sábado, 30 de novembro de 2019

Fisiologistas do Exercício (4)

Para se não pensar ser eu oportunista, aprestado em me intrometer num temática desconhecida para mim, como prova de que assim não é, trago à colação um livro da  minha autoria: “Educação Física – Ciência ao Serviço da Saúde Pública” (edição da Sociedade de Estudos de Moçambique”, Lourenço Marques, 1973).

Passado pouco tempo, fui nomeado vice-presidente da direcção e da secção de ciências, desta prestigiada associação científica/cultural, “Palmas de Ouro” da “Academia de Ciências de Lisboa”.

No livro supracitado relato o facto do Dr. Augusto Tito de Morais, médico-investigador do Instituto de Investigação Médica de Moçambique, bom amigo, falecido décadas atrás, ter-me dito ser sua intenção promover uma série de conferências, na Associação de Naturais de Moçambique, sobre Educação Física, para abanar as frágeis colunas da Educação Física do monumental Templo do Futebol, fins da década de 50. Foi Tito de Morais, obviamente, primeiro orador seguindo-se-lhe eu e depois o meu colega Dr.João Boaventura (este aquando da sua vinda para Portugal, passados tempos, foi nomeado subdirector da Direcção-Geral dos Desportos).

Confessou-me Tito de Morais, com maganice: “Sabes? Pretendi pôr-vos a vocês, professores de Educação Física, à bulha para agitar a pasmaceira da terra!”

Passados tempos, João Boaventura, homem de grande cultura no âmbito as humanidades, foi apresentador da minha conferência proferida no salão nobre da Sociedade de Estudos tendo-se referido, generosamente, á minha pessoa do seguinte modo:

“É velho e corrente o conceito de que o apresentador valoriza o conferencista por fazer as vezes de padrinho junto da pia baptismal. No caso, pelo contrário, é a conferência que empresta valor ao autor da apresentação, pois considero que a apresentação deveria, em paradoxal consequência, operar-se no fim da conferência. Quem recomenda o apresentador é o apresentado.

O meu Colega e Amigo Rui Baptista quis dar ao meu nome a honra de acompanhá-lo nesta conferência, indevida e desnecessariamente, tanto o seu nome é sobejamente conhecido, quer como orador, quer como polemista, quer claro está, como professor de Educação Física, cabendo aqui destacar a sua autoridade no campo da ginástica de recuperação, a qual, atravessando fronteiras projectou o seu nome para a vizinha África do Sul.

Ao lado e à sombra do nome do Dr. Rui Baptista, eu fico como assistente fraterno que serve ao estímulo da luta com a força solidária do coração. Só por um acaso sentimental é que eu estou, portanto, aqui. E por uma fatalidade auspiciosa para os presentes, aqui não está a apresentação do conferencista. Quem a fará é o próprio apresentado através da sua conferência. E por ela se verá como o meu arrimo seria uma pálida sombra da realidade”.

Nessa minha conferência editada em livro pela Sociedade de Estudos de Moçambique, desenvolvi as seguintes temáticas:

     1. A Educação Física (EF) e a função osteoarticular.

     2. A EF e a função circulatória.

     3. A EF e a função respiratória.

     4. A EF e a função do sistema nervoso.

     5. A EF e a toxicomania.

     6. A EF e o metabolismo.

     7. A EF e a Medicina Desportiva.

No final enunciei estas conclusões, no que respeita aos benefícios que a Educação Física pode aportar à Saúde Pública:

Manutenção e melhoria de uma correcta postura da coluna vertebral.

Estimulação do crescimento do sistema ósseo e  prevenção da  osteoporose.

Melhoria da função ósteo-articular pelo aumento da respectiva mobilidade e fortalecimento dos ligamentos

Prevenção e tratamento de discopatias.

Aumento da espessura das fibras musculares estriadas e, como tal, da força.

Fortalecimento do sistema respiratório no tratamento de asma, bronquiectasia, etc.

Contributo para o relaxamento físico   e consequente combate ao “stress”, provocado pelo agitar do dos nossos dias.

Regulação do peso corporal coadjuvado por uma correcta alimentação.

Combate ao uso drogas por a prática desportiva afastar os jovens do respectivo consumo     [infelizmente princípio contrariado hoje no desporto de alta competição e na prática de musculação/culturismo  em que o desejo de crescimento monstruoso e rápido dos músculos se tornou prática corrente ao serviço de criminosos vendilhões do templo de um rendoso comércio de anabolizantes [em meteórica expansão nos dias de hoje].

Retardamento do processo de envelhecimento pela exercitação das funções orgânicas

Aumento do tempo médio de vida por diminuição de doenças

Se o “homo sapiens” continuar em empenhar-se no seu próprio aniquilamento não sobreviverá por muito mais tempo ao destino implacável da sua degenerescência e diminuição da sua capacidade de pensar e agir [repare o leitor que esta minha “profecia” - como disse Mark Twain,  com o espírito que o caracterizava,“ a profecia é algo muito difícil especialmente em relação futuro”- assume hoje preocupações de natureza científica que alertam para o perigo iminente do fim do próprio planeta que nos serve de casa!

Por ser mais importante para um currículo de vida a maneira como se fez do que daquilo que se faz, dou conta dessa minha conferência, transcrita em vários artigos  de  jornal,  devido à sua extensão:

“Temos hoje oportunidade de passar a divulgar o texto da notável conferência proferida pelo dr. Rui Baptista, no passado 16 de Agosto, na sede da Sociedade Estudos de Moçambique, em Lourenço Marques.

Nome sobejamente conhecido nos meios desportivos, com maior incidência na Educação Física, o Prof. Rui Baptista dispensa qualquer apresentação.

O texto  completo que hoje começamos a publicar reflecte bem os conhecimentos profundos que o seu autor tem sobe a problemática da Educação Física no Estado Português de Moçambique, assim como no nosso País (“Diário”, de Lourenço  Marques, 26.9.72)".

Com este "modus operandi" descritivo verbal e escrito em letra de forma, tentei cumprir o relato de uma parcela do meu destino de comunicador  em modestíssimo contributo de que dou conta apoiado nos ombros daqueles que nele divisaram algum mérito que eu desejaria ter cumprido no seu todo  

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