sexta-feira, 15 de novembro de 2019

A Infantilização do Ensino Básico

                                                 “Tudo o que excede o limite da moderação tem uma base instável”. 
                                                                                                                             Alfred Montapert 

Vivemos num país que  pouco ou nada tem a ver com a canção de Edith Piaff,  “La vien en rose”,  porque tingido com o negrume de carências económicas na Educação em que nos deparamos com a utopia de um ensino de assistência personalizada, a exemplo de países ricos, a alunos carenciados ou destruturados familiarmente.

Ou seja, num território de faz de conta, do extremo ocidental da Europa, que governantes sonâmbulos ou sonhadores acordados, e deputados “sentados de cócoras em São Bento”, querem fazer passar por real “com professores respeitados e programas rigorosos”, defendido pelo sociólogo Francesco Alberoni. Mas em que a realidade é bem cruel porque defrontada com um ensino básico que se anuncia, “urbi et orbi”, despreocupado e alegre, uma espécie de “giro-flé-flá ” do ensino infantil, para não traumatizar as “criancinhas” até ao novo ano do ensino básico.

O Partido Socialista, em atitude de quem se blasona de rico, mas que não tem onde cair morto, comprometeu-se publicamente acabar com os chumbos no ensino básico. Todavia, questionado, passados dias, António Costa, na Assembleia da República, sobre este floreado, colhendo raízes em países com maior PIB, “hesita, tataranha, amontoa, embaralha, e faz um pastel confuso que nem o Diabo lhe pega, ele que pega em tudo” (Eça de Queiroz).

Em tempos de uma política de dizer e desdizer, de meias verdades e meias mentiras, de meias tintas, pergunto ao primeiro-ministro, do meu país, António Costa: Vai haver ou não chumbos no ensino básico? Ou sim ou não, nada de “nins”! Num ensino sem chumbos até ao 9.º ano, mesmo tendo em conta que parte substancial dos alunos têm explicações, espantai-vos leitores!, ainda que correndo o risco de serem tidos como botas-de-elástico, a partir do 1.º ano do ensino básico (antiga 1.ª classe do ensino primário), criando coelhos imaturos que, à saída da toca da ignorância, aos saltinhos de contente, se deparam com caçadores defensores de um ensino a sério, com a carabina da exigência apontada que os chumbam  nos exigentes ensino secundário e nas universidades estatais.

Este “status quo”, de recurso desusado a explicações, encontra parte de justificação no facto de, no decurso da II Guerra Mundial, as mulheres, que até então eram domésticas, passarem a trabalhar nas oficinas de material de guerra, sendo, pela força das circunstâncias, afastadas do acompanhamento que faziam aos filhos e à sua educação escolar e cívica, situação que perdura hoje para contrabalançar um único ordenado dos chefes de família num tempo de gorda carestia de vida e magros ordenados. 

Fazendo fé em políticos que, no antigo ensino liceal para além de livros cor-de-rosa lidos com sofreguidão, folhearam, apenas, as obras dos mais geniais autores da Língua Portuguesa, arrojo-me, pelo perigo do esquecimento, a esta transcrição colhida em Eça de Queirós : "Uma nação vive, prospera, é respeitada, não pelo seu corpo diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelos banquetes cerimoniosos de camarilhas; isto nada vale, nada constrói, nada sustenta; reluzir as comendas e assoalhar o pano das fardas - mais nada. Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas”.

Em Portugal hodierno, procura-se uma espécie de “abre-te Sésamo” para os grandes e graves problemas nacionais, num aumento recorde de ministérios e secretarias de estado. Razão assistiu a Antero de Quental, e continua a assistir: “A nossa fatalidade é a nossa história”!

5 comentários:

Abre-te Sésamo disse...

"Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas”.
Certo.
Completo: "Uma nação vale pelos seus ignorantes, pelos seus analfabetos, pelos seus burricos, pela sua incapacidade literária, pelos seus malucos, pelos seus obtusos que trabalham, sem valor, para que a geringonça ande”.
Se não fosse o agricultor, o canalizador, o pintor, o pedreiro, o mecânico, o homem do lixo, o das chaves, o motorista das matérias perigosas, o varredor de rua, o que faz e vende o pão, o fazedor de bebés (que é a coisa mais fácil de fazer - qualquer um faz), o Pai Natal e sei lá mais que pião precário, não sei o que seria de mim, professora sábia, genial, escritora, cientista e artista.

A chatice do pragmatismo
mata qualquer romantismo.

Rui Baptista disse...

Portugal transformou-se num país de paradoxos engraçados, não fossem eles desgraçados!

Na antiga URSS, o KGB, as Forças Armadas e o operariado ganhavam mais, usufruindo de benesses bem maiores, comparativamente a quem se afobava em ter um curso universitário . A razão encontro-a, no facto de serem eles que sustentavam um regime, finalmente, comparado ao da Alemanha Nazi em atrocidades horrendas que custaram a vida a número incalculável de pessoas!

