada Democracia.
Até tinha um aspecto "mui guapo" e andava sempre elegantemente vestido.
Falar dum sem falar do outro é uma batota e uma armadilha em que caíram os Alemães em 1930, mais coisa menos coisa, com os resultados conhecidos.
E ambos dariam, como deram, as mãos um ao outro, contra ela.
De qualquer modo, quem é que se intimida com um Pancinha?!
Meu bom Amigo Professor Gustavo Pires:: Obrigado pelos seus comentários. As minhas respostas aos comentários ao meu texto foram um grito de alma pelo sofrimento que me trouxe, a mim e a milhares de pessoas a quem o 25 de Abril se poderia, e deveria, transformar numa alvorada de liberdade e se transformou num pesadelo com um número inumerável de mortes entre aqueles, portugueses, hoje moçambicanos, que viviam em harmonia,por vezes, e em verdadeira amizade outras.
Pancinha: É curioso como, contrariando o princípio de que duas retas paralelas nunca se encontram, como duas perspectivas completamente antagónicas sobre o 25 de Abril se encontram, neste seu naco de prosa:"(…)"a piratagem ´mui guapa' que rouba a carteira, e, consequentemente, o SNS, o Ensino, Esperança no Futuro, no fundo". O que a gente aprende na nora da vida que roda sem cessar!
Talvez, o meu problema seja pensar em "geometria de Riemann" ...
Já agora, as "gentes mui guapas", como as ervas daninhas, são tão velhas como a Humanidade!
Abandono a arena da polémica por não alcançar o mui complexo conhecimento da "geometria de Riemann". Para dizer disparates prefiro estar calado porque, como me sopra no ouvido a sabedoria popular: "Se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro!"
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