A editora
Pedra Formosa foi a responsável pelo lançamento de Luís Quintais, Carlos Poças
Falcão, Adelino Ínsua, Yvette K. Centeno, Firmino Mendes, entre outros.
Continuo a
pensar que a poesia é «a dona disto tudo».
Assim, vos deixo com a poesia de Firmino Mendes.
As cores
que mudam
Podemos integrar a teoria das
cores no olho,
num capítulo sobre a percepção,
sem qualquer aproximação
à física, à radiação ou à
mecânica ondulatória. Basta
acreditar que o mesmo azul físico
depende da minha festa:
hoje vou falar com ele, olhá-lo
de todos os recantos possíveis,
no céu, no mar, nas casas, nas
flores, nos pássaros,
nos papéis, em tudo o que for
possível.
Mais: vou fazer dias para as
cores,
só para poder ver as diferenças
que há no mundo.
Escrevo assim quase sem saber:
li um livro de um poeta irlandês
que me fez regressar à primavera,
ao cheiro novo,
ao peito acordado da minha
realidade. É por isto que sei
o que perdemos quando andamos
depressa,
como se não tivéssemos olhos,
ouvidos, nariz, mãos,
papilas e pele, muita pele, para
poder tocar
o vento que chega agora do norte
e é macio, florido, azul.
Canto
Por saber-te só luz desconhecida,
desenhei uma rosa incandescente:
quinze pétalas brancas, um jardim
e séculos de história. De repente
tudo ali em quadrados de segredos,
com losangos no chão a preto e branco
e, no meio, um altar de irradiação,
o umbigo do mundo, o centro aberto
aos ritmos da expansão da luz.
A Semente
(Excerto)
(…)
— Exalto de negro, aqueço de febre
no casulo. Aplaino as tranças de fotões — Só para ver
o que sairá deste pulso quente, a apodrecer por fora.
Sai-me a pele — Dispo-me. Decanta-se o olhar
neste plano de respiração suspensa.
Chupo moléculas de água, uma a uma, até reverdecer
por dentro, nos canais ínfimos. Procuro forças
para romper a manta morta, o sustento.
(…)
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