quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
A União Mediterrânica
A ideia agrada e poderá entusiasmar muita gente. Foi proposta por Miguel Sousa Tavares, no Expresso (Revista) de 28 de Dezembro, suponho que dentro do espírito de adivinhar o futuro com que o dito jornal se andou a entreter durante algum tempo.
Mas, segundo MST, o futuro está aí, pois prevê a criação da referida União Mediterrânica para 2017. Ideia com muito de utopia mas também algum realismo. Não esquecer que o sonho de uma Europa Unida apareceu, em alguns visionários, a partir de uma história de séculos de conflitos e morticínios em tudo contrária a ela. E no seio de uma Europa desfeita por uma guerra maior e mais mortífera que todas, onde os ódios tinham alcançado a eficácia de uma destruição quase integral. E, apesar de utópica, em sessenta anos, o que se avançou na Europa e evoluiu, em paz, em progresso, em bem estar e até em espírito europeu, são um caso, apesar de tudo maravilhoso, magnífico, e de que todos nos devemos orgulhar. E muito.
Mas, face a certas condições políticas e relações de forças que nos estão a afastar desse espírito europeu, da crescente onda de nacionalismos que, entre os europeus, estão a pôr uns contra os outros, criando egoísmos, e em virtude ainda de condições tão duras para os mais pobres, impostas pelos mais ricos, acho que é tempo de parar para pensar.
E talvez, quem sabe? Pode ser que a melhor maneira seja imaginar uma união dos povos do Sul. Que, como é sabido, têm riquezas mal aproveitadas, desvalorizadas, mal distribuídas, e andam há séculos indisciplinados e desmotivados para o trabalho. Estão, portanto, a precisar de uma estratégia de energias a partir das suas motivações, das suas raízes culturais, como agora toda a gente gosta de dizer.
Uma coisa é certa: em termos culturais não devemos nada aos do Norte. E uma vez que os pobres só têm vantagens em unir-se, e nenhumas em tentar obter, cada um por si, as boas graças dos senhores do dinheiro e do poder político, a ideia pode ganhar simpatia entre os cidadãos.
Em que consiste a União Mediterrânica? Desde logo, numa «saída em conjunto do euro e da própria União Europeia levada a cabo por todos os países do Sul», os desdenhosamente conhecidos no Centro e Norte europeus por PIGS, ou seja, porcos: (Portugal, Italy, Greece e Spain) e também Chipre. Prevê-se a entrada na U.M. dos países do Norte de África, numa primeira fase Turquia e Marrocos e, alguns anos depois, Líbia, Tunísia, Argélia e Egito.
Depois de concertarem entre todos uma estratégia conjunta para pagar as dívidas, os países do sul formarão uma união económica alternativa. Onde não haverá política externa comum, nem moeda comum, nem política agrícola comum. Mas haverá uma zona de comércio comum, uma união aduaneira e uma fixação única de taxas dos produtos da EU. Haverá livre circulação de pessoas, produtos e capitais, e políticas comuns em matéria fiscal, legislação laboral, investimento externo, comunicações, seguros, banca, saúde, segurança social, e ainda um orçamento comunitário comum. Não são competências da UM posições em conjunto relativas aos «hábitos religiosos, de saúde, de moral, de comportamento, de educação e de cultura, estabelecendo, em contrapartida, que só estados com constituições e formas de governo democráticas» poderão ser admitidos.
Assim, em poucos anos podemos pensar numa união dos povos que, em volta do Mediterrâneo, deram origem à civilização ocidental, e através de Portugal e de Espanha a levaram ao resto do Mundo: Africa, Américas, Ásia, Insulíndia e Austrália, enfim, ao Mundo todo.
Tendo uma base histórica, cultural e espiritual tão funda e antiga, e algumas matérias-primas tão modernas, como não pensar na possibilidade de passar da utopia à realidade?
João Boavida
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10 comentários:
Professor João Boavida;
Agradeco-lhe se me puder dizer qual é o seu entendimento acerca do que é ser Nacionalista? (é que existem, segundo creio, várias "modalidades", ou pelo menos a questão é confusa!!!)
E a questão (esclarecimento) do que pode ser o significado do Nacionalismo é importantissima para uma boa compreensão do que se está a falar e daquilo que se pretende construir para o futuro.
