Poema dos "Novos Poemas Póstumos" que li no sábado passado na Casa da Cultura de Coimbra num encontro de professores e bibliotecários:
"Crescem as flores no seu dever biológico,
e as cores que patenteiam, por sua natureza,
só podem ser aquelas, e não outras.
Vermelhas, amarelas, cor de fogo,
lilazes, carmezins, azuis, violetas,
assim, e só assim,
tudo conforme a sua natureza.
Ásperas são as folhas, macias, recortadas
ou não, tudo conforme;
e o aprumo como tal,
ou rasteiras, ou leves, ou pesadas,
tudo no seu dever,
por sua natureza.
É como os animais.
Em cada qual, por sua natureza,
todo o dever se cumpre.
Comem, dejectam, dormem,
fazem amor nas horas competentes,
lutam, caçam, agridem,
rosnam à Lua, trinam, assobiam,
escondem-se, espreitam, fogem, amarinham,
dançam, mudam de pele, agacham-se, disfarçam-se,
tudo conforme a sua natureza.
Assim eu penso, e amo, e sofro, e vou andando.
Tudo conforme a minha natureza."
António Gedeão
2 comentários:
Portentoso.
A minha natureza conforme a minha natureza.
A minha natureza conforme todas as naturezas.
Mas
eu penso.
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