Em Portugal, foi extinto o antigo ensino técnico, por mim defendido “à outrance”, em post's publicados aqui, no “De Rerum Natura”, por uma esquerda aburguesada e encadeada pela diplomacracia de “doutores da mula ruça” que, de um dia para outro, ou de uma noite para a outra, por governantes sonâmbulos ou megalómanos, por vezes , em benefício próprio, que em pós de perlim-pim-pim , transformaram um diploma de ensino médio, primeiro num bacharelato, depois numa licenciatura e mestrado, ou não mesmo em doutoramentos, em politécnicos ou universidades de vão de escada que cresceram quais cogumelos em terra húmida levando ao esquecimento de classes desvalorizadas.

Por exemplo, mecânicos que nos consertam o automóvel empanado na estrada, carpinteiros que fazem as camas em que nos deitamos, electricistas que nos iluminam a casas para não andarmos aos tropeções em noites em que os fusíveis se vão abaixo permitindo-nos continuar leituras interrompidas.etc., etc.E desta forma, a título de mero exemplo, passou a haver engenheiros mecânicos no desemprego e diplomados pelos antigos e extintos cursos técnicos em empregos bem remunerados pela excelência do seu “know-how”! Isto em nome de estatísticas que nos coloquem a par de diplomas de ensino superior de países que paulatinamente se posicionarem em lugares de destaque sem o empurrão do facilitismo de um ensino sem chumbos antes de serem tomadas medidas sérias que se lhe oponham.

Escrevi este comentário em recordação de um texto de Manuel Laranjeiro (1908), que transcrevo: “Num país onde a inteligência é um capital inútil e o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e de escrúpulos – o diagnóstico impõe-se de per si”! Ontem como hoje!

Rui Baptista disse...

Acabo de publicar o comentário-resposta ao seu comentário que muito agradeço pela reflexão interessante a que me obrigou, embora estou certo que concordará comigo, muito terá ficado por dizer num mundo em mudança constante, nem sempre pelos melhores motivos.

Fuhrer, der chef disse...

Hitler lia. Lia muito. Quando morreu, tinha cerca de dezasseis mil volumes de várias obras de filósofos, historiadores, poetas, romancistas. Livros grandiosos como Dom Quixote, Robinson Crusoé, livros de Shakespeare e muitos outros. Ser ou não ser... Ouvia o Parsifal de Wagner e pintava. Leu Lagarde e concordou com ele.
Era cabo, mas lia... E as leituras dos grandiosos moldaram-lhe o cérebro, pastorearam-lhe a bota e imprimiram-lhe uma voz bombástica... Ainda hoje se ouve a Fitche ressonância. Dos mui inteligentes...

Nota altamente pedagógica escrita a vermelho: a diagnose é quando um homem quiser.

Rui Baptista disse...

Começo por agradecer o seu comentário.

Para já, pode ser diagnosticado que Hitler e Staline, pelo grande e rápida maneia com que faziam o gigantesco acervo de leituras, quais cavalos a galope com o freio nos dentes (ou placas dentárias?) sofriam, forçosamente, de insónias porque durante o dia se ocupavam de planificações sobre a maneira mais rápida de se desfazerem das suas vítimas. Quanto ao método Staline, optou pelo frio gélido da Sibéria, Hitler pelo calor dos fornos crematórios de Austrelitz!

Numa coisa estavam irmanados: no maquiavelismo das sua mentes megalómana em conquistar o Mundo. Hitler pela ponta das baionetas, enquanto aguarda que os cientistas lhe dessem para as mãos a bomba atómica) e Stalin com o socialimo, na sua via para alcançar o comunismo criasse a opressão do operariado exterminando a burguesia, enquanto os seus próceres viviam em datchas e enchiam as sua garagens de máquinas de roncar italianos da mais elevada cilindrada e dispêndio.

Valha-nos isso (ou nem sequer valha!), numa coisa diferiam: Hitler com o seu bigode à Charlot, Staline coma a sua bigodeira de homem das forças que percorrem os circos com as suas façanhas! E se como eu disse acima ambos estavam irmanados na megalomania de dominarem o planeta Terra (nessa época, a exploração espacial nem vagidos anunciando o seu nascimento), atrevo-me a dizer que nasceram do mesmo óvulo que lhes deu a primazia no pódio dos maiores criminosos da História da Humanidade!

Por último, quanto às aprendizagens escolares, pomposamente chamadas Educação, ela não garantem ou atestam um comportamento de dignidade impoluta ou comportamento de simples menino de coro! Aqui o ambiente familiar tem uma palavra importante a dizer se as más companhias não o adulterarem na escola e/ou na rua…

NOVA ATLÂNTIDA

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