Senhor Professor João Boavida, quero dar uma resposta à pergunta que finaliza o seu post, (a melhor que eu já li) e que talvez o senhor concorde com ela, e que é "... o defender-se hoje a divisão da humanidade em grupos hostís ou, pelo menos indeferentes uns aos outros, separados em compartimentos estanques, é trabalhar contra a linha geral da evolucão histórica, é contrariar o principio de unidade que a determina, é retardar, quem sabe por quanto tempo, o advento de um periodo de civilizacão superior..." [BJC - A Cultura Integral do Individuo]
Cumprimentos Cordiais,
Não penso que o conceito de nacionalismo seja muito necessário para o meu post. O nacionalismo enquanto sentido político interessa-me pouco. em termos militares muito menos,. É,como sabe, muito perigoso e foi a causa de imensas agressões ao longo da história de uns povos contra outros. Mas é bom que este sentimento anti nacionalista seja generalizado, para que uns não sejam dominados por outros, como tem acontecido, E isto implica um mundo muito mais perfeito, mas de que não devemos desistir .
Contudo a nação, enquanto comunidade cultural e social com as suas especificidades, é outra coisa. Nós portugueses temos elementos de ligação afetiva e histórica que nos unem, que nos identificam,e embora isso nem sempre seja positivo e deva ser combatido quando sinal de atraso ou prejudicial, é uma realidade com que todos os povos vivem porque é inalienável. E portanto deve ser qualificada e valorizada, mas pensando sempre que para lá da nação está a humanidade, e que as muitas diferenças entre os povos não devem apagar as suas profundas identidades. Estas diferenças e especificidades culturais das nações não devem pois impedir a união e a cooperação entre os povos, ou seja, a harmonia com as outras comunidades culturais, que podem ser, para todos,fator de enriquecimento e de evolução. Concordo com a frase que cita de Bento de Jesus Caraça, dividir e acentuar a divisão entre os povos é um perigo e um retrocesso civilizacional, mas a uniões comerciais e outras podem ser úteis, se todos puderem viver em harmonia. A Europa dos últimos sessenta anos é um bom exemplo. De resto, a tendência é para várias uniões que interagem umas com as outras, procurando equilíbrios a nível mundial. Num mundo globalizado a tendência é para se criarem intercâmbios harmonizados e com regras. Não é fatal que uns "devorem" os outros. É verdade que é isso a que temos assistido em muitas situações, mas os exemplos de cooperação e de entreajuda são já muitos. É certo que o mundo não está lá muito recomendável, mas podia estar muito pior e pode melhorar muito, se o quisermos, isto é, se se criar uma cada vez maior consciência coletiva de respeito mútuo e da cooperação em que todos devemos viver. A globalização, que não é mais que uma grande cooperação económica entre todos os povos (ou quase) está a ser altamente benéfica para muitos, tirou muitos milhões de seres humanos da miséria. E embora prejudicial para a Europa, porque acabou com muitos dos nossos privilégios à custa da exploração de outros povos, temos que reconhecer como um facto positivo, e que poderá, por outras vias, vir a ser-nos benéfico.
Professor João Boavida;
Quando o senhor diz «Não penso que o conceito de nacionalismo seja muito necessário para o meu post.» eu não fico nada surpreendido, pois tal como refere BJC na conferencia que refiro “Poucas questões há que tenham sido tão mal postas como esta do nacionalismo...”
Se eu intrepreto bem o significado dos escritos do Professor Bento de Jesus Caraça, existe algo a respeito do significado de nacionalismo, no seu comentário, que é confuso!!!, pois quer se trate do nacionalismo do séc. XIX, quer quer seja de internacionalismo do séc. XX, ou a globalizacão dos nossos dias, o problema está lá, mais ou menos sentido ou súbtil. É alias bem visivél nas palavras do seu comentário. Quer ver como aquilo de que nos fala no post está também no nacionalismo!!! como poderia não estar?
Transcrevo-lhe BJC, e veja-se se assim não é!:
“Há alguns séculos, os destinos de um agrupamento social jogava-se no próprio local em que o agrupamento vivia. Hoje, o futuro de nós, portugueses, joga-se tanto em Portugal, como em Nova York ou nas planícies do norte da China.
«O desenvolvimento do nacionalismo foi a obra do século XIX, o do internacionalismo será a do século XX». Estas palavras, proferidas há pouco na Sorbonne por Lord Lytton que, por encargo da Sociedade das Nações, presidiu à comissão que foi à China investigar das causas do conflito sino-japonês, merecem ser meditadas pelos adeptos do nacionalismo.
Não por aqueles para quem a pátria é um balcão de compra e venda, esses não precisam de pensar, nem têm tempo para isso; mas pelos que, nem por estarem num campo errado, merecem menos consideração e respeito, desde que nele militem com boa fé e desinteresse.
