sábado, 9 de novembro de 2019

HISTÓRIA DA FLORESTA PORTUGUESA


O "Clube da Natureza e Património de Assafarge", que integra o Centro Desportivo e Recreativo Popular de Assafarge, promove uma tertúlia com o Doutor Jorge Paiva, botânico, investigador do Centro de Ecologia Funcional e Professor jubilado da Faculdade de Farmácia e do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra. O tema é a História da Floresta Portuguesa.

Será no dia 20 de Novembro às 21h30 e a entrada é livre.

Local: Rua Bairro Alto n.º 1, 3040-657 Assafarge (Coimbra)
Coord. GPS 40°09'32.7"N 8°25'55.3"W
Telefones: 963 228 373 - 931 155 521
Email: natura.assafarge@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/natura.assafarge/

HISTÓRIA DA FLORESTA PORTUGUESA
Jorge Paiva Biólogo 
Centro de Ecologia Funcional. Universidade de Coimbra
jaropa@bot.uc.pt 
Contam-se e aprendem-se muitas histórias durante a nossa vida. Na infância são histórias muito variadas para entretenimento ou para uma melhor integração das crianças no meio em que vivem. Nos estabelecimentos de ensino aprende-se a história do nosso país, a história universal, um pouco de história da literatura, da poesia, das ciências, das religiões, etc., mas nada sobre a história da nossa floresta. 
Durante as grandes mudanças climáticas pleistocénicas, com avanços e recuos dos gelos continentais (glaciações), o nosso território esteve coberto de florestas diferentes das actuais. 
Portugal, antes das glaciações, tinha, pelo menos as montanhas, cobertas de florestas sempre-verdes (laurisilva) e durante a última glaciação teve uma cobertura florestal semelhante à actual taiga, que foram naturalmente substituídas por florestas mistas (fagosilva) de árvores sempre-verdes e caducifólias, transformando o país praticamente num imenso carvalhal caducifólio (alvarinho, e negral) a norte do Tejo e perenifólio (azinheira e sobreiro) para sul. 
Por destruição dessas florestas as nossas montanhas passaram a estar predominantemente cobertas por matos de urzes, giestas, tojos, torgas e carqueja. Principalmente, a partir do século XIX, foram artificialmente rearborizadas com pinheiro-bravo, o que as transformou em imensos pinhais. Tivemos, assim, a maior área contínua de pinhal da Europa. 
Este tipo de floresta de produção mono-específico (apenas uma espécie arbórea; o pinheiro-bravo) é de muito menor Biodiversidade do que a fagosilva. Durante a segunda metade do século passado (XX) houve um enorme aumente deste tipo de floresta mono-específica, mas com eucalipto. Os eucaliptais são ecossistemas antrópicos de muito menor Biodiversidade do que os pinhais. Além disso, a introdução de plantas alelopáticas e heliófitas, como, por exemplo as acácias, levou a que os nichos ecológicos desarborizados fossem ocupados por essas plantas mono-especificamente. Aliás, as plantas invasoras não são um problema apenas em Portugal. Por exemplo, o nosso pinheiro-bravo é um invasor na Austrália e a nossa giesta (Spartium junceum) é invasora no Perú. 
Estas formações, devido à alelopatia dessas plantas, são também de baixíssima Biodiversidade Com os incêndios e pela acção do homem, parte das nossas montanhas e algumas zonas ribatejanas e alentejanas estão já transformadas em formações plenas de invasoras como imensos eucaliptais (Portugal tem, actualmente, a maior área de eucaliptal da Europa), pinhais e acaciais, estando já algumas montanhas transformadas em zonas desérticas, plenas de pedregulhos. 
Se os nossos governantes continuarem, teimosamente, a não querer ver o que está a acontecer, caminharemos para uma diminuição drástica de Biodiversidade florestal e rapidamente para um amplo deserto de pedras montanhoso, com a planície e o litoral transformado num imenso acacial, como, aliás já acontece em muitas regiões de Portugal.

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