segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Sobre a perversão da linguagem educativa: opiniões, slogans e metáforas

A linguagem pedagógica que deveria sustentar a compreensão dos fenómenos educativos e a comunicação efectiva de ideias, constitui um verdadeiro obstáculo a este duplo desígnio.

O problema, ao contrário de estar em vias de superação, vê-se agravado, acontecendo isso a um ritmo impossível de acompanhar. Tanto quanto me é dado perceber, nenhuma palavra ou expressão que possa ser considerada específica da área tem um significado estabilizado. 

O significado depende do autor, da teoria, da lei, da determinação... Prevalece o "critério de autoridade", ou seja da imposição por parte de quem tem poder num determinado raio de acção. Não se vai muito além do devastador "para ti, mas para mim..."

Num artigo recente de grande interesse - El lenguaje de la educación más allá de lemas y metáforas - José Manuel Touriñán López, professor de Educação da Universidade de Santiago de Compostela trata este problema de monta, que se afigura insolúvel. Eis um breve resumo do conteúdo.
No mundo da educação predomina uma perversão que tem a ver com a linguagem. Essa perversão consiste no uso frequente de conceitos de significado duvidoso que serve mais para encobrir a realidade do que para a apresentar e interpretar. Quem o faz não se baseia em conhecimento, age por oportunismo e consensos institucionalizados. 
O variável controlo da qualidade realizado por revistas indexadas, o financiamento de programas de investigação ligados a interesses políticos, a superficialidade na abordagem dos fenómenos educativos concorre para a traição moral e intelectual que se constata no mundo universitário. 
Opiniões, slogans e metáforas tornam-se armadilhas da linguagem que nos impedem de entender a educação. Ora, é uma preocupação básica da pedagogia entender e explicar a educação, logo os conceitos deveriam servir esse fim e não o contrário.

1 comentário:

Carlos Ricardo Soares disse...

O mundo em que vivemos atinge graus de complexidade cada vez maiores, não apenas por serem mais e maiores os problemas que enfrenta, mas também por ser tendencialmente desgovernado, se tivermos em mente a noção de governo em que fomos "educados", mas sobretudo a ideia, generalizada, mas não aceite, de que os governantes são tão inteligentes que nem precisaram de estudar para nos dar ordens e de que, nós, os governados, somos tão burros que precisamos de estudar toda a vida para tentarmos perceber as ordens que eles nos dão.
Os governantes "sabem", mas eu não sei, se é a educação que perverte a linguagem ou se é esta que perverte aquela, ou se a linguagem, pervertida, perversa, ou não, é um problema para a educação, ou vice-versa, embora o problema, na realidade, seja o problema da educação e não o problema da linguagem.

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