sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SOBRE O ELEVADOR ESPACIAL


O jornal I de hoje publica uma longa  e interessante reportagem sobre o projecto do elevador espacial, da autoria da jorhnalista Ana Kotowicz. eis as minhas respostas às questões que me foram colocadas e que, naturalmente, só apareceram em parte:

P- Precisamos realmente de elevadores espaciais?

R- Talvez. De facto, a descoberta do espaço já teve melhores dias e está a precisar de ideias novas. A subida para o espaço usando foguetes é muito cara e todas as alternativas devem ser examinadas .A ideia de estender um cabo desde o equador da Terra até um ponto de uma órbita geoestacionária, que rode com a Terra,   é visionária, mas não de todo impossível. A ideia ocorreu ao cientista russo Tsiokolvsky, que foi também um dos pais dos foguetes. Os foguetes já se fizeram, falta fazer o elevador. E ocorreu ao físico e escritor de ficção científica Artur Clarke, que foi também o autor da ideia de usar satélites em órbita geoestacionária, isto é, satélites que girem com a Terra, permanecendo sempre por cima do mesmo ponto da Terra.  Os satélites já se fizeram, falta fazer o elevador. Clarke, que viveu no Sri Lanka, colocou num seu romance, passado no século XXII,  o elevador espacial numa ilha com o nome de Taprobana, o nome que os portugueses deram ao Sri Lanka. Se Camões disse que os navegadores lusos chegaram "ainda além da Taprobana", Clarke queria que os novos exploradores fossem "acima da Taprobana"! Mas talvez fosse melhor colocar o elevador em S. Tomé e Príncipe, que tem um ilhéu por onde passa mesmo o equador, conforme mostraram os trabalhos geodésicos de Gago Coutinho. Proponho já um slogan: "Venha ao elevador espacial de S. Tomé: ver para crer!"

P- Dentro da comunidade científica, há várias vozes – por exemplo Michael Laine, da LiftPort, David Horn, do ISEC – que defendem que neste momento já temos tecnologia suficientemente avançada para construir um elevador na Lua. Concorda? E se sim, o que é que acha que ainda nos está a travar?

R- Sim, já devemos ter tecnologia para subir no espaço sem foguetes, mas ela é extremamente cara. Pelo menos dez mil milhões de dólares. Estaremos disposta a pagá-la? É como a ida a Marte: é possível tecnologicamente, mas estaremos dispostos a pagá-la? E entre o elevador espacial e a ida à Marte o que escolheríamos? A ida  à Lua só foi possível porque o presidente norte-americano fez uma escolha política e os norte-americanos aceitaram pagar o preço. Ora o elevador espacial ou a ida a Marte terão provavelmente de ser escolhas mundiais, da humanidade no seu conjunto, o que parece impossível por agora.

P-Já a Obayashi Corp garante que em 2050 vai ter um elevador especial pronto. Acredita que vão cumprir esta promessa?

R- Acho que ninguém consegue razoavelmente prever nada para 2050. Sei que há várias empresas na Terra a oferecerem a Lua ou quase, mas isso faz parte da sua estratégia de promoção.

P- Até que ponto é que a sua área de estudo mudaria com uma inovação deste género?

R- A possibilidade de ir ao espaço por menos dinheiro teria impacto em todas as áreas da ciência, designadamente pela possibilidade de fazer mais facilmente  experiências no espaço quue hoje são muito difíceis de realizar. E seria como o programa Apollo das viagens à Lua: o grande projecto do elevador espacial traria benefícios difíceis de prever, não apenas na ciência como na vida em geral.

P-  Serão os nanotubos de carbono. a grande esperança para o elevador espacial se tornar realidade?

R- Sim são. Esses materiais, que consistem de folhas de grafite enroladas, são extremamente resistentes à tracção, bastante mais que o aço. E o cabo do elevador espacial tem de ser extremamente resistente para suportar o seu próprio peso. Mas, mesmo dispondo de nanotubos, não é fácil, nem como disse barato, fazer o tal elevador, a que alguns chamam o "pé de feijão" da lenda inglesa do "João e o pé-de-feijão".  

P- Compraria um bilhete para a viagem inaugural?

R- Sim, gostava de ver a Terra por cima, de um sítio  mais alto que o de um avião, mas os primeiros bilhetes devem ser só para ricos, ou melhor superricos. Será só para gente como os actuais turistas espaciais. Mas deveria haver bilhetes para todas as bolsas: quem quisesse subir mais, pagaria mais. Um amigo meu a quem comentei essa possibilidade, respondeu-me que isso não seria nenhuma novidade, pois já hoje os ricos estão por cima e os pobres por baixo...  De qualquer modo, para subir até 35 000 km, a tal órbita geoestacionária, demoraria vários dias, mesmo que, numa cabina movida a lasers, se subisse a 200 km/h. É só fazer as contas....

P- Elevadores espaciais. Uma fantasia ou uma inevitabilidade?

R- Há fantasias que se tornam realidade. Quem diria no tempo de Kepler, no século XVII, astrónomo e autor de um conto de ficção científica que tem como tema a ida á Lua, que seria possível ir à Lua, como se foi no século XX? Ainda falta um século para a data prevista por Arthur Clarke. Não sei, talvez.

2 comentários:

perhaps disse...

Mesmo sendo fantasia...um elevador espacial é uma ideia bonita. Se um dia for realidade...cá estaremos para subir no pé de feijão. Na minha história o João é uma velhinha a quem o feijoeiro nasce à chaminé. E demora vários dias para chegar ao céu. Portanto, quem viaje no elevador, leva merenda. E talvez haja umas caminhas como nos comboios internacionais:))para não chegarmos ensonados, ficamos rabugentos e assim.

Cláudia da Silva Tomazi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...