O meu primeiro texto publicado no novo jornal online Coimbra Jornal.
Os países mais desenvolvidos também são aqueles que mais
investem em ciência e tecnologia. Por outro lado, a ciência floresce mais nos
países democráticos. Isto não é de estranhar pelo facto de a actividade
científica ser intrinsecamente democrática. A ciência exige pensamento livre,
debate de opiniões contrárias e diversas, uma atitude céptica e crítica, a
verificação experimental das hipóteses e das teorias científicas que são os
alicerces da nossa melhor compreensão sobre o universo em que existimos.
Também em Portugal a ciência floresceu com a implantação do
regime democrático após o 25 de Abril de 1974. De facto, nos últimos 40 anos
formaram-se mais cientistas do que em toda a anterior história de Portugal. Concomitantemente,
a produção científica portuguesa aumentou exponencialmente e projectou a sua
excelência a nível internacional. É igualmente de assinalar neste período o
aumento significativo de empresas de base tecnológica, fruto da transferência
de saber científico das universidades e centros investigação para a sociedade,
galvanizando a economia. Caso exemplar disto verificou-se em Coimbra através da
acção incubadora e pioneira do Instituto Pedro Nunes, de que resultaram
empresas de sucesso internacional como a Critical Software, a ISA, a Crioestaminal, entre muitas outras.
O nome de Pedro Nunes relega-nos para outra dimensão da
história da ciência em Portugal. Tendo sido um dos maiores matemáticos e
cientistas do seu tempo, viveu no século XVI, é também um dos primeiros
cientistas portugueses numa época em que a ciência se engrandece em Portugal. É
hoje incontestável que a grande empresa dos descobrimentos foi acompanhada por
um contributo português singular para o desenvolvimento da ciência moderna
ocidental. Ademais, a globalização portuguesa permitiu e condicionou a
revolução científica e humana do renascimento europeu.
Tudo isto vem a propósito da publicação, em Dezembro de
2013, do mais recente livro do Professor Carlos Fiolhais. Com o título “História
da Ciência em Portugal”, é uma obra ímpar que vem permitir o acesso à história
dos nossos cientistas ao longo de sete séculos de ciência entre nós, num
registo de divulgação sem pretensões de ensaio académico e num volume único.
Esta obra, pela sua característica inédita, é ela própria um
marco histórico no contexto da ciência em Portugal. Carlos Fiolhais, um dos
principais e incontornável divulgador de ciência em Portugal, oferece-nos um
livro muito útil, que perspectiva um olhar inédito sobre um território pouco
conhecido da história portuguesa.
Com este livro é possível conhecer melhor as oscilações
verificadas na actividade científica ao longo do tempo e de como elas estão
associadas a outros acontecimentos que marcaram a história portuguesa. Aquém
disso, e ao longo deste livro editado pela Arranha-Céus, o leitor pode
encontrar episódios interessantes e antes desconhecidos da nossa história,
através de uma escrita fluída, cativante e bem humorada, compaginada por muitas figuras.
Diga-se, para terminar, que esta obra inclui uma cronologia, um dicionário
de cientistas portugueses e estrangeiros que trabalharam entre nós, e uma
interessante bibliografia para outras leituras complementares.
Não
há nada melhor para começar do que conhecer bem a nossa história.
António
Piedade
1 comentário:
Excelente!
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