Tempo atrás, fiz a
promessa formal de deixar de publicar textos críticos sobre a ADSE por eles não
encontrarem eco no seu muro de “silêncio que arranha a alma” (Leandro M.
Cortes) e do Governo à época. Mudo de opinião por “a esperança ser a última a
morrer”, pese embora o facto de o actual governo me parecer ser o espelho de
aumentar e distorcido do anterior em que não me revia, entre outros motivos, por
não ter sangue de barata em aceitar injustiças.
Citando Rosa Maria
Martelo quando escreve (“Público”, 02/11/2019) ter Jorge de Sena “o desejo de
uma comunidade em que a verdadeira dimensão do humano não fosse rebaixada pelo
protagonismo de medíocres e arrivistas” - que a experiência de vida me diz ser
verdadeira utopia -, falto à promessa
feita, com a publicação deste artigo por me repugnar visceralmente a expulsão
da ADSE de idosos cônjuges de respectivos beneficiários por terem passado a usufruir de uma magérrima reforma, de mais ou menos 250 euros mensais da
Segurança Social que mal chegam para comer uma sopinha diária e uma refeição
com conduto de passa fome!
Ainda que sabendo ser
Carlos Liberato Baptista um simples peão no xadrez deste “status quo”, não
posso deixar de estranhar a sua nomeação para a presidência da ADSE - envolvido que tinha estado numa auditoria enquanto
administrador-delegado da Portugal Telecom - de que se viria a demitir “alegando
motivos pessoais” (“Público, 02/05/2018) contraditados, no dia seguinte, nesse
mesmo jornal, ao noticiar que o seu mandato ia “ser passado a pente fino”.
Pedido aceite, beneficiou
ele de cerca de três meses até a sua substituição por Sofia Portela, antiga
vogal da ADSE, tempo suficiente, para varrer possível lixo para debaixo do
tapete havendo, “ipso facto”, o risco da
culpa morrer solteira!
Atentemos neste pormenor:
no ano de 2015, auditoria do Tribunal de Contas acusa o Governo de financiar o Orçamento
do Estado à custa da ADSE: “Funcionários públicos estão a pagar mais 228 milhões
do que seria necessário (“Expresso”, 17/07/2015). No dia 30 do passado mês de Outubro do ano em
curso, foram os leitores surpreendidos
(por razões óbvias, exceptuo-me desse
estupor!) com a notícia publicada, em vários
meios de comunicação social, da “ADSE se encontrar em colapso”.
A razão da minha não
surpresa teve a ver com o facto da ADSE ter
sido criada como meio complementar ao Serviço Nacional de Saúde dos funcionários públicos e seus cônjuges ,
nunca por nunca ser, para subsidiar possíveis
convenções geradas, em úberes e licenciosos ventres de interesses privados, despojando este de
verbas indispensáveis a um serviço
público de saúde agonizante passados 40 anos da sua criação, em desrespeito por uns tantos familiares dos
respectivos beneficiários e, simultaneamente, pela memória do seu criador,
António Arnaut.
Se Nicolau Breyner ainda
fosse vivo, seria altura de recriar a sua festejada rábula televisiva com
Herman José: “Como passa Senhor Contente? / Como passa Senhor Feliz? / Diga à
gente, diga à gente / Como vai este país”?
Em minha opinião, só
falta a este país a personagem, chamada Alice, da obra infantil de Lewis Carrol, para ser “O País
das Maravilhas”, que os políticos lusos prometem, nos seus miríficos programas eleitorais, sabendo,
de antemão, a impossibilidade em as cumprir!
P.S.: Para além de
fundamentos de humanismo, a razão que julgo assistir-me baseia-se no princípio
da não retroactividade das leis em prejuízo dos cidadãos.
2 comentários:
“Se não receio o erro é porque estou sempre pronto a corrigi-lo”
Deve ser «pese embora o facto de o actual governo» em vez de
«pese embora o facto do actual governo».
Com laivos de desonestidade, poderia ter justificado "pedagogicamente" o meu "lapsus calami" com a desculpa esfarrapada de o ter cometido para ver se prováveis leitores me tinham lido com a devida atenção! Vou já emendar, agradecendo o reparo.
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