Prossigo na minha admiração por Ramalho, tratado
por Eça, por “Ramalhal figura”, “compagnon de route” na autoria de ambos de “As
Farpas”, esse monumento de crítica contra “a velha estupidez humana que tem
cabeça de touro”. Daí farpearam-no com pena mordaz!
Como pontificou Albert Einstein, ”época triste a nossa em que é mais difícil quebrar um preconceito de que um átomo”. Um conceito enraizado em sagrada ignorância, mesmo em indivíduos que rescendem a falsa intelectualidade, faz com que a destreza e a força físicas continuem a viver em resquícios de euzebiozinhos retratados pela crítica social do imortal Eça, em “Os Maias”, embora Ramalho Ortigão ter dedicado uma vastíssima obra de inegável valor literário em defesa das práticas corporais, por ele próprio seguidas, quando, por exemplo, escreveu: “Creio que nasci para homem de forças, para Hércules de feira”.
Um conceito enraizado em sagrada petulância de indivíduos que rescendem a falsa
intelectualidade ( em simples consultas ao “mestre” Google), faz
com que a destreza e a força físicas continuem a viver em resquícios de
euzebiozinhos retratados pela crítica social do imortal Eça, em “Os
Maias", pese embora, Ramalho Ortigão,
seu contemporâneo ter dedicado uma
vastíssima obra de inegável pujança em
defesa das práticas corporais, por ele próprio seguidas, quando, por exemplo,
escreveu: “Creio que nasci para
homem de forças, para Hércules de feira”.
Em tempos mais chegados, Almada Negreiros, tido
por Bigotte Chorão, “talvez, como a
personalidade mais completa e complexa e fascinante da cultura portuguesa do
século XX”, escreveu: “É
preciso criar a adoração dos músculos". E os exemplos estão bem de
se quedarem por aqui!
Continuo em companhia de Ramalho de
que colho páginas de grande prazer em desforço para com uma sociedade de
pseudointelectuais que se refugiam, hoje, numa caixa craniana vazia de massa cinzenta. Lamentava-se ele: "Nós fomos educados assim. Vede o que
estamos sendo! Vede os homens que deitámos. Vede o país que fizemos e a
sociedade que construímos! Possam os nossos filhos reclamar a felicidade a que seus pais não têm direito,
apresentando-se ao futuro com merecimentos que nós não podemos invocar!
Suspensão de veemências e de ironias! Trata-se da infância. Não nos dirigimos
aos políticos. Conversamos honrada sinceramente contigo, leitor amigo, leitora
honesta.Pesa sobre vós uma responsabilidade tremenda. No estado em que se acha a
sociedade portuguesa, a família é um duplo refúgio – do coração e do espírito.
A família é dos pouquíssimos meios pelos quais ainda é lícito em Portugal a um
homem honrado influir para o bem no destino do seu século. Querido leitor! O
modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares o teu filho. Consagra-te
a ele”.
Ainda que a “ramalhal figura”
(tratamento de fraternal amizade dado a Ramalho por Eça, (“falso amigo”, segundo Campos Matos, 2009) tenha dito que “em Portugal, país de
magricelas, de derreados de espinhela caída, nada mais importante do que a Educação
Física”, em contraponto à Educação Física e
Desportiva nas escolas de hoje que tem sido tratada como parente pobre
das cadeiras ditas intelectuais, que disputam, entre si, a primazia -o
Português e a Matemática - , ambas sobranceiras na sua declarada e reconhecida
importância, assumindo-se, em revanche,
a Educação Física ultrajada e ofendida, por ser, inquestionavelmente uma
questão de Saúde Pública”!
Pelo facto de, ao nos debruçarmos sobre a
história dos acontecimentos, podermos avaliar a influência da pena corrosiva de Ramalho Ortigão na sua denodada “Campanha Alegre”,
em prol dos exercícios físicos dos jovens ao chamar a atenção da Câmara dos Pares para um estudo
ter demonstrado que os exercícios ginásticos são úteis não só ao
desenvolvimento físico, porque nas escolas inglesas em que se introduziu a
ginástica os alunos aprenderam mais e em menos tempo do que naquelas em que a
ginástica não existiu.
Passado quase um século, trabalhos de
investigação, levados a efeito, na década de 50, em França (Vanves, Tourangeau,
Montabaun) e na Bélgica (Bruxelas), confirmaram a influência benéfica da
Educação Física no rendimento escolar, quer sob o ponto de vista físico, quer
de aprendizagens cognitivas,e não só.
O próprio Dr. Fourestier, responsável pela
experiência de Vanves, não se exime em declarar entusiasmado: “Com métodos
pedagogicamente novos não criaríamos apenas uma raça fisiologicamente nova.
Faríamos, possivelmente, homens moralmente novos, e mais fraternos uns com os
outros”. Desta forma, foram eles
percussores do trabalho, citado por mim (INEF/1963), a que foi atribuído o segundo
lugar do Prémio Pfizer.
Aliás, é para esse “homem moralmente novo” que vai também o apelo de C. S. Lewis, professor de Cambridge: “Fabricamos homens sem coração e esperamos deles virtudes e magnanimidade. Rimo-nos da honra e surpreendemo-nos se há traidores entre eles.”
No decurso do ano de 1969, Olivier Guichard, ao tempo ministro gaulês da educação, justificava a necessidade de haver seis horas semanais para a prática física dos alunos do ensino primário com o argumento de “o horário de então reflectir uma concepção intelectualista dando prioridade à matéria ensinada”. Ou seja, como sentenciaram os romanos: “Nihil novi sub sole”!
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