Poucas questões há que tenham sido tão mal postas como esta do nacionalismo e isso não admira, pois foram sempre as águas turvas o ambiente propício para as manobras de certos pescadores...
Se ser nacionalista é, reconhecendo a existência de grupos étnicos com características próprias, trabalhar pelo desenvolvimento desses grupos (nações), defender e propulsionar a autonomia das suas instituições de vida e cultura, num largo espírito de colaboração com os outros grupos étnicos, como pode deixar de ser-se abertamente, francamente, nacionalista?
Mas se ser nacionalista é ver em cada estrangeiro um inimigo em potência*, viver em guerra económica permanente com as outras nações; encerrar-se cada um em sua casa para que, fora do contrôle da parte sã e pura dos outros grupos, uma certa classe possa viver parasitàriamente sobre outra; se ser nacionalista é isto e depois, quando interesses internacionais da alta indústria e da alta financa o exigem, ir-se estùpidamente para uma matança estúpida, para que, sobre as fronteiras regadas de sangue generoso, se unam de novo, em faina macabra, mãos sinistras a mercadejar: se ser nacionalista é isto, pergunto como se pode sê-lo sem que a razão condene e o coração se insurja.
* Houve, no entanto, uma certa altura em que ser nacionalista significava defender os interesses de certas potências estrangeiras; não me parece que o progresso seja grande...”
Meu caro Ildefonso Dias
não vejo qualquer incompatibilidade entre o que eu digo e o que diz o texto de Bento de Jesus Caraça..
Propostas à Miguel Sousa Távares: com muitos gritos e nenhuma cabeça. União política e económica com a Líbia, Marrocos, Argélia, Egipto, Tunísia...e já agora, Síria e Líbano...países com os quais, nem Portugal, nem Espanha têm qualquer afinidade cultural, valores comuns, relações históricas profundas ou formas de governo semelhantes. Mesmo o argumento económico é absolutamente disparatado. Esse MST se não fosse filho de quem é, não seria ninguém.
Proposta absurda por proposta absurda, que tal Portugal e Espanha pedirem para serem integrados nos Estados Unidos da América? Seriam dos estados mais importantes, o castelhano é a segunda língua dos EUA e o Havai até fica mais longe. Até teria mais cabimento do que a União do Tejo ao Nilo.
O insultuso acrónimo de PIGS é, na realidade, PIIGS. O outro "I" é de Irlanda.
ò Medina, toda a gente sabe isso. Como toda a gente percebeu a razão do Miguel Sousa Távares ter "esquecido" a Irlanda. Você é um debitador de vulgaridades. Não tem um carro qualquer para fotografar e mostrar ao seu sobrinho, o número dois da CML? Aquilo é que foi subir no partido. Parece o Passos ou o Seguro.
Há quem goste, há quem não goste e há quem tenha um pózinho ao MST.
Sabe-se que a genealogia tem muita importância no êxito de certas pessoas, mas, mesmo essas, podem merecê-lo ou não. Ou seja, embora bafejado pela fortuna o MST não me parece parvo nenhum. A hipótese que ele apresenta (sem alargamentos) parece-me tão possível como o caso da CEE/UE. Se pensarmos nas divergências que história nos mostra entre membros da UE, como Espanha/Portugal, Inglaterra/França, etc. poderemos concluir que as diferenças se ultrapassam desde que as vantagens o justifiquem. Haja boa fé. E o absurdo pode ser igual a um mais um são dois. Veja-se o caso da Nato. Qual é a semelhança entre a Turquia e os EUA ou Portugal? Se houver interesse comum tudo é possível. Assim haja vontade! As coisas complicam-se é quando uma ou mais partes interessadas nos acordos, uniões e pactos as faz com sofisma e "interesseirismo". E a inveja, pecado impossível na cooperação.
A NATO é uma aliança militar com fins defensivos, pelo que não exige qualquer outra afinidade do que uma comunhão de interesses sobre a segurança dos estados. Os membros da UE, em geral, partilham uma história, culturas, formas de governo e diversos valores civilizacionais fundamentais. Nada disso sucede entre os países Ibéricos e os países árabes. Aliás, acontece exactamente o oposto - são dois "blocos" nada comunicantes. Se na UE existem valores comuns, valores de comunidade, entre a Ibéria e a África acima do Saara, nada existe de comum, nada existe de comunidade - o Egipto não é um país Europeu, tal como Portugal não é um país Árabe. Porém, tudo isto é tão óbvio e tão fácil de perceber que a conclusão é só uma: não se trata de pó; trata-se de parvoíce. Conversa de taberna que, por pouca sorte a nossa, é publicado. Somos pobres, mas escusávamos ser miseráveis